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Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Na ‘Biblioteca da Meia-Noite’ as segundas hipóteses podem salvar vidas

Book Stories, 28.03.23

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O autor bestseller New York Times, Sunday Times e Amazon, Matt Haig, traz-nos uma história delicada e cheia de mensagens em ‘A Biblioteca da Meia-Noite’.

Quando começamos a ler, o nosso coração enche-se de piedade por Nora Seed, uma mulher na casa dos 30 que vive a braços com uma depressão. Vive sozinha, com o seu gato e todas as suas relações, sejam pessoais, familiares ou profissionais, desaguam em mágoa e frustração.

Nora sente-se perdida, como se não houvesse mais mundo para si: foi despedida do seu trabalho, não tem amigos, os pais morreram, o irmão não lhe fala, a sua melhor amiga vive do outro lado do mundo na Austrália, o seu gato morreu e também não tem namorado.

É a morte do seu gato Voltaire – que carinhosamente chama de Volts – que é o gatilho para o fim da sua vida. Nora sente que sem o Volts está totalmente sozinha no mundo e, não tendo qualquer perspetiva, nem vontade, de futuro, a personagem principal deste livro magnífico tenta colocar termo à vida.

A partir daqui, Nora entra naquilo que podemos chamar de limbo: está clinicamente entre a vida e a morte, mas o seu espírito ou a sua alma ou só os seus pensamentos – isto deixo ao critério das crenças de cada um – está bastante vivo numa biblioteca que só existe no inconsciente de Nora.

É lá que reencontra a sua querida bibliotecária da escola que frequentou enquanto miúda, a senhora Elm, e que sempre lhe deu conselhos sábios.

E é na Biblioteca da Meia-Noite que encontra os livros que fazem parte da sua vida, ou melhor, das suas infinitas vidas.

Nora viveu a vida sempre sob pressão. Sob a pressão de um pai que queria que a filha fosse uma campeã olímpica, sobre a pressão de, no seu íntimo, sentir que a mãe sempre preferiu o irmão, sob a pressão de ter desiludido a família com as suas escolhas – especialmente o irmão com quem cuja relação se perdeu devido ao fim de uma banda.

Na biblioteca da meia-noite, Nora é convidada a abrir o livro dos arrependimentos, porque é necessário fechar capítulos para que a jovem mulher possa compreender as diversas dinâmicas que uma só vida pode ter.

A missão não é fácil. Nora sente a dor de reviver determinados momentos, de dizer determinadas coisas e de reviver determinados sentimentos.

Depois chega o momento de a jovem viver as vidas que não viveu e que quis, ou que achou que quis, viver. Assim, Nora vive a vida de uma conceituada campeã olímpica, de uma mulher casada (com o homem com o qual terminou o noivado dois dias antes do casamento), de uma exploradora glacial em Svalbard (um recanto glaciar na Noruega), de uma jovem ‘cool’ na Austrália, de uma mulher com um marido de sonho numa paisagem de vinhas também ela de sonho e, por fim, casada com um homem com quem tem uma filha.

Em nenhuma destas vidas Nora quis efetivamente ficar, porque a determinado momento se sentia desiludida com elas.

Mas afinal, onde estava a sua vida perfeita?

Esta é a grande mensagem que este livro nos transmite: não há vidas perfeitas. Há vidas com momentos bons e com momentos maus; com pessoas boas e com pessoas más; com momentos de alegria e com outros de dor; com sucesso profissional ou sucesso familiar – por vezes em simultâneo.

Mas sobretudo todos temos uma vida. Uma vida que é construída com base nas nossas escolhas, sejam elas boas ou más; uma vida que vale a pena viver, por mais difícil que o momento seja.

A vida é para ser vivida e não para ser terminada antes de chegar verdadeiramente o seu fim.

Quanto a Nora, foi preciso passar por todas as vidas possíveis e imaginárias para decidir que queria, afinal, viver!

 

✅ As peripécias divertidas por que Nora passa para, finalmente, encontrar o seu caminho e, acima de tudo, a mensagem que o livro transmite: força e esperança

❌ Absolutamente nenhum

⭐ 5

 

 

 

Três mulheres que a história imortalizou. Três livros que deve ler no Dia da Mulher

Book Stories, 08.03.23

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Muitas mulheres houve ao longo da história que tiveram um papel importante no decurso da vida política, no desenvolvimento de um país e na vida em sociedade.

Seriam precisas centenas de páginas para contar a história de todas e de cada uma delas de tão importantes que foram.

No entanto, para aguçar a curiosidade deixo-vos com três livros que contam a história de três mulheres com quem simpatizo particularmente por aquilo que foram, por aquilo que quiseram ser e por aquilo que não puderam ser!

 

📖 ‘D. Maria II’, da autora portuguesa Isabel Stilwell, é uma obra fantástica. Não só nos dá a conhecer o contexto histórico em que D. Maria nasceu, cresceu, reinou e morreu, como nos dá um belo vislumbre do que sente uma menina que nasceu para ser rainha, mas que perdeu a mãe muito nova e desde cedo se viu envolvida em negócios e interesses políticos e traições. D. Maria II, rainha de Portugal, nasceu no Brasil e ainda menina atravessou o Oceano Atlântico para assumir a coroa portuguesa depois de o seu pai, D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil, ter abdicado do trono em seu favor. D. Maria esteve prometida ao seu tio, mas o enlace não se concretizou. Casou e enviuvou em apenas dois meses, acabando por casar em segundas núpcias com aquele que viria a ser o rei-consorte, D. Fernando, tendo um total de 11 filhos (quatro nasceram sem vida). Morreu com 34 anos, ao dar à luz o seu 11º filho, tendo deixado um legado na Educação em Portugal.

 

📖 ‘Madre Paula’ foi uma das poucas religiosas cujo nome ecoa apesar das centenas de anos que já passaram da sua morte. Paula entrou para o Convento de Odivelas ainda jovem porque o pai não a conseguia sustentar. Contra a sua vontade, Paula foi obrigada a fazer os votos de castidade e pobreza, mas, ironicamente, não cumpriu nenhum dos dois mesmo vivendo no convento. Além de freira, Paula foi, acima de tudo – e é por isso que é hoje conhecida – o grande amor do rei D. João V de Portugal. Durante mais de uma década, o rei manteve-a no convento como sua amante, dando-lhe roupas, joias e transformando os seus aposentos modestos em principescos. Da relação nasceu um menino, D. José de Bragança, que se viria a tornar Inquisidor Geral. D. João V nunca escondeu da corte – e da rainha – a sua preferência e o seu amor por Paula em quem tinha, mais do que uma amante, uma confidente e conselheira. A história, que já deu origem a uma série da RTP, é-nos contada em livro pela autora Patrícia Müller.

📖 ‘A Mulher de Einstein’, de Marie Benedict, conta-nos a história de Mileva Maric, a primeira mulher do famoso Albert Einstein. O casal conheceu-se numa universidade de Zurique em 1896 quando estudavam Física. Mileva era a única mulher do curso, mas isso não a impediu de ser uma aluna brilhante. Mileva e Albert casaram e tiveram três filhos e, apesar das dificuldades que teve de enfrentar, Mileva nunca deixou de pensar Física e, inclusivamente, ajudou o marido a investigar e a construir a teoria da relatividade. Infelizmente, Mileva não conseguiu acabar o curso devido aos seus afazeres domésticos e, por essa razão, o seu nome não consta no grande artigo científico que catapultou Einstein para a fama. Este, por seu lado, ficou com todos os louros de um trabalho que não foi só seu, algo que nunca o incomodou.

 

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