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Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Um retrato de Rasputine por quem teve o (des)prazer de o conhecer

Book Stories, 24.03.23

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Rasputine – o fim da grande Rússia e a queda dos Romanov’, editado em Portugal pela Alma dos Livros, é uma leitura bastante interessante do ponto de vista histórico. Não só porque relata a vida de uma das personagens mais misteriosas da história recente da Rússia, como é escrito por uma princesa que teve oportunidade de conviver com Grigori Yefimovich Rasputine.

Para quem nunca tenha ouvido falar de Rasputine, que nasceu em 1869 e morreu em 1916, este foi um camponês de origens humildes que, através da sua astúcia, se conseguiu transformar num dos homens mais temidos e influentes do Império Russo.

Rasputine valeu-se da religião fervorosa do povo e da ambição dos nobres para se transformar num ídolo, garantindo ter premonições, o que lhe permitiu criar uma seita. E desenganem-se se pensam que apenas os pobres e analfabetos sem qualquer conhecimento seguiram este homem.

Ao contrário do que seria de esperar, homens e mulheres da alta sociedade caíram no conto do vigário e, pior, foram eles que alimentaram a lenda durante anos, o que permitiu a Rasputine frequentar os mesmos espaços da elite, construindo, desta forma, importantes alianças.

Graças a estas alianças, Rasputine aproximou-se da família imperial. O facto de o filho dos czares ter uma saúde débil e tendo em conta a reputação de milagreiro que o monge alcançou com a ajuda dos seus seguidores, Rasputine tornou-se numa presença assídua junto da czarina.

Aliás, esta aproximação valeu mesmo a criação de rumores de que Rasputine seria amante da czarina e que tinha o poder de influenciar as decisões políticas do czar – o que segundo a autora não corresponde à verdade.

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E se foi este último boato que fez do monge de origens humildes bastante rico – devido aos favores que cobrava em troca de falsos conselhos dados ao czar – foi também este boato que lhe fez chegar a morte mais cedo, pois deu origem a vários ódios e invejas.

Neste livro, a autora, a princesa Catherine Radziwill, desmonta a lenda de Rasputine com quem conversou pessoalmente. A convite de um jornal-norte americano, a autora reuniu-se com Rasputine para tentar perceber que homem era aquele cuja fama já havia ultrapassado as fronteiras do Império Russo.

Catherine descreve-o como um “mougik russo vulgar, mal-educado e sujo, desprovido de honestidade e de escrúpulos” que “contaminava todos aqueles nos quais tocava”. A sua aparência somada à sua personalidade e ao facto de ser conhecida a existência de orgias na sua casa, chocaram a autora. Não pelos factos isolados em si, mas porque apesar de todo este conjunto, homens de poder e mulheres de religião “se prostravam” perante ele, implorando por favores.

A autora conta um episódio a que assistiu e no qual viu uma mulher beijar os pés de Rasputine, apenas porque este assim o ordenou. E como esta mulher, tantas outras e tantos outros de todos os estratos sociais, se submeteram a todo o tipo de ordens, mesmo que não fizessem qualquer sentido.

Catherine, que foi uma notável aristocrata russo-polaca, conta que quando viu pela primeira vez “o ‘Profeta’ [assim era conhecido] não me pareceu o indivíduo notável que eu esperava”.

“Era alto e magro, com uma longa barba e cabelos pretos (…), os olhos eram negros com uma expressão singularmente astuta. As mãos eram a coisa mais notável no homem. Eram compridas e finas, com unhas enormes e o mais sujas possível”.

Para quem gosta de história, este é um livro que vale a pena. Permite-nos conhecer melhor a personagem e o modo de pensar do início do século XX, bem como todo o contexto político e social da época que permitiram a ascensão de um monge pobre, sem maneiras e sem educação e a sua consequente queda.

 

✅ O testemunho na primeira pessoa de quem acompanhou aqueles anos e de quem conheceu e conversou com Rasputine 

❌ Não me ocorre nenhum

⭐ 4,5

 

 

 

Com 'A Biblioteca de Estaline' ficará a conhecer melhor o sanguinário ditador russo

Book Stories, 02.03.23

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Chega hoje às livrarias nacionais 'A Biblioteca de Estaline', uma obra que nos ajuda a compreender melhor quem era e como pensava Josef Stalin, mais conhecido apenas por Estaline.

Um dos mais sanguinários ditadores do século XX não tinha diários, não escreveu memórias, mas era detentor de uma considerável coleção de livros.

Os milhares de livros que reuniu estão profusamente anotados. Talvez essas notas não desvendem a alma do tirano sanguinário, mas revelam o modo como viu o mundo.

Quando se assinalam os 70 anos da morte de Estaline, esta obra publicada em Portugal pela Livros Zigurate, permite ao leitor mergulhar na mente de um dos mais maldosos tiranos do século XX.

O legado de Estaline caiu em desgraça com a ascensão ao poder de Kruschev. Nessa altura os milhares de livros que Estaline leu e anotou metodicamente foram dispersos por várias bibliotecas.

Descoberto e reunido no período pós-soviético, esse acervo veio a revelar-se o melhor meio para se ter acesso à vida interior do ditador - a chave para a personalidade que fez do seu regime algo de tão monstruoso.

É na sua biblioteca pessoal, na forma como ele leu, assinalou e anotou os seus livros, que conseguimos chegar verdadeiramente perto do Estaline espontâneo - o intelectual imerso nos seus próprios pensamentos.

 

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Italo Calvino traz-nos reflexões importantes em ’Os Amores Difíceis’

Book Stories, 26.02.23

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Os Amores Difíceis’, livro publicado em Portugal pela D. Quixote, é um conjunto de pequenos contos que Italo Calvino, um dos mais importantes escritores italianos do século XX, nos traz de uma forma breve, mas profunda e honesta.

O interessante deste livro é que episódios que podemos caracterizar como vulgares são capazes de explorar o mais profundo sentimento dos seus protagonistas e leva o leitor a uma reflexão muito honesta do seu próprio ‘eu’.

Se todos os contos me encantaram? Nem por isso. Talvez eu não tenha conseguido alcançar a mensagem subjacente que estava a ser transmitida pelo autor. Ou talvez não houvesse efetivamente uma mensagem para passar e fosse apenas um constatar de uma situação que pode acontecer a qualquer pessoa.

O livro conta-nos 13 histórias vividas entre os anos de 1949 e 1967, cujos títulos começam todos da mesma forma: “a aventura de…”.

Os meus contos preferidos foram os de uma banhista, de um fotógrafo, de um leitor, de um míope e de um automobilista.

Todos eles nos obrigam a uma reflexão sobre os mais diversos sentimentos, desde o embaraço que o nosso próprio corpo nos pode provocar, ao desejo de ter algo que é inalcançável, passando pelo arrependimento de uma discussão em casal ou pela tão conhecida e adorada zona de conforto que todos temos e que poucos têm a coragem de abandonar.

Como se sente uma pessoa perante a sua própria nudez? Como se sente alguém que discute com a sua cara-metade e se arrepende do que disse? Como se sente uma pessoa que vive numa eterna busca do perfeito, não conseguindo ver que essa perfeição não existe e que essa busca só levará a perda e a um constante sentimento de fracasso?

Gostei muito deste livro e gosto bastante do autor e da sua forma de escrever: por vezes simples, por vezes complexa. Aconselho vivamente!

 

 Diferentes episódios da vida quotidiana que podem acontecer a qualquer pessoa e que nos levam a uma reflexão sobe nós próprios 

 Algumas históricas pareceram-me muito irrealistas, como a 'aventura de um soldado'

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Conheça a história de seis mulheres que se arriscaram para estar na linha da frente da II Guerra Mundial

Book Stories, 22.02.23

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A Casa das Letras editou ontem, 21 de fevereiro, 'As Enviadas Especiais', biografia de seis mulheres extraordinárias que estiveram na linha da frente na II Guerra Mundial.

Entre 1939-1945, os jornalistas cobriam os acontecimentos no teatro das operações e as poucas mulheres que por lá andavam travavam também a sua própria batalha.

Lutavam pelo direito a trabalhar em igualdade de condições com os homens e serviam-se de doses invulgares de bravura, determinação e criatividade para vencer restrições e combater preconceitos.

'As Enviadas Especiais' conta as histórias heróicas e recheadas de peripécias de seis dessas extraordinárias pioneiras:

  • Martha Gellhorn conseguiu a ‘cacha’ do Dia D – foi a única mulher a desembarcar em Omaha Beach disfarçada de enfermeira - para grande irritação do marido, o escritor Ernest Hemingway, depois de viajar clandestina num navio da Cruz Vermelha. Tal como quando foi dos primeiros jornalistas a entrar num campo de extermínio nazi.
  • Lee Miller foi uma deslumbrante modelo da Vogue que se tornou correspondente de guerra e fez questão de conhecer o apartamento de Hitler em Munique após a derrota germânica.
  • Sigrid Schultz escondeu a ascendência judia, arriscando a própria vida, para denunciar as atrocidades nazis, fazendo reportagens na Alemanha e denunciando ao mundo os planos do III Reich.
  • Virginia Cowles foi uma jornalista cor-de rosa que percorreu os campos de batalha da Guerra Civil de Espanha
  • Clare Hollingworth acabou por ser a autora do 'furo do século' depois de noticiar em primeira mão o início da guerra na fronteira da Alemanha com a Polónia.
  • Helen Kirkpatrick esteve nos bombardeamentos de Londres, na invasão de Itália e na libertação de Paris, tendo sido a primeira repórter a conseguir os mesmos direitos que os homens numa zona de combate controlada pelos Aliados.

Entre relatos de uma época trágica e episódios mundanos, envolvendo paixões amorosas, encontros com celebridades e outros reflexos da normalidade possível numa Europa virada do avesso, este é um retrato simultaneamente dramático e colorido de seis mulheres corajosas que, contra todas as convenções, arriscaram a vida para testemunhar o conflito mais devastador do século XX.

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