Ser 'Contra a Corrente' é ter a liberdade e o direito a pensar
‘Contra a Corrente’ de Roger Scruton é um livro muito interessante por quem se interessa por política no geral. Esta compilação de textos escritos pelo autor ao longo das últimas décadas dá-nos um enquadramento global da política e, especialmente, é um retrato muito fidedigno do posicionamento dos partidos ao longo dos anos, seja os partidos de direita ou de esquerda.
Conservador e de direita, Roger Scruton é considerado o melhor pensador britânico desde Edmundo Burke e até foi nomeado Cavaleiro pela Rainha Isabel II.
O livro está dividido em 10 partes – ‘Quem sou eu?’, ‘Quem somos nós?’, Porque é que a esquerda nunca tem razão’, ‘Sugestões de um infinito’, ‘O fim da educação’, ‘Filosofia fraudulenta’, ‘O Ocidente e o resto’, ‘Direitos animais, política de púlpito e sexo’ e ‘Annus horribilis e últimas palavras’ – e em cada parte podemos ler vários artigos de opinião do autor sobre o tema em apreço.
Gostei especialmente de ler o texto ‘O significado de Margaret Thatcher’, inserido na segunda parte, porque é uma mulher que admiro pela força que teve enquanto política, tendo tido a coragem de, numa época em que a política era totalmente dominada por homens, conseguir ser eleita primeira-ministra do Reino Unido e implementar as medidas urgentes e necessárias ao desenvolvimento do país.
Sobre a ‘Dama de Ferro’, Roger Scruton escreve que “Margarete Tatcher teve o descaramento de declarar o seu compromisso com a economia de mercado, a iniciativa privada, a liberdade do indivíduo, a soberania nacional e o Estado de direito”, o que levou a muitas críticas e pequenos ódios oriundos da Esquerda.
A mesma esquerda, aliás, para quem o “patriotismo se tornou numa palavra suja, mais ou menos sinónimo de racismo” e, nesta senda, Scruton deixa também uma crítica à Direita a cujos políticos “nada pareceu importar, exceto a pressa de fazer parte da nova Europa”.
E foi por isso, entende o escritor, que o “interesse nacional fora substituído por interesses específicos: dos sindicatos, dos aparelhos e dos capitães da indústria”.
Scruton atira também na direção dos partidos socialistas que pululam por toda o mundo, frisando que a “sociedade é composta por pessoas que se associam livremente e formam comunidades de interesses que os socialistas não têm o direito de controlar nem nenhuma autoridade para sujeitas às suas obsessões”.
Além dos escritos sobre Margaret Thatcher, também a questão da cultura e da educação foi o que mais me cativou no livro.
Como já referi aqui no blog (ler aqui), preocupa-me a apropriação que a chamada cultura woke está a fazer da sociedade ao censurar livros e autores, ao querer reescrever a história secular dos países, ao querer impor uma pseudo-cultura onde apenas predomina a intransigência mascarada de uma falsa defesa e procura pela igualdade de todos.
Roger Scruton refere, e bem, que a “sociedade não pode degenerar ao ponto de só o vício ter seguidores”. É preciso que a sociedade se instrua e se interesse por assuntos fundamentais, como são a economia, a política, a cultura. Mas o que vemos hoje em dia, em especial nas camadas mais jovens que são, na verdade, o nosso futuro, é um total desprendimento destas questões em prol de uma obsessão pelas redes sociais, que é o mesmo que dizer pelos ‘likes’ e pelo número de seguidores. Ou não fosse esta a geração dos autointitulados influencers!
A educação moderna visa ser inclusiva e isso significa não parecer muito certo de nada, não vão as pessoas que não compartilham as nossas convicções sentir-se pouco à vontade
Esta frase diz muito do que considero ser o nível de intolerância que existe atualmente. Todos gritam ‘liberdade’ e ‘direito à liberdade de expressão’, seja ela de que natureza for. No entanto, quando alguém exprime uma opinião contrária ao que é tido como certo e acertado, essa pessoa é ofendida, desprezada e cancelada.
Tal como referi há pouco são aqueles que mais apregoam a liberdade e a igualdade os que mais atropelos lhes fazem com querelas constantes. Concordo com Scruton quando escreve que a “nova cultura diz-nos que devemos sempre ofender-nos se pudermos”.
Recomendo a leitura deste livro para quem gosta de pensar e refletir e para quem não gosta de ser diminuído na sua liberdade de opinião, de expressão e de associação cívica ou partidária.
E, em minha defesa, cabe-me dizer que não concordei com tudo o que li neste livro. Mas é a isso que chamamos liberdade e respeito: liberdade para escolher não ler e respeito por quem tem opiniões diferentes das minhas. Certo?
✅ A forma como o livro nos obriga a pensar e refletir temas importantes
❌ Alguns textos dizem respeito a, por exemplo, a República Checa, o que não me cativou, uma vez que não é um tema que me suscite curiosidade
⭐ 4