Uma história de amor e de violência doméstica em 'Isto Acaba Aqui'
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Há muito tempo que não lia um livro de uma só vez e foi o que aconteceu com ‘Isto acaba aqui’ da Colleen Hoover. E mais: durante os dias seguintes pensei várias vezes nas personagens, nas suas escolhas, no rumo que as suas vidas levaram, tentando encontrar o ponto de retorno como se fosse possível reescrever as palavras da autora.
É um livro envolvente com uma história que cativa mais e mais a cada página que viramos, tornando impossível parar de ler.
O início da história é delicioso. A forma como a Lily e o Riley se conhecem é engraçada, mas ao mesmo tempo séria e profunda. E como não nos apaixonarmos por ele?
E esse foi exatamente o problema. A forma como a Colleen constrói a história leva a que também a leitora se apaixone por aquele homem para, mais à frente, ficarmos com o coração partido, mas sem que o consigamos odiar (pelo menos eu não consegui).
Sim, da primeira vez torci para que Lily o perdoasse, mas a partir daí já não fui capaz de o fazer, embora me tivesse despedaçado o coração o facto de o Riley ser uma pessoa com todos aqueles problemas psicológicos e, sobretudo, problemas de controlo da raiva.
Isto fez-me pensar como a saúde mental, ou no caso a falta dela, pode transformar por completo uma pessoa ao ponto de acabar por perder a família e o amor da sua vida. E, se por um lado, ele é um agressor, por outro lado é uma pessoa genuinamente boa que, infelizmente, a vida moldou da pior forma.
Dir-me-ão: muitas pessoas têm traumas e não se tornam violentas. É verdade e concordo plenamente. Para mim o que diferencia o Riley do outro tipo de agressores é o facto de não o fazer por convicção, por vingança ou por ser genuinamente má pessoa. É um agressor e deve sofrer as consequências dos seus atos, mas isso não me impede de sentir compaixão por ele!
Interessante é também a forma como a Colleen nos apresenta Atlas, inserindo-o pouco a pouco na narrativa para que nos cative e nos enamore. Apesar de simpatizar com a história dele e com as suas conquistas apesar dos problemas da juventude, não me apaixonou.
Percebo a intenção da autora: o passado e o presente; os caminhos diferentes que alguém traumatizado pode seguir, mas achei-o demasiado perfeito e aqueles serões na casa dele com os amigos que ela tinha acabado de conhecer só me deram vontade de passar páginas à frente.
O final não é surpreendente e isso foi o que menos gostei no livro. Ainda assim, a autora merece o elogio por ter escrito uma obra que fala de um tema sério e gravíssimo, conseguindo dar-lhe alguma ligeireza para aliviar a leitura.
No meu entender, mais do que a história de amor cliché, este é o grande ativo do livro: a capacidade de contar uma história séria, que é vivenciada por milhões de mulheres em todo o mundo, de uma forma leve – e pesada nos momentos certos – para assim manter o leitor preso às páginas fazendo-o chegar à conclusão: a violência não tem desculpa e não é, nem nunca pode ser, uma forma de estar na vida, tal como não é, de forma alguma, amor pelo outro.
✅ A escrita inteligente que permite agarrar o leitor até à última página, dando-lhe uma lição de vida sem que o próprio se esteja a aperceber
❌ O final expectável a partir de muito cedo
⭐ 4