'Eu, Marat, Ex-Comandante do Grupo Wagner' é o testemunho na primeira pessoa sobre o exército secreto de Putin
A Casa das Letras editou 'Eu, Marat, Ex-Comandante do Grupo Wagner', de Marat Gabidullin, que conta como é estar no coração do exército secreto de Vladimir Putin.
Marat Gabidullin (1966) entrou para o Grupo Wagner em 2015, e rapidamente atingiu a patente de comandante. Lutou em vários cenários de guerra, nomeadamente na Síria, contra o Ísis, e no Donbass.
A publicação do primeiro testemunho não anónimo do interior do Grupo Wagner esteve quase para não ser publicado. Um dia depois de ter mencionado o livro numa entrevista, o antigo comandante da milícia, recebeu ameaças suficientes para o forçar a cancelar o projeto, que chega às livrarias editado em francês por uma editora daquele país.
“Uma obra importante para compreender alguns dos aspectos mais obscuros da política de Vladimir Putin”, escreve o jornalista e comentador José Milhazes, no prefácio, sobre um livro que “segue uma tradição da literatura de denúncia, muito comum entre os dissidentes soviéticos que conseguiam escapar para o estrangeiro, mas com uma particularidade importante: trata-se da primeira obra escrita por um mercenário russo na actualidade, combatente de uma empresa militar privada que oficialmente não existe, mas que actua em várias regiões do planeta.”
Gabidullin não é um informador, nem um traidor, é um soldado. Orgulhoso de ter feito parte da força aérea regular do exército do seu país. Orgulhoso de ter combatido o Daesh na Síria como mercenário do Grupo Wagner.
No entanto, sente-se desconfortável por admitir que serviu um exército sombra ilegal, agora no centro das atenções, acusado de cometer os piores abusos, violações, torturas e assassínios contra populações civis nos países onde tomou o campo. Da Síria para a República Centro-Africana. Da Líbia para a Ucrânia.
'Eu, Marat' nasce das contradições que assombram o seu autor. É uma história de uma rutura e de uma redenção. A aventura de um soldado da fortuna ao serviço de um exército que oficialmente não existe. Foi por existir que Marat o decidiu escrever.
“A principal razão do meu esgotamento moral foi a consciência de que eu e os meus camaradas lutávamos neste país por um governo corrupto e odiado pelos seus próprios cidadãos, por um povo que tinha perdido o seu direito à soberania, e que estávamos a ajudar um exército que era totalmente inapto. Eu precisava de saber de que lado estava a lutar e que valores estava a defender.”
Marat Gabidullin, nascido em 1966, é um ex-soldado do exército russo. Entrou para o Grupo Wagner em 2015, como soldado privado, e rapidamente atingiu a patente de comandante. Foi enviado para a linha da frente em Donbass em 2015, depois contra o Estado islâmico na Síria em 2016-2017, sem que a existência do exército Wagner fosse alguma vez oficialmente reconhecida. Apresenta um relato cru e intransigente que nada esconde dos horrores da guerra e das manipulações de Vladimir Putin.