Na ‘Biblioteca da Meia-Noite’ as segundas hipóteses podem salvar vidas
O autor bestseller New York Times, Sunday Times e Amazon, Matt Haig, traz-nos uma história delicada e cheia de mensagens em ‘A Biblioteca da Meia-Noite’.
Quando começamos a ler, o nosso coração enche-se de piedade por Nora Seed, uma mulher na casa dos 30 que vive a braços com uma depressão. Vive sozinha, com o seu gato e todas as suas relações, sejam pessoais, familiares ou profissionais, desaguam em mágoa e frustração.
Nora sente-se perdida, como se não houvesse mais mundo para si: foi despedida do seu trabalho, não tem amigos, os pais morreram, o irmão não lhe fala, a sua melhor amiga vive do outro lado do mundo na Austrália, o seu gato morreu e também não tem namorado.
É a morte do seu gato Voltaire – que carinhosamente chama de Volts – que é o gatilho para o fim da sua vida. Nora sente que sem o Volts está totalmente sozinha no mundo e, não tendo qualquer perspetiva, nem vontade, de futuro, a personagem principal deste livro magnífico tenta colocar termo à vida.
A partir daqui, Nora entra naquilo que podemos chamar de limbo: está clinicamente entre a vida e a morte, mas o seu espírito ou a sua alma ou só os seus pensamentos – isto deixo ao critério das crenças de cada um – está bastante vivo numa biblioteca que só existe no inconsciente de Nora.
É lá que reencontra a sua querida bibliotecária da escola que frequentou enquanto miúda, a senhora Elm, e que sempre lhe deu conselhos sábios.
E é na Biblioteca da Meia-Noite que encontra os livros que fazem parte da sua vida, ou melhor, das suas infinitas vidas.
Nora viveu a vida sempre sob pressão. Sob a pressão de um pai que queria que a filha fosse uma campeã olímpica, sobre a pressão de, no seu íntimo, sentir que a mãe sempre preferiu o irmão, sob a pressão de ter desiludido a família com as suas escolhas – especialmente o irmão com quem cuja relação se perdeu devido ao fim de uma banda.
Na biblioteca da meia-noite, Nora é convidada a abrir o livro dos arrependimentos, porque é necessário fechar capítulos para que a jovem mulher possa compreender as diversas dinâmicas que uma só vida pode ter.
A missão não é fácil. Nora sente a dor de reviver determinados momentos, de dizer determinadas coisas e de reviver determinados sentimentos.
Depois chega o momento de a jovem viver as vidas que não viveu e que quis, ou que achou que quis, viver. Assim, Nora vive a vida de uma conceituada campeã olímpica, de uma mulher casada (com o homem com o qual terminou o noivado dois dias antes do casamento), de uma exploradora glacial em Svalbard (um recanto glaciar na Noruega), de uma jovem ‘cool’ na Austrália, de uma mulher com um marido de sonho numa paisagem de vinhas também ela de sonho e, por fim, casada com um homem com quem tem uma filha.
Em nenhuma destas vidas Nora quis efetivamente ficar, porque a determinado momento se sentia desiludida com elas.
Mas afinal, onde estava a sua vida perfeita?
Esta é a grande mensagem que este livro nos transmite: não há vidas perfeitas. Há vidas com momentos bons e com momentos maus; com pessoas boas e com pessoas más; com momentos de alegria e com outros de dor; com sucesso profissional ou sucesso familiar – por vezes em simultâneo.
Mas sobretudo todos temos uma vida. Uma vida que é construída com base nas nossas escolhas, sejam elas boas ou más; uma vida que vale a pena viver, por mais difícil que o momento seja.
A vida é para ser vivida e não para ser terminada antes de chegar verdadeiramente o seu fim.
Quanto a Nora, foi preciso passar por todas as vidas possíveis e imaginárias para decidir que queria, afinal, viver!
✅ As peripécias divertidas por que Nora passa para, finalmente, encontrar o seu caminho e, acima de tudo, a mensagem que o livro transmite: força e esperança
❌ Absolutamente nenhum
⭐ 5