A Dom Quixote lançou, ontem, o 'Manual do Bom Cidadão, o Livro dos Cancelados', do economista e intelectual espanhol Jorge Soley, um livro para compreender e resistir à cultura do cancelamento que domina as redes sociais e a nossa sociedade.
Palavras. Estátuas. Livros e, até, pessoas são canceladas. Tudo deve ajustar-se aos moldes do politicamente correto. A pergunta é óbvia: Porquê? O que fazer perante o crescimento da política 'woke'?
“É muito provável que não tenhamos vontade de nos vermos imersos num processo público de cancelamento, mas também é crescente a probabilidade de que, sem o desejarmos, tenhamos de enfrentar uma situação em que devemos escolher entre dizer a verdade e assumir as consequências, ou mentir, moldarmo‑nos ao politicamente correto e passarmos despercebidos. A maioria de nós, ocupada como está com as nossas famílias, os nossos amigos, os nossos trabalhos e atividades, preferiria passar ao lado de todos esses conflitos, controvérsias e cancelamentos que dividem a nossa sociedade. Mas a neutralidade já não é uma opção”, escreve o economista e professor universitário espanhol, Jorge Soley Climent, um intelectual católico, licenciado em Economia pela Universidade de Barcelona, colunista habitual na imprensa espanhola.
Professores com processos disciplinares por ensinar que o sexo é determinado por um par de cromossomas, contas de Twitter suspensas por referirem que a relva é verde, estátuas derrubadas e vandalizadas, filmes da Disney considerados abominações, livros que têm de ser reescritos, palavras que, de um dia para o outro, se transformam em termos proibidos e podem arruinar a nossa carreira ou mesmo a nossa vida…
A controvérsia suscitada por esta cultura do cancelamento deriva e entronca, segundo o autor, no crescimento das 'fake news'. O aumento da desinformação, usada inclusive por governos e movimentos políticos e ideológicos - que recorreram às redes sociais para espalhar informações falsas entre a população - leva a que se considere normal a censura de certas mensagens.
Soley julga, no entanto, ser bastante mais perigoso utilizar o medo para cancelar tudo aquilo que é contrário à ideologia que defende. “A desinformação sempre existiu, sempre houve propaganda. Mas sempre pensámos que as pessoas são suficientemente maduras para distinguir a informação viável da falsa”, afirma, quem considera que a justiça é a única solução, “já que o cancelamento é um caminho perigosíssimo”.
Jorge Soley Climent foi fundador e presidente da European Dignity Watch e é patrono do Center for European Renewal e da Fundación Pro-Vida de Cataluña.