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Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

'A Terceira Índia' é a prova de como a vida dá voltas que nos podem surpreender (e ajudar a encontrar o nosso caminho)

Book Stories, 11.04.23

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A Terceira Índia’ é aquilo a que chamo uma boa surpresa. Não tinha grandes expetativas e só o comprei porque estava na moda e via toda a gente a partilhar o livro e a dizer maravilhas. Imbuída de curiosidade avancei com a compra e posso dizer, com segurança, que não me arrependi em absolutamente nada.

Eu não tenho por hábito procurar informações sobre as histórias dos livros porque tira a magia da surpresa que é virar cada página, terminar cada capítulo e, portanto, quando iniciei a leitura estava totalmente às escuras sobre a história. Sabia apenas que se desenrolava em dois países e que a Sofia tinha dificuldade em engravidar.

Por isso, partindo com tão pouca informação fui completamente assoberbada por uma história envolvente que na verdade pode acontecer a qualquer uma de nós e a qualquer casal.

Mas comecemos pelo princípio. Os primeiros capítulos são a apresentação da história de amor da Sofia e do Ricardo. Ela é liberdade, simplicidade, sonhos. Ele é conservador (é o típico agrobeto do Ribatejo cujos pais endinheirados acham que mandam e desmandam em tudo), é católico e até mandão!

Os dois conheceram-se ainda adolescentes numas férias de verão e a paixão assolapada levou-os ao casamento. Os primeiros anos são relativamente tranquilos, mas é quando decidem ter filhos que os problemas começam a surgir e de tal forma que Ricardo acaba por trair Sofia e os dois separam-se.

Sentindo-se perdida, surge uma oportunidade e Sofia vai dar aulas para Moçambique para um ambiente que é completamente o oposto ao que ela estava habituada.

A forma como a autora descreve Moçambique, a falta de condições básicas de habitação e higiene, a pobreza com que se vive na antiga colónia portuguesa é tão envolvente que parece mesmo que estamos lá a sentir a terra debaixo dos pés, a sentir o calor, a viver as dificuldades.

É em Moçambique que a personagem Sofia sofre uma importante mutação. Confesso que não me apaixonei pela personagem à primeira, parecia super banal, mas as experiências moçambicanas transformaram-na numa mulher nova, revigorada e com uma força interior que ela (e muito menos o leitor) não conhecia!

Sofia cruza-se então Alex, um homem que é o total oposto de Ricardo e que de uma forma diferente e profunda a atrai ao ponto de Sofia arriscar a própria vida!

E acreditem: quem conhece a Sofia dos primeiros capítulos jamais pensaria que ela seria capaz de uma atitude deste género!

O livro é tão, mas tão, envolvente nos capítulos finais que eu simplesmente não conseguia parar de ler e eu adoro quando um livro tem a capacidade me retirar as minhas sagradas horas de sono!

Por tudo isto, a autora está de parabéns pela história que conseguiu criar, especialmente porque é a estreia literária de Isis Bravo que é médica ginecologista e ainda assim teve a capacidade de deixar ‘A Terceira Índia’ num ponto em que mereceu uma continuação com ‘A Nova Índia’ e que mal posso esperar para ler.

 

✅ A transformação de Sofia e a forma como a autora o conseguiu fazer de forma tão delicada e ao mesmo tempo robusta

❌ Não tenho nada a apontar

⭐ 4

 

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Cinco livros de autoras portuguesas que todos deviam ler

Book Stories, 11.03.23

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Nunca é demais ler em português e hoje trago-vos cinco livros de autoras portuguesas que merecem ser lidos.

Por um lado, pelas histórias que contam que são, todas elas, diferentes e, por outro lado, porque devemos ajudar a literatura nacional lendo o que é escrito em português.

E uma vez que estamos no mês de março, optei por sugerir cinco autoras, uma vez que ainda há poucos dias celebrámos o Dia da Mulher.

 

📖 A Terceira Índia – Este é o romance de estreia de Íris Bravo, médica ginecologista e obstetra que, há mais de uma década, trabalha com infertilidade e procriação medicamente assistida. Tantos anos a acompanhar as histórias de milhares de mulheres que não conseguem engravidar levaram Ísis a escrever este livro que conta a história de Sofia, uma jovem de 32 anos, casada e que não consegue engravidar. Este é apenas o ponto de partida de uma narrativa que se divide entre Lisboa e Moçambique, entre uma mulher liberal e mais próxima do budismo e um marido conservador profundamente católico, entre um amor incondicional e uma traição. Sofia muda a sua vida por completo e descobre tudo aquilo que é capaz de fazer, inclusivamente, arriscar a sua própria vida depois de conhecer Alex, um homem que é o oposto do seu marido e que a conquista sob o calor de Moçambique.

 

📖 Dos Dois Lados da Barricada – Da autoria de Luísa Luiz-Gomes é dos poucos livros que estão na minha estante e que ainda não li, mas é uma leitura que está para breve porque estou muito curiosa. O livro conta histórias privadas e de intervenção pública de quatro famílias com tradição política - Arons/Barradas de Carvalho, Teotónio Pereira, Pinto Leite e Luiz Gomes (a família da autora) - que superaram dificuldades em períodos de guerra e de revolução, reinventando-se ao longo das décadas. A primeira parte é composta por cinco capítulos: o primeiro serve-nos de apresentação e contextualização destas famílias; o segundo refere-se ao período do Estado Novo; o terceiro conta como estas famílias vivenciaram o dia 25 de Abril de 1974; o quarto refere-se às vivências durante o PREC; e o quinto aos primeiros tempos da democracia. Já a segunda parte tem apenas dois capítulos: uma lição de pluralismo e uma sociedade em mudança. Do que já folheei parece-me uma obra demasiado biográfica, o que, contudo, não lhe retira a capacidade de transmitir informação histórica.

 

📖 A Noite Passada – Alice Brito, tendo Lisboa como ponto de partida, conta-nos a história de uma jovem, Amélia, de famílias respeitáveis, que põe o futuro e a honra a perder quando se deita com um agente da PIDE que, apesar dos seus modos delicados e linguagem sedutora, é capaz das maiores crueldades. Com uma escrita fluída, que nos faz lembrar a série da RTP, ‘Conta-me Como Foi’, Alice Brito traça um retrato da sociedade do regime de Salazar, desde os preconceitos, à perseguição da PIDE, às modas e, claro, ao grande sonho de liberdade da sociedade da época. Alice Brito é também a autora de ‘As Mulheres da Fonte Nova’ e ‘O dia em que Estaline encontrou Picasso na biblioteca’.

 

📖 Tudo o Que Sempre Quis – Este, que é o livro de estreia da jovem escritora Ana Rita Correia, foi uma agradável surpresa. Se por um lado há críticas menos positivas a fazer a esta história, por outro lado, há também muitas construtivas a fazer a uma jovem autora que se arriscou a lançar um livro quando, e infelizmente, a sociedade ainda vive muito dos grandes autores, não dando a oportunidade a novos escritores para que possam, também eles, tornarem-se em grandes nomes da literatura. Sobre a história do livro, trata-se daquele romance cliché que acaba bem, mas que ainda assim tem várias ramificações complexas que só pecam por estarem subdesenvolvidas, o que, em certa medida, se justifica pela inexperiência da autora. Ainda assim, vale a pena. Vale sempre a pena ler novos autores!

 

📖 ‘Todos os dias são meus - Este livro, de Ana Saragoça, lê-se num instante, em pouco mais de uma hora. É divertido, tem humor e uma escrita que intervala entre o simples e o cuidado. É também um retrato quase real da sociedade e das várias personalidades que a compõem. Aliás, é um retrato quase fidedigno do que é viver num prédio com poucas pessoas. Ao mesmo tempo que vamos conhecendo os moradores do prédio onde ocorre o crime, vamos conhecendo a própria vítima, descobrindo as razões que a transformaram na pessoa solitária que nos é dada a conhecer. Mais do que uma caricatura de alguns aspetos da sociedade, este livro é também uma reflexão sobre a solidão, sobre como vivemos rodeados de pessoas e, no entanto, tão sozinhos.

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O Afonso Catalão (e o Nuno Nepomuceno) nunca desilude! Mais uma grande história

Book Stories, 16.02.23

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Descobri o Nuno Nepomuceno durante o confinamento a que fomos obrigados na sequência da pandemia por covid-19. Vi uma promoção e comprei três livros da série Professor Catalão – ‘Pecados Santos’ (review), ‘A Última Ceia’ (review) e ‘A Morte do Papa’ (review).

Já estava a ler ‘A Última Ceia’ quando descobri que, afinal, a saga começava com ‘A Célula Adormecida’!!!

Bom, li os três livros e só depois adquiri o primeiro da série. É sempre melhor ler os livros por ordem, mas não o ter feito neste caso não afetou de forma nenhuma a minha compreensão da série e do professor.

O livro ‘A Célula Adormecida’ é muito parecido com o ‘Pecados Santos’ e, por isso, é dos meus preferidos do autor.

A trama está muito bem articulada, capaz de nos deixar agarrados ao livro, mas o que mais gostei foi o tema: o terrorismo do Estado Islâmico.

Trata-se de um tema muito atual e, no entanto, foi a primeira vez que li um livro que abordasse a questão de uma forma ficcionada (se calhar eu é que andei distraída e mais autores o fizeram). A questão dos migrantes também é um dos temas centrais, mas faltou-me o outro lado da questão: e as pessoas que não vêm por bem? E as pessoas que se infiltram entre os pobres desesperados apenas para chegar à Europa e destilar ódio e ceifar vidas?

Ainda assim, a história é muito boa e a escrita também muito simples. Aliás, o que me tornou fã do autor é a forma simples como ele consegue explicar assuntos tão difíceis e delicados como o islamismo (neste livro) e o judaísmo (‘Pecados Santos’).

Nuno Nepomuceno tem esta capacidade de absorver informação e vertê-la nas suas páginas de uma forma simples, fácil e direta, capaz de ser entendida por toda e qualquer pessoa. A isto soma-se ainda a extraordinária capacidade imaginativa de construção de uma história em que os percursos de várias personagens se cruzam sem nunca se atropelarem o que, naturalmente, acaba por surpreender o leitor pela positiva.

Este autor português contemporâneo é, certamente, um dos meus preferidos!

 

📖

a ‘aula’ de islamismo que nos é dada,  a trama que é construída com várias personagens sem atropelos

a não exploração de todos as dimensões das migrações no Mediterrâneo

⭐ 4

 

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