Temos de cancelar já a cultura woke antes que ela cancele a humanidade
‘Woke – Um guia para a justiça social’ é um livro que todos deveriam ler. Escrito por Titania Mcgrath, mostra o extremismo social, cultural e identitário que a chamada cultura woke está a levar a cabo.
Titania é licenciada em Línguas Modernas e mestre em Estudos de Género. É uma ativista e poetisa interseccional que, ao entrar na creche, identificou-se como não binária. Aos 24 anos identificou-se como NAME – Negra, Asiática e de Minoria Étnica, mas esta identificação apenas durou um mês. Depois assumiu-se ecossexual.
Na verdade, Titania Mcgrath não existe. É uma personagem criada pelo comediante Andrew Doyle que, nesta obra, expõe de forma satírica os exageros que a cultura woke comete na defesa de causas sociais justas e dignas.
O livro tem 18 capítulos e cada um deles tem um título sui generis: “que se foda o patriarcado”, “chupa-me o hashtag”, “morte branca”, “o brexit e a chegada do IV reich”, “poder da rata”, “islamofeminismo” ou “o mundo não deve ser povoado” são alguns dos exemplos.
Ao longo das 133 páginas é-nos apresentada a forma de pensar daqueles que são apologistas da cultura woke, também conhecida por cultura do cancelamento.
Naturalmente que, por se tratar de uma escrita satírica, não pode ser lida à letra, porque tudo é um exagero. O importante é reter a mensagem que fica nas entrelinhas e que mostra bem o perigo que esta nova ‘moda’ representa.
Logo no início Titania apresenta-se como a verdadeira adepta da cultura do cancelamento: “se sentes que algo é verdade, então é verdade. É assim que funciona a justiça social”. É assim que pensam os wokistas: se eles acham que é assim, então é porque é mesmo assim e ai de quem diga o contrário. Quem tiver a ousadia (ou coragem) de o fazer é cancelado.
“Se não queres ser censurado, não digas as coisas incorretas. É simples”, escreve Titania, enquanto explica que “as clássicas conversas ‘cara a cara’ são boas, mas a melhor maneira de debater questões política sérias é certamente através de plataformas online que nos salvam de potencial intimidação que o contacto humano direto pode acarretar e os argumentos também não precisam de ser desenvolvidos mais do que o limite de 280 caracteres”.
“Além disso”, acrescenta Titania, “é importante poder bloquear os que não estão de acordo connosco e, assim, evitar ser ofendida por opiniões contrárias”.
Através da voz de Titania, o autor recorda-nos o que escreveu Rudy Martinez, estudante universitário, num artigo publicado no jornal da universidade do Texas e intitulado ‘O teu ADN é uma abominação’ e no qual se lê que a “morte branca significará a libertação para todos. Para vocês, liberais de bom coração, niilistas apáticos e extremistas de direita: aceitem essa morte como o primeiro passo para se definirem como algo diferente do opressor. Até lá, lembrem-se disto: eu odeio-vos porque vocês não deveriam existir”.
Ao longo do livro de Andrew Doyle lemos como Titania é uma fervorosa adepta da continuidade do Reino Unido na União Europeia e de como ficou revoltada com o Brexit. Titania, enfurecida, escreve mesmo que já não se “digna” a ajudar idosos a atravessarem a rua porque, como “escolheram o Brexit podem safar-se sozinhos no trânsito”.
Falando sobre feminismo, a ativista-protagonista deste livro é bastante explícita: “se não és feminista, não és realmente mulher” e diz ainda que as mulheres que “optam por sacrificar a perspetiva de ter uma carreira” para ficar em casa a tratar dos filhos “odeiam mulheres, odeiam-se a si mesmas”.
“Estás mulheres são piores do que os homens”, acrescenta para mais à frente nos brindar com a profunda reflexão: “Todas as relações heterossexuais são violações. Portanto, todos os pais são violadores. Não há nada remotamente woke em ter filhos. É uma função biológica grotesca desnecessária”.
Com estes excertos, de entre tantos outros que poderia citar, ficamos esclarecidos quanto à forma – e não à essência – da cultura woke.
A vontade de defender determinadas causas que devem ser defendidas e valorizadas – os direitos das mulheres, dos homossexuais, o fim de comportamentos racistas – está errada na forma.
Está errada quando há bibliotecas que escondem os livros ‘Os Cinco’ porque a autora (que nasceu em 1897) usou expressões como “queer”, “gay”, “castanho” em referência à cor da pele de uma personagem ou a expressão “cala a boca”.
Ou quando estão a ser reescritas as valiosas obras de Agatha Christie, como é o caso de ‘Morte no Nilo’. No original lê-se “as crianças voltam e olham, e os seus olhos são simplesmente nojentos, assim como os seus narizes, e eu não creio que goste realmente de crianças".
Esta versão foi escondida nas bibliotecas e substituída por uma politicamente correta: “Elas voltam e olham, e olham fixamente. E eu não creio que goste realmente de crianças."
No livro ‘O Mistério das Caraíbas’, a autora descreve um funcionário de um hotel que sorri com uns “dentes brancos tão bonitos”. Esta passagem foi removida na mais recente edição da obra de 1964.
Estes são os exemplos mais recentes do que a cultura de cancelamento está a fazer à cultura da humanidade: apagar, reescrever, alterar a história. É importante que se discuta este tema e se alerte para o monstro que está a ser criado. Este monstro, se não for travado já, vai destruir a cultura e apagar a história. Onde é que vamos parar?
✅ o alerta para este tema tão urgente
❌ é tão satírico que se torna um pouco cansativo
⭐ 4