‘Rasputine – o fim da grande Rússia e a queda dos Romanov’, editado em Portugal pela Alma dos Livros, é uma leitura bastante interessante do ponto de vista histórico. Não só porque relata a vida de uma das personagens mais misteriosas da história recente da Rússia, como é escrito por uma princesa que teve oportunidade de conviver com Grigori Yefimovich Rasputine.
Para quem nunca tenha ouvido falar de Rasputine, que nasceu em 1869 e morreu em 1916, este foi um camponês de origens humildes que, através da sua astúcia, se conseguiu transformar num dos homens mais temidos e influentes do Império Russo.
Rasputine valeu-se da religião fervorosa do povo e da ambição dos nobres para se transformar num ídolo, garantindo ter premonições, o que lhe permitiu criar uma seita. E desenganem-se se pensam que apenas os pobres e analfabetos sem qualquer conhecimento seguiram este homem.
Ao contrário do que seria de esperar, homens e mulheres da alta sociedade caíram no conto do vigário e, pior, foram eles que alimentaram a lenda durante anos, o que permitiu a Rasputine frequentar os mesmos espaços da elite, construindo, desta forma, importantes alianças.
Graças a estas alianças, Rasputine aproximou-se da família imperial. O facto de o filho dos czares ter uma saúde débil e tendo em conta a reputação de milagreiro que o monge alcançou com a ajuda dos seus seguidores, Rasputine tornou-se numa presença assídua junto da czarina.
Aliás, esta aproximação valeu mesmo a criação de rumores de que Rasputine seria amante da czarina e que tinha o poder de influenciar as decisões políticas do czar – o que segundo a autora não corresponde à verdade.
E se foi este último boato que fez do monge de origens humildes bastante rico – devido aos favores que cobrava em troca de falsos conselhos dados ao czar – foi também este boato que lhe fez chegar a morte mais cedo, pois deu origem a vários ódios e invejas.
Neste livro, a autora, a princesa Catherine Radziwill, desmonta a lenda de Rasputine com quem conversou pessoalmente. A convite de um jornal-norte americano, a autora reuniu-se com Rasputine para tentar perceber que homem era aquele cuja fama já havia ultrapassado as fronteiras do Império Russo.
Catherine descreve-o como um “mougik russo vulgar, mal-educado e sujo, desprovido de honestidade e de escrúpulos” que “contaminava todos aqueles nos quais tocava”. A sua aparência somada à sua personalidade e ao facto de ser conhecida a existência de orgias na sua casa, chocaram a autora. Não pelos factos isolados em si, mas porque apesar de todo este conjunto, homens de poder e mulheres de religião “se prostravam” perante ele, implorando por favores.
A autora conta um episódio a que assistiu e no qual viu uma mulher beijar os pés de Rasputine, apenas porque este assim o ordenou. E como esta mulher, tantas outras e tantos outros de todos os estratos sociais, se submeteram a todo o tipo de ordens, mesmo que não fizessem qualquer sentido.
Catherine, que foi uma notável aristocrata russo-polaca, conta que quando viu pela primeira vez “o ‘Profeta’ [assim era conhecido] não me pareceu o indivíduo notável que eu esperava”.
“Era alto e magro, com uma longa barba e cabelos pretos (…), os olhos eram negros com uma expressão singularmente astuta. As mãos eram a coisa mais notável no homem. Eram compridas e finas, com unhas enormes e o mais sujas possível”.
Para quem gosta de história, este é um livro que vale a pena. Permite-nos conhecer melhor a personagem e o modo de pensar do início do século XX, bem como todo o contexto político e social da época que permitiram a ascensão de um monge pobre, sem maneiras e sem educação e a sua consequente queda.
✅ O testemunho na primeira pessoa de quem acompanhou aqueles anos e de quem conheceu e conversou com Rasputine
❌ Não me ocorre nenhum
⭐ 4,5