Identidade e aculturação na reedição do 'Cais das Merendas' de Lídia Jorge
A acção desenrola-se à beira-mar, numa praia do Sul de Portugal, girando as figuras em torno de um pólo central: o Hotel Alguergue.
Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Porque todos os livros contam uma história
Porque todos os livros contam uma história
Mais para ler
George Orwell já me tinha impressionado com ‘1984’, um livro que não é fácil de ler, mas que merece ser lido por tudo o que representa.
Agora, ‘O Triunfo dos Porcos’ deixou-me definitivamente fã do autor.
Este livro é delicioso do início ao fim e é uma sátira extraordinariamente bem pensada e maravilhosamente bem concretizada.
O livro conta-nos a história da revolução que os animais da Quinta Manor levaram a cabo, expulsando os humanos da quinta e ficando os próprios a gerir a propriedade.
E lembrai-vos, camaradas, nunca percam a vossa determinação. Nenhum argumento deve desviar-vos do caminho. Não escuteis quando vos disserem que os humanos e os animais têm interesses comuns, que a prosperidade de uns é a prosperidade de outros. Tudo são mentiras
Num primeiro momento todos os animais são iguais, tanto em direitos, como em deveres. Porém, com o passar do tempo, os porcos foram assumindo posições cada vez mais autoritárias para com os seus pares. Todos os animais eram levados a acreditar que Napoleão, um dos líderes da revolução, era o melhor animal para gerir os destinos de todos, mas, à medida que o tempo foi passando, o grande líder começou a revelar-se tão ou ainda mais autoritário do que Jones, o humano que era dono da quinta e dos animais.
As maçãs temporãs estavam agora quase maduras e a erva do pomar estava pejada de frutos atirados ao chão pelo vento. Os animais partiram do princípio que o mais lógico seria reparti-los de forma equitativa; contudo, circulou certo dia a ordem de que todas as maçãs caídas deviam ser recolhidas e levadas para a sala dos arreios, a fim de serem usadas pelos porcos
Quanto mais tempo passava, mais Napoleão se revelava um líder ditatorial e, ao contrário daqueles que foram os mandamentos designados pelos animais aquando da revolução, expulsou e tentou matar um dos seus camaradas, acusando-o de traição apenas porque se sentia ameaçado pela sua inteligência e vontade de trabalhar.
Este livro começou a ser escrito em novembro de 1943 e foi terminado em fevereiro de 1944, mas Orwell teve grandes dificuldades para que fosse publicado na Inglaterra, pois tratava-se de uma obra crítica do regime russo de Estaline, o mesmo que era, à época, aliado na luta contra a Alemanha nazi.
Por esta razão, o autor viu a sua obra ser desprezada, pois não se podia atacar o “sacrossanto” Estaline que lutava ao lado dos aliados.
“Ter passado por tudo isto foi uma preciosa lição de vida: ensinou-me com que facilidade a propaganda totalitária pode controlar a opinião de pessoas esclarecidas em países democráticos”, escreveu o próprio Orwell.
Voltando à história, a personagem que mais gostei foi o burro Benjamin, porque foi sempre o que menos falou, o que menos participou e, no entanto, foi o único que percebeu desde logo quem era Napoleão e quais as suas verdadeiras intenções e, ao contrário do que acontecia com os outros animais, Benjamin não se deixou enganar.
Os animais estavam divididos hierarquicamente: os porcos eram os políticos, os cães a polícia política, as ovelhas os cegos seguidores e todos os outros eram os escravos que trabalhavam de sol a sol e continuavam a ver a sua ração ser reduzida.
Porém, esta redução de ração e paralelo aumento da carga de trabalho não se aplicava aos porcos.
Foi por essa altura que os porcos se mudaram subitamente para a casa da quinta e passaram a viver nela. Os animais tiveram a sensação de se recordarem de ter sido aprovada, nos primeiros dias da revolução, uma resolução contra isso, e novamente Squealer conseguiu convencê-los de que as coisas não se tinham passado dessa maneira
O final da história é simplesmente delicioso e coloca a nu a verdadeira essência dos regimes comunistas.
Doze vozes enfurecidas gritavam e todas pareciam iguais. Agora não restavam dúvidas sobre o que tinha acontecido aos rostos dos porcos. As criaturas olhavam da janela, passando de porcos para homens e de homens para porcos, e olhavam de novo para porcos e para homens mas já não conseguiam distinguir uns dos outros
Mais para ler
Tendo como pano de fundo a Guerra da Coreia, 'Indignação' conta a história da educação do jovem Marcus Messner, um jovem que enfrenta as circunstâncias assustadoras e as obstruções anómalas que a vida acarreta.
Na América de 1951, segundo ano da Guerra da Coreia, Marcus Messner, um jovem estudioso, disciplinado e intenso, nascido em Newark, Nova Jérsia, inicia o seu segundo ano de universidade no campus conservador e rural da Universidade de Winesburg, Ohio.
E porque é que ele está lá e não perto de casa, na Universidade de Newark, onde começou por se matricular? Porque o pai, um austero e trabalhador talhante de bairro, parece ter ficado louco - louco de medo e preocupação perante os perigos da vida adulta, os perigos do mundo, os perigos que vê em todos os cantos à espreita do seu filho querido.
Como a mãe sofredora e desesperadamente atormentada diz ao filho, o medo do pai é fruto do amor e do orgulho. Talvez seja, mas faz nascer uma tal raiva em Marcus que ele não suporta viver mais tempo com os pais. Vai-se embora de casa e, longe de Newark, na Universidade do Midwest, terá de encontrar o seu caminho no meio das tradições e restrições de uma América diferente.
Esta é uma história de inexperiência, loucura, resistência intelectual, descoberta sexual, coragem e erro contada com toda a energia criativa e todo o engenho de que Philp Roth é possuidor.
Simultaneamente, é um poderoso aditamento às investigações levadas a cabo pelo autor sobre o impacto da História da América na vida do indivíduo vulnerável.
Publicado pela primeira vez em 2009, esta é uma nova edição, agora de capa mole, de um romance entretanto adaptado ao cinema, em 2016, tal como aconteceu com outros livros do autor.
'Indignação' hoje chega às livrarias.
Mais para ler
No seguimento da guerra do Iraque, o inglês Edward 'Ted' Mundy, filho de um major na reserva do antigo exército indiano, escritor falhado e guia turístico na Baviera, vê reaparecer o seu passado.
E o passado chega-lhe na pessoa de Sacha, o militante da Alemanha de Leste que ele encontrara nos finais dos anos 60 numa Berlim entregue à agitação revolucionária, e que tornou depois a ver no espelho embaciado dos espiões da Guerra Fria, para a montagem de uma operação de agente duplo.
Mas os tempos mudaram e a amizade dos dois, renovada em nome de um idealismo tornado obsoleto, vai ser minada pelas cínicas manobras de uma América mais imperialista do que nunca.
Com 'Amigos até ao fim', que já está disponível nas livrarias nacionais, John le Carré fez o epitáfio da espionagem à moda antiga e dos valores ultrapassados que estruturavam o universo dos agentes secretos.
Depois do 11 de Setembro, as "causas justas" perderam o seu valor quando a América de Bush impôs a todo o mundo a marcha forçada da sua autoglorificação triunfalista e hegemónica.
Lançando um olhar cruelmente céptico sobre as manobras maquiavélicas de uma América envolta na sua boa consciência, le Carré denuncia também a cega mesquinhez do homem e a sua mensagem desesperada perseguirá o leitor durante muito tempo após a leitura da última linha.
Mais para ler
Salman Rushdie é celebrado como "um mestre da narrativa contínua" (The New Yorker), iluminando verdades da nossa sociedade e cultura através da sua prosa deslumbrante e, muitas vezes, cáustica.
Esta coletânea de textos de não-ficção reúne ensaios, críticas e discursos perspicazes e inspiradores, que se focam na relação de Rushdie com a palavra escrita e fortalecem o seu lugar como um dos pensadores mais originais do nosso tempo.
'Linguagens da Verdade' reúne textos escritos entre 2003 e 2020 e demonstra o envolvimento intelectual de Salman Rushdie com certos períodos de mudanças culturais. Chega às livrarias dia 24 de Abril com a chancela da D. Quixote.
Mergulhando o leitor numa ampla variedade de assuntos, explora a natureza do ato de narrar como uma necessidade humana e o resultado é uma carta de amor à literatura.
Rushdie analisa o que obras de autores desde Shakespeare e Cervantes até Samuel Beckett, Eudora Welty e Toni Morrison significam para ele, tanto na página impressa como a nível pessoal.
Ao mesmo tempo, tenta aprofundar a natureza da «verdade», deleitando-se com a vibrante maleabilidade da linguagem e das linhas criativas que podem unir arte e vida, e revisita temas como a migração, o multiculturalismo e a censura.
Mais para ler
'Salvar o Fogo', de Itamar Vieira Junior, conta a história de Moisés que, depois de ter ficado órfão de mãe, vive com o pai e a sua irmã Luzia na Tapera do Paraguaçu, um povoado cujo domínio das terras pertence à Igreja, que ali detém um mosteiro desde o século XVII.
Os irmãos partiram todos em busca de uma vida melhor, mas Luzia foi obrigada a ficar para cuidar do pai e do menino; estigmatizada pelos seus supostos poderes sobrenaturais, leva no entanto uma vida de profundo sentido religioso, trabalhando como lavadeira do mosteiro e educando Moisés rigidamente com o objetivo de o inscrever na escola dos padres e conseguir para ele a educação que nenhum deles pôde ter.
Porém, a experiência dessa formação marcará o rapaz de tal modo que ele acabará por deixar intempestivamente a casa.
Será só vários anos mais tarde, depois de um grave acontecimento que é o pretexto para a família toda se reunir, que Moisés reencontrará Luzia - uma Luzia arrependida dos silêncios e magoada pelas mentiras, mas simultaneamente combativa, lutando como nunca contra as injustiças, pela posse da terra dos seus antepassados.
Épico e lírico, emocionando o leitor a cada nova página, 'Salvar o Fogo' é um romance que mostra que muitas vezes os fantasmas de uma família não se distinguem dos fantasmas de um país. A ferida aberta pelo multipremiado Itamar Vieira Junior nesta obra-prima só o leitor poderá fechar a partir do dia 24 de abril, dia em que chega às livrarias pela D. Quixote.
Mais para ler
Em 'Imperatriz', Pearl S. Buck dá vida à incrível história de Cixi, a concubina imperial que acabaria por liderar a dinastia Ching.
Nascida numa família humilde, Cixi apaixona-se pelo seu primo Jung Lu, um belo guarda imperial - mas ainda em adolescente é escolhida, com a sua irmã e centenas de outras raparigas, para ir morar para a Cidade Proibida.
Destacando-se pela sua beleza, Cixi está determinada a tornar-se a preferida do Imperador, e dedica todo o seu talento e astúcia à concretização desse objetivo.
Quando o Imperador morre, Cixi encontra-se numa posição que lhe dá o poder supremo, que irá manter durante quase cinquenta anos, usando-o tanto para trazer paz ao império como para promover Jung Lu, a quem amará - em segredo - para sempre.
Num mundo de intrigas liderado por homens, Cixi irá tomar a seu cargo várias decisões importantes e será responsável pela modernização da China, sem que nunca tenha recebido por isso o devido crédito.
Muito foi escrito sobre Cixi, mas nenhum outro romance recria a sua vida - a sua extraordinária personalidade e, ao mesmo tempo, o mundo das intrigas da Corte e o período de tumulto nacional com o qual ela lidou - tão bem como Imperatriz.
Editado em Portugal pela D. Quixote, 'Imperatriz' chega às livrarias a 30 de Abril.
Mais para ler
‘Os Amores Difíceis’, livro publicado em Portugal pela D. Quixote, é um conjunto de pequenos contos que Italo Calvino, um dos mais importantes escritores italianos do século XX, nos traz de uma forma breve, mas profunda e honesta.
O interessante deste livro é que episódios que podemos caracterizar como vulgares são capazes de explorar o mais profundo sentimento dos seus protagonistas e leva o leitor a uma reflexão muito honesta do seu próprio ‘eu’.
Se todos os contos me encantaram? Nem por isso. Talvez eu não tenha conseguido alcançar a mensagem subjacente que estava a ser transmitida pelo autor. Ou talvez não houvesse efetivamente uma mensagem para passar e fosse apenas um constatar de uma situação que pode acontecer a qualquer pessoa.
O livro conta-nos 13 histórias vividas entre os anos de 1949 e 1967, cujos títulos começam todos da mesma forma: “a aventura de…”.
Os meus contos preferidos foram os de uma banhista, de um fotógrafo, de um leitor, de um míope e de um automobilista.
Todos eles nos obrigam a uma reflexão sobre os mais diversos sentimentos, desde o embaraço que o nosso próprio corpo nos pode provocar, ao desejo de ter algo que é inalcançável, passando pelo arrependimento de uma discussão em casal ou pela tão conhecida e adorada zona de conforto que todos temos e que poucos têm a coragem de abandonar.
Como se sente uma pessoa perante a sua própria nudez? Como se sente alguém que discute com a sua cara-metade e se arrepende do que disse? Como se sente uma pessoa que vive numa eterna busca do perfeito, não conseguindo ver que essa perfeição não existe e que essa busca só levará a perda e a um constante sentimento de fracasso?
Gostei muito deste livro e gosto bastante do autor e da sua forma de escrever: por vezes simples, por vezes complexa. Aconselho vivamente!
✅ Diferentes episódios da vida quotidiana que podem acontecer a qualquer pessoa e que nos levam a uma reflexão sobe nós próprios
❌ Algumas históricas pareceram-me muito irrealistas, como a 'aventura de um soldado'
⭐ 4
Mais para ler