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Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

'Uma conversa sobre a vida do Zé' é uma crítica a rir à sociedade portuguesa

Book Stories, 10.11.20

Castanhos Quentes Citação Inspiradora Outono Pos

 

O livro 'Uma conversa sobre a vida do Zé' foi publicado em 2019 pelo próprio autor Bruno Neto através da Amazon Fulfillment.

 

Sinopse:

Uma década depois da tragédia ferroviária de 98, surge então novamente nos meios de comunicação social o lesado da situação para expor toda a veracidade do ocorrido no assalto à estação de Campanhã e de que maneira o processo fora tratado pela sociedade portuguesa.

 

* Não posso começar esta review sem referir a amabilidade do autor, Bruno Neto, que gentilmente me ofereceu um exemplar do seu livro e, por isso, lhe deixo aqui um muito obrigada pela disponibilidade e confiança na minha análise à obra e, ao mesmo tempo, os meus parabéns pela história desenvolvida.

 

Opinião:

O título despertou logo a minha curiosidade e as primeiras páginas mais ainda. O livro fala sobre um acidente ferroviário nos anos 90, em Portugal, que fez vítimas mortais e que ocorreu depois de um assalto à bilheteira da estação da Campanhã.

Até aqui a minha curiosidade está ‘au point’, como se costuma dizer. Mas confesso que a leitura me cansou. O Zé – que na verdade se chama Jaselino – é um homem rude que para dizer que almoçou um bitoque conta a história da vaca e de quantas toneladas de batatas se produzem em Portugal anualmente.

A personagem Jin Quon Young, o advogado que é comentador no programa televisivo, é desagradável com a sua forma de falar e os comentários despropositados que faz. Presumo que seja uma personagem-crítica do que vemos atualmente na televisão nacional nos programas da manhã, mas ainda assim é-lhe dado demasiado tempo de antena, até porque, não várias vezes se envolve em discussões com o Jaselino.

 

 

Política | O Crepúsculo da Democracia - Billboard2

 

As críticas à sociedade portuguesa

O Zé foi convidado para ir a um programa de TV contar a sua história, uma estação de televisão local que está prestes a ser encerrada, sendo esta entrevista – que na verdade são cinco dias de entrevista – uma ótima forma de criticar o que hoje em dia se passa com a comunicação social: programas desinteressantes, falta de dinheiro e, por isso, uma consequente escravatura dos seus profissionais.

Ponto para o autor por ter feito esta crítica que, em bom rigor, não foi a única.

Também a sociedade no geral é alvo da escrita afiada de Bruno Neto que, através do Zé, refere que “em Portugal resume-se tudo a duas coisas: “falta de eficiência e forrobodó”. E ainda há disparos na direção da justiça: “O que é que a justiça está a fazer quando precisamos dela? Burocracia em demasia e desorganizada, pouca cooperação entre os membros e lentos na execução dos planos”.

Há também a crítica à forma como está estruturado o mercado de trabalho: “O número de horas que dediquei ao trabalho para o tão pouco que recebi acho absurdo”. Se nos anos 90 era assim, a verdade é que agora as coisas não só não estão melhores, como pioraram, infelizmente.

Toda esta reflexão sobre Portugal é-nos dada pelo Zé, uma personagem caricata que, apesar da sua personalidade algo rude nos mostra também o seu lado mais humano e romântico. A sua paixão pela Cidália chega a ser enternecedora: um amor que foi interrompido por circunstâncias da vida, o que acabou por o levar até ao mundo das drogas. No entanto, o Zé conseguiu vencer a batalha da toxicodependência e a sua relação com Cidália acabou por ser reatada, tendo sido alvo de vários percalços.

O final

Sou obrigada a tirar o chapéu ao autor, porque o final é surpreendente. A reviravolta é inesperada e fez-me parar para me questionar: “o que é que se está aqui a passar?”.

O final é, sem dúvida, o melhor do livro. No entanto, podia ter sido mais bem trabalhado, pois foi muito rápido, deixando alguns pontos por explicar.

Sendo, na minha ótica, a parte mais interessante do livro, exigia uma maior atenção e explicação, especialmente tendo em conta o número de páginas que foi dedicado à vida do Zé que tornou a leitura cansativa e desinteressante (passei algumas páginas à frente). E este é o grande ponto negativo que atribuo a esta obra: a história é muito interessante e por vezes até divertida, mas os longos monólogos do Zé a contar detalhes da sua vida que para o desenrolar da ação não tinham importância e ainda as discussões com o advogado (algumas fizeram-me rir, confesso) serviram apenas para encher páginas e desmotivar um pouco a leitura.

Ainda sobre o final, fiquei com algumas questões por esclarecer, dúvidas que são fruto da forma abrupta como a história acaba.

Tenho ainda de apontar a existência de várias gralhas e alguns erros ortográficos, mas também compreendo que tal tenha acontecido porque o livro não foi publicado por nenhuma editora.

Mas no geral é uma comédia sarcástica agradável, divertida e que, realmente, só peca pelo excesso de páginas.

 

📖

☝️ Pontos Positivos: A reviravolta na história que nos proporciona um final inesperado; a ausência dos típicos clichês fáceis usados por muitos autores em início de carreira

👇 Pontos Negativos: Demasiados pormenores da vida do Zé desnecessários; as gralhas e os erros ortográficos

⭐ Avaliação: 3 estrelas 

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