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Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

'A Casa dos Galos' é uma narrativa guardiã da memória

Book Stories, 26.04.23

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"A apaixonante história de uma família ao longo de quatro gerações. Uma maravilha", afiança a revista The Bookseller sobre 'A Casa dos Galos'.

Livro de memórias e romance com traços de policial, a obra de Victoria Belim é uma viagem envolvente à complexa história de um país. O título evoca o majestoso edifício que durante décadas serviu de sede dos serviços secretos e onde ainda permanecem os temíveis arquivos do KGB.

A autora recorda-se bem do terror que a bisavó sentia só de pensar em percorrer aquela rua. Agora, Victoria Belim atreve-se a penetrar numa densa teia de segredos, omissões, calúnias e receios para desvendar um mistério familiar com mais de 90 anos.

Em 2014, os marcos da geografia pessoal de Victoria Belim sucumbem às mãos da Rússia. A sua cidade natal, Kiev, é dominada por protestos e alvo de repressão violenta.

A Crimeia, para onde Victoria fora mandada estudar a fim de evitar a radiação do desastre nuclear de Chernobyl, foi invadida. Kharkov, onde a sua avó Valentina estudou Economia e se apaixonou; Donetsk, onde o seu pai trabalhou; e Mariupol, onde ela e a mãe compraram uma cerejeira para plantar no jardim, tornaram-se campos de batalha.

Em plena guerra, e mesmo tendo-se naturalizado cidadã americana, Victoria Belim – então a viver em Bruxelas – regressa ao país de origem para conhecer mais profundamente as suas raízes e investigar o desaparecimento de um tio-avô durante a década de 1930.

O que lhe aconteceu, por que motivo sabem tão pouco sobre ele e porque é que a avó, Valentina, a avisa de que nunca é boa ideia perturbar o silêncio do passado?

Leitura compulsiva e comovente, 'A Casa dos Galos' conta a história de uma família e do passado de um país, mas é, sobretudo, a narrativa lúcida do seu perigoso presente.

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Um retrato de Rasputine por quem teve o (des)prazer de o conhecer

Book Stories, 24.03.23

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Rasputine – o fim da grande Rússia e a queda dos Romanov’, editado em Portugal pela Alma dos Livros, é uma leitura bastante interessante do ponto de vista histórico. Não só porque relata a vida de uma das personagens mais misteriosas da história recente da Rússia, como é escrito por uma princesa que teve oportunidade de conviver com Grigori Yefimovich Rasputine.

Para quem nunca tenha ouvido falar de Rasputine, que nasceu em 1869 e morreu em 1916, este foi um camponês de origens humildes que, através da sua astúcia, se conseguiu transformar num dos homens mais temidos e influentes do Império Russo.

Rasputine valeu-se da religião fervorosa do povo e da ambição dos nobres para se transformar num ídolo, garantindo ter premonições, o que lhe permitiu criar uma seita. E desenganem-se se pensam que apenas os pobres e analfabetos sem qualquer conhecimento seguiram este homem.

Ao contrário do que seria de esperar, homens e mulheres da alta sociedade caíram no conto do vigário e, pior, foram eles que alimentaram a lenda durante anos, o que permitiu a Rasputine frequentar os mesmos espaços da elite, construindo, desta forma, importantes alianças.

Graças a estas alianças, Rasputine aproximou-se da família imperial. O facto de o filho dos czares ter uma saúde débil e tendo em conta a reputação de milagreiro que o monge alcançou com a ajuda dos seus seguidores, Rasputine tornou-se numa presença assídua junto da czarina.

Aliás, esta aproximação valeu mesmo a criação de rumores de que Rasputine seria amante da czarina e que tinha o poder de influenciar as decisões políticas do czar – o que segundo a autora não corresponde à verdade.

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E se foi este último boato que fez do monge de origens humildes bastante rico – devido aos favores que cobrava em troca de falsos conselhos dados ao czar – foi também este boato que lhe fez chegar a morte mais cedo, pois deu origem a vários ódios e invejas.

Neste livro, a autora, a princesa Catherine Radziwill, desmonta a lenda de Rasputine com quem conversou pessoalmente. A convite de um jornal-norte americano, a autora reuniu-se com Rasputine para tentar perceber que homem era aquele cuja fama já havia ultrapassado as fronteiras do Império Russo.

Catherine descreve-o como um “mougik russo vulgar, mal-educado e sujo, desprovido de honestidade e de escrúpulos” que “contaminava todos aqueles nos quais tocava”. A sua aparência somada à sua personalidade e ao facto de ser conhecida a existência de orgias na sua casa, chocaram a autora. Não pelos factos isolados em si, mas porque apesar de todo este conjunto, homens de poder e mulheres de religião “se prostravam” perante ele, implorando por favores.

A autora conta um episódio a que assistiu e no qual viu uma mulher beijar os pés de Rasputine, apenas porque este assim o ordenou. E como esta mulher, tantas outras e tantos outros de todos os estratos sociais, se submeteram a todo o tipo de ordens, mesmo que não fizessem qualquer sentido.

Catherine, que foi uma notável aristocrata russo-polaca, conta que quando viu pela primeira vez “o ‘Profeta’ [assim era conhecido] não me pareceu o indivíduo notável que eu esperava”.

“Era alto e magro, com uma longa barba e cabelos pretos (…), os olhos eram negros com uma expressão singularmente astuta. As mãos eram a coisa mais notável no homem. Eram compridas e finas, com unhas enormes e o mais sujas possível”.

Para quem gosta de história, este é um livro que vale a pena. Permite-nos conhecer melhor a personagem e o modo de pensar do início do século XX, bem como todo o contexto político e social da época que permitiram a ascensão de um monge pobre, sem maneiras e sem educação e a sua consequente queda.

 

✅ O testemunho na primeira pessoa de quem acompanhou aqueles anos e de quem conheceu e conversou com Rasputine 

❌ Não me ocorre nenhum

⭐ 4,5