De que palavras é feito o tormento?
A Livros do Brasil publica 'Guerra', de Louis-Ferdinand Céline. Inédito durante quase noventa anos, a revelação desta experiência central na vida do autor é um acontecimento literário mundial.
Primeiro dos manuscritos desaparecidos de Louis-Ferdinand Céline finalmente trazidos a público, 'Guerra' revela um romance cuja ação se passa na Flandres da Grande Guerra.
Caído no campo de batalha, com a orelha ensanguentada colada à terra e um braço desfeito, o cabo Ferdinand desperta atordoado, debaixo de chuva, ao lado de um companheiro morto, sentindo ecoar dentro de si um barulho ensurdecedor.
«Apanhei com a guerra na cabeça. Ficou-me trancada na cabeça.» Assim se inicia 'Guerra', romance que, num maço de duzentas e cinquenta páginas, estava entre os manuscritos de Céline desaparecidos durante a libertação de Paris, em 1944, e que agora, sessenta anos após a morte do seu autor, é finalmente trazido a público.
Escrito por volta de 1934, este texto levanta o véu sobre a experiência central da existência de Céline: a sua participação na Primeira Guerra Mundial e o trauma físico e moral daí resultante. Com uma narrativa de grande fluidez, onde a crueza e a originalidade da linguagem sublinham o tormento e a desilusão do protagonista, 'Guerra' inscreve-se entre as obras mais inquietantes de Louis-Ferdinand Céline.
Este texto fulgurante, que combina acontecimentos autobiográficos e ficção, é uma peça-chave da obra do escritor, abrindo uma nova janela sobre aquele que foi um dos momentos mais marcantes da vida de Céline. A presente edição inclui prefácio, nota de edição e reprodução de páginas manuscritas.
Narrando a experiência de batalha e convalescença hospitalar do jovem Ferdinand, que mais tarde se tornará médico, este romance tem uma estreita relação com 'Morte a Crédito', obra que evoca um período distinto do percurso daquela personagem e que está também disponível, desde fevereiro, na coleção Dois Mundos.