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Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Considerado o livro do ano, 'A Criada' já chegou a Portugal

Book Stories, 19.06.23

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Por trás de cada porta, ela consegue ver tudo.

"Bem-vinda à família", diz Nina Winchester enquanto me cumprimenta com a sua mão elegante e bem cuidada. Sorrio educadamente e olho para o longo corredor de mármore.

Este emprego caiu-me do céu. Talvez seja a minha última oportunidade para mudar de vida. E o melhor de tudo é que aqui ninguém sabe nada acerca do meu passado. Posso esconder-me e fingir ser aquilo que eu quiser. Infelizmente, não tardo a descobrir que os segredos dos Winchester são muito mais perigosos do que os meus…

Todos os dias limpo a bela casa dos Winchester de cima a baixo, vou buscar a filha deles à escola e cozinho uma deliciosa refeição para toda a família antes de subir e comer sozinha no meu quarto minúsculo no sótão.

Tento ignorar a forma como Nina gera o caos só para me ver limpar. Como conta histórias inverosímeis sobre a filha. E como o seu marido, Andrew, parece cada dia mais destroçado. Quando o vejo, e àqueles belos olhos castanhos tão tristes, é difícil não me imaginar no lugar de Nina. Com o marido perfeito, a roupa chique, o carro de luxo. Um dia, experimentei um dos seus vestidos só para ver como me ficava. Mas ela percebeu... e foi aí que descobri porque é que a porta do meu quarto só trancava pelo lado de fora...

Se sair desta casa, será algemada.
Devia ter fugido enquanto podia. Agora, a minha oportunidade desapareceu. Agora que os polícias estão na casa e descobriram o que está no andar de cima, não há volta atrás. Estão a cerca de cinco segundos de me ler os direitos. Não sei muito bem porque não o fizeram ainda. Talvez esperem induzir-me a dizer-lhes algo que não devia.
Boa sorte com isso.

O polícia com o cabelo preto raiado de grisalho está sentado ao meu lado no sofá. Muda a posição do seu corpo entroncado sobre o cabedal italiano cor de caramelo queimado. Pergunto-me que tipo de sofá terá em casa. Não um, certamente, com um preço de cinco dígitos como este. Provavelmente de uma cor foleira como laranja, coberto de pelo de animais de estimação e com mais do que um rasgão nas costuras. Pergunto-me se estará a pensar no seu sofá em casa e a desejar ter um como este. Ou, mais provavelmente, está a pensar no cadáver lá em cima no sótão.

'A Criada', de Freida McFadden, já está à venda em Portugal editada pela Alma dos Livros.

Um retrato de Rasputine por quem teve o (des)prazer de o conhecer

Book Stories, 24.03.23

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Rasputine – o fim da grande Rússia e a queda dos Romanov’, editado em Portugal pela Alma dos Livros, é uma leitura bastante interessante do ponto de vista histórico. Não só porque relata a vida de uma das personagens mais misteriosas da história recente da Rússia, como é escrito por uma princesa que teve oportunidade de conviver com Grigori Yefimovich Rasputine.

Para quem nunca tenha ouvido falar de Rasputine, que nasceu em 1869 e morreu em 1916, este foi um camponês de origens humildes que, através da sua astúcia, se conseguiu transformar num dos homens mais temidos e influentes do Império Russo.

Rasputine valeu-se da religião fervorosa do povo e da ambição dos nobres para se transformar num ídolo, garantindo ter premonições, o que lhe permitiu criar uma seita. E desenganem-se se pensam que apenas os pobres e analfabetos sem qualquer conhecimento seguiram este homem.

Ao contrário do que seria de esperar, homens e mulheres da alta sociedade caíram no conto do vigário e, pior, foram eles que alimentaram a lenda durante anos, o que permitiu a Rasputine frequentar os mesmos espaços da elite, construindo, desta forma, importantes alianças.

Graças a estas alianças, Rasputine aproximou-se da família imperial. O facto de o filho dos czares ter uma saúde débil e tendo em conta a reputação de milagreiro que o monge alcançou com a ajuda dos seus seguidores, Rasputine tornou-se numa presença assídua junto da czarina.

Aliás, esta aproximação valeu mesmo a criação de rumores de que Rasputine seria amante da czarina e que tinha o poder de influenciar as decisões políticas do czar – o que segundo a autora não corresponde à verdade.

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E se foi este último boato que fez do monge de origens humildes bastante rico – devido aos favores que cobrava em troca de falsos conselhos dados ao czar – foi também este boato que lhe fez chegar a morte mais cedo, pois deu origem a vários ódios e invejas.

Neste livro, a autora, a princesa Catherine Radziwill, desmonta a lenda de Rasputine com quem conversou pessoalmente. A convite de um jornal-norte americano, a autora reuniu-se com Rasputine para tentar perceber que homem era aquele cuja fama já havia ultrapassado as fronteiras do Império Russo.

Catherine descreve-o como um “mougik russo vulgar, mal-educado e sujo, desprovido de honestidade e de escrúpulos” que “contaminava todos aqueles nos quais tocava”. A sua aparência somada à sua personalidade e ao facto de ser conhecida a existência de orgias na sua casa, chocaram a autora. Não pelos factos isolados em si, mas porque apesar de todo este conjunto, homens de poder e mulheres de religião “se prostravam” perante ele, implorando por favores.

A autora conta um episódio a que assistiu e no qual viu uma mulher beijar os pés de Rasputine, apenas porque este assim o ordenou. E como esta mulher, tantas outras e tantos outros de todos os estratos sociais, se submeteram a todo o tipo de ordens, mesmo que não fizessem qualquer sentido.

Catherine, que foi uma notável aristocrata russo-polaca, conta que quando viu pela primeira vez “o ‘Profeta’ [assim era conhecido] não me pareceu o indivíduo notável que eu esperava”.

“Era alto e magro, com uma longa barba e cabelos pretos (…), os olhos eram negros com uma expressão singularmente astuta. As mãos eram a coisa mais notável no homem. Eram compridas e finas, com unhas enormes e o mais sujas possível”.

Para quem gosta de história, este é um livro que vale a pena. Permite-nos conhecer melhor a personagem e o modo de pensar do início do século XX, bem como todo o contexto político e social da época que permitiram a ascensão de um monge pobre, sem maneiras e sem educação e a sua consequente queda.

 

✅ O testemunho na primeira pessoa de quem acompanhou aqueles anos e de quem conheceu e conversou com Rasputine 

❌ Não me ocorre nenhum

⭐ 4,5

 

 

 

Conheça a história verídica do 'Espião de um bilião de dólares'

Book Stories, 25.02.23

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Baseando-se em arquivos da CIA recentemente disponibilizados e em entrevistas com os protagonistas, David Hoffman criou um retrato sem precedentes e pungente de Tolkachev, um homem motivado pelas depredações do Estado soviético para dominar a arte de espiar contra o seu próprio país.

Agitado, imprevisível e por vezes insuportavelmente tenso, ‘O Espião de um Bilião de Dólares’  é um brilhante feito de reportagem que se desenrola como um thriller de espionagem.

Um dos espiões mais valiosos a trabalhar para os Estados Unidos nas quatro décadas de confronto global com a União Soviética, Tolkachev correu enormes riscos pessoais – tal como os agentes americanos. A CIA tinha há muito lutado para recrutar e desenvolver uma rede de agentes em Moscovo, e Tolkachev foi um avanço singular.

Usando câmaras de espionagem, códigos secretos e encontros fugidios em parques e nas esquinas das ruas, Tolkachev e a CIA conseguiram durante anos iludir o temido KGB no seu próprio território, até que chegou o dia em que uma traição chocante os pôs a todos em risco.

Ao sair da embaixada americana em Moscovo na noite de 16 de fevereiro de 1978, o chefe de posto da CIA ouviu uma pancada na janela do seu carro. Um homem no passeio entregou-lhe um envelope cujo conteúdo aturdiu a inteligência americana: detalhes da investigação soviética ultrassecreta e desenvolvimentos na tecnologia militar que eram totalmente desconhecidos para os Estados Unidos.

Nos anos que se seguiram, Adolf Tolkachev, engenheiro num gabinete de design militar soviético, usou o seu acesso de alto nível para entregar dezenas de milhares de páginas de segredos soviéticos. Tais revelações permitiram à América reformular os seus sistemas de armas para derrotar o radar soviético no solo e no ar, dando aos Estados Unidos uma quase total superioridade nos céus sobre a Europa.

Durante anos, conseguiram iludir o temido KGB no seu próprio território, até que chegou o dia em que uma traição inesperada pôs tudo em risco.

 

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