Cinco livros de autoras portuguesas que todos deviam ler
Nunca é demais ler em português e hoje trago-vos cinco livros de autoras portuguesas que merecem ser lidos.
Por um lado, pelas histórias que contam que são, todas elas, diferentes e, por outro lado, porque devemos ajudar a literatura nacional lendo o que é escrito em português.
E uma vez que estamos no mês de março, optei por sugerir cinco autoras, uma vez que ainda há poucos dias celebrámos o Dia da Mulher.
📖 ‘A Terceira Índia’ – Este é o romance de estreia de Íris Bravo, médica ginecologista e obstetra que, há mais de uma década, trabalha com infertilidade e procriação medicamente assistida. Tantos anos a acompanhar as histórias de milhares de mulheres que não conseguem engravidar levaram Ísis a escrever este livro que conta a história de Sofia, uma jovem de 32 anos, casada e que não consegue engravidar. Este é apenas o ponto de partida de uma narrativa que se divide entre Lisboa e Moçambique, entre uma mulher liberal e mais próxima do budismo e um marido conservador profundamente católico, entre um amor incondicional e uma traição. Sofia muda a sua vida por completo e descobre tudo aquilo que é capaz de fazer, inclusivamente, arriscar a sua própria vida depois de conhecer Alex, um homem que é o oposto do seu marido e que a conquista sob o calor de Moçambique.
📖 ‘Dos Dois Lados da Barricada’ – Da autoria de Luísa Luiz-Gomes é dos poucos livros que estão na minha estante e que ainda não li, mas é uma leitura que está para breve porque estou muito curiosa. O livro conta histórias privadas e de intervenção pública de quatro famílias com tradição política - Arons/Barradas de Carvalho, Teotónio Pereira, Pinto Leite e Luiz Gomes (a família da autora) - que superaram dificuldades em períodos de guerra e de revolução, reinventando-se ao longo das décadas. A primeira parte é composta por cinco capítulos: o primeiro serve-nos de apresentação e contextualização destas famílias; o segundo refere-se ao período do Estado Novo; o terceiro conta como estas famílias vivenciaram o dia 25 de Abril de 1974; o quarto refere-se às vivências durante o PREC; e o quinto aos primeiros tempos da democracia. Já a segunda parte tem apenas dois capítulos: uma lição de pluralismo e uma sociedade em mudança. Do que já folheei parece-me uma obra demasiado biográfica, o que, contudo, não lhe retira a capacidade de transmitir informação histórica.
📖 ‘A Noite Passada’ – Alice Brito, tendo Lisboa como ponto de partida, conta-nos a história de uma jovem, Amélia, de famílias respeitáveis, que põe o futuro e a honra a perder quando se deita com um agente da PIDE que, apesar dos seus modos delicados e linguagem sedutora, é capaz das maiores crueldades. Com uma escrita fluída, que nos faz lembrar a série da RTP, ‘Conta-me Como Foi’, Alice Brito traça um retrato da sociedade do regime de Salazar, desde os preconceitos, à perseguição da PIDE, às modas e, claro, ao grande sonho de liberdade da sociedade da época. Alice Brito é também a autora de ‘As Mulheres da Fonte Nova’ e ‘O dia em que Estaline encontrou Picasso na biblioteca’.
📖 ‘Tudo o Que Sempre Quis’ – Este, que é o livro de estreia da jovem escritora Ana Rita Correia, foi uma agradável surpresa. Se por um lado há críticas menos positivas a fazer a esta história, por outro lado, há também muitas construtivas a fazer a uma jovem autora que se arriscou a lançar um livro quando, e infelizmente, a sociedade ainda vive muito dos grandes autores, não dando a oportunidade a novos escritores para que possam, também eles, tornarem-se em grandes nomes da literatura. Sobre a história do livro, trata-se daquele romance cliché que acaba bem, mas que ainda assim tem várias ramificações complexas que só pecam por estarem subdesenvolvidas, o que, em certa medida, se justifica pela inexperiência da autora. Ainda assim, vale a pena. Vale sempre a pena ler novos autores!
📖 ‘Todos os dias são meus’ - Este livro, de Ana Saragoça, lê-se num instante, em pouco mais de uma hora. É divertido, tem humor e uma escrita que intervala entre o simples e o cuidado. É também um retrato quase real da sociedade e das várias personalidades que a compõem. Aliás, é um retrato quase fidedigno do que é viver num prédio com poucas pessoas. Ao mesmo tempo que vamos conhecendo os moradores do prédio onde ocorre o crime, vamos conhecendo a própria vítima, descobrindo as razões que a transformaram na pessoa solitária que nos é dada a conhecer. Mais do que uma caricatura de alguns aspetos da sociedade, este livro é também uma reflexão sobre a solidão, sobre como vivemos rodeados de pessoas e, no entanto, tão sozinhos.