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Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Vozes de Chernobyl

Book Stories, 16.06.20

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“Eu mudava aquele lençolzinho todos os dias e todos os dias ao fim da tarde ele estava coberto de sangue. Levanto-o e fico com pedaços da sua pele nas mãos, colam-se-me às mãos”

Liudmila Ignatenko, mulher do falecido bombeiro Vássili Ignatenko

 

*Este é dos primeiros testemunhos que lemos no livro. Todo o livro é um conjunto de testemunhos de pessoas que viviam nas imediações de Chernobyl. Pessoas que ficaram doentes, que viram os seus maridos e filhos morrerem. Mulheres que engravidaram e deram à luz crianças com deficiências que as levaram à morte e que, por medo, não voltaram a engravidar.

 

“Os robôs não resistiam, os meios técnicos enlouqueciam. Acontecia que o sangue corria dos ouvidos e do nariz. Arranhava na garganta. Uma sensação de areia nos olhos. Mas trabalhávamos bem e tínhamos muito orgulho disso”

Artiom Bakhtiyárov, praça

 

*Os chernobylianos, são assim conhecidas as pessoas afetadas pelo acidente nuclear, viram a sua vida mudar de uma forma trágica, sem que lhes tivessem dito a verdade: os riscos que implicava viver na ‘zona’, os riscos que comportava trabalhar naquele local para conter a tragédia. Sentiam-se heróis, mas não tinham noção do que lhes iria acontecer a breve trecho.

 

“A cada meia hora é preciso espremer-lhe a urina com as mãos, a urina é excretada através de orifícios pontilhados na região da vagina”

Larissa Z., mãe

 

*Milhares de crianças nasceram com profundas deficiências, como é o caso desta menina que nasceu sem o orifício do ânus e da vagina e sem um rim. A mãe vive para cuidar dela e a menina vive nos hospitais, a ser alvo de cirurgias frequentes.

 

“O mundo está dividido: existimos nos, chernobylianos e existem vocês, todas as outras pessoas”.

Nikolai Prókhorovitch Jarkov, professor

 

*E assim permanecerá durante várias gerações, pois os efeitos da radioatividade sentir-se-ão durante muitos e muitos anos. Estas pessoas, deslocadas, retiradas das suas casas para outras cidades vão ser sempre vistas como chernobylianas, como pessoas diferentes, seja física – por razões de doença – seja psicologicamente, pelos traumas que o acidente nuclear provocou.

 

“Tenho 12 anos. As raparigas da minha turma quando souberam que tinha cancro no sangue tinham medo de se sentar ao meu lado. De me tocar. Os médicos dizem que adoeci porque o meu pai trabalhou em chernobyl e eu nasci depois. Mas eu gosto do meu papá”

Uma menina de 12 anos, doente por causa da radiação

 

 

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Este é um livro muito duro, mas que todas as pessoas deveriam ler. As séries e filmes não mostram com a necessária crueza com que a autora Svetlana Alexievich o faz.

É muito triste ler como as pessoas sofreram. Como um acidente mudou para sempre milhares de vidas. Mas é mais triste ver ainda como o cidadão comum vale muito pouco para o Estado, que deveria ser o seu maior protetor. Muitos chernobylianos morreram porque o Comité Central não distribuiu máscaras de gás para… não provocar o pânico.

Homens, jovens, foram enviados para trabalhar no reator com a promessa de um bom salário. Pobres coitados. Não faziam ideia o que lhes estava a acontecer e as autoridades não lhes contavam. Ficaram sem saúde e sem as prometidas recompensas.

E aqueles que levantassem questões sobre a perigosidade da missão eram ameaçados.

A Rússia simplesmente voltou as costas aos seus cidadãos.

Uma vergonha.

Uma miséria.

📖

☝️ Pontos Positivos: Dar a conhecer as vozes de quem vive sem voz e a quem ninguém preocupa. Ter a perceção como as autoridades foram insuficientes, incapazes, incompetentes e egoístas. Preocuparam-se mais com a reputação da URSS do que com os seus habitantes, o que resultou na morte de milhares de pessoas.

👇 Pontos Negativos: Não tem

Avaliação: Não vou avaliar porque não se trata de uma obra de ficção, mais ou menos real. Trata-se de testemunhos verdadeiros, honestos e crus.

 

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