'Presos por um fio': A história do grupo terrorista português FP-25 de Abril
Poucas pessoas, especialmente as das gerações mais novas, sabem o que é o PREC (Processo Revolucionário em Curso) ou as FP-25 (Forças Populares 25 de Abril). O 25 de Novembro? Esse então nem cheiro nos manuais escolares.
E porquê? Porque nada disto se estuda na escola. Os manuais escolares acabam no 25 de abril. Depois há uma leve passagem pelo Verão Quente de 1975, mas é tão leve que mal se percebe o que foi, quem foram os protagonistas e como acabou.
Por tudo isto aconselho vivamente o livro ‘Presos por um fio – Portugal e as FP-25 de Abril’. Nuno Gonçalo Poças levou a cabo um intenso trabalho de investigação que culminou numa obra bem documentada, bem informada e bem explicada.
O autor começa por nos dar o contexto que originou o primeiro ataque terrorista das FP-25, em 1980, com o rebentamento de dezenas de petardos em várias cidades do país que originaram uma ‘chuva’ de papéis onde se lia ‘Manifesto ao povo trabalhador’.
Depois da Revolução dos Cravos, Portugal passou por uma fase bastante conturbada na sua vida política e social. Ao 25 de Abril seguiu-se o PREC, uma fase em que se agudizaram os conflitos políticos, deixando o país à beira de uma guerra civil e da implantação de uma ditadura de esquerda.
Nesta fase, foram detidos bancários e empresários, foram ocupadas de forma extremamente violentas grandes propriedades agrícolas no Alentejo e no Ribatejo, foi nacionalizada a banca, a rede de combustíveis, os caminhos-de-ferro, a celulose… enfim. A esquerda, que comandava os destinos do país, alicerçada no poder militar que a sustentava, fez o que quis para transformar Portugal numa ditadura comunista. Até (imagine-se!) acabou com a liberdade de imprensa conquistada com a queda do antigo regime.
Esta fase só terminou a 25 de Novembro quando Jaime Neves, comandante do Regimento de Comandos, colocou um ponto final nos planos dos comunistas e dos militantes de extrema-esquerda.
No pós-revolução surgiram diversos movimentos políticos de esquerda, entre os quais o LUAR (Liga de Unidade e Ação Revolucionária) que tinha nos seus apoiantes Camilo Mortágua (pai das deputadas Mariana e Joana Mortágua) e que foi responsável pelo assalto a uma agência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, que rendeu 29 mil contos aos assaltantes.
Nuno Gonçalo Poças traça-nos neste livro o perfil de todos estes movimentos e dos seus integrantes, bem como das suas ligações a personalidades que tiveram (e alguns têm ainda) cargos importantes na vida política portuguesa.
‘Presos por um fio’ é uma espécie de timeline que nos conta todos os atentados levados a cabo pelas FP-25 entre 1980 e 1987, tudo o que roubaram, todos os que mataram – incluindo um bebé –, todos os que feriram, revelando-nos os nomes de todos os que fizeram parte do primeiro e único movimento terrorista português.
O autor explica detalhadamente o que era o Projeto Global, quais os seus objetivos e mostra como Otelo Saraiva de Carvalho era a ‘cabeça’ por detrás das FP-25.
Ao longo de 268 páginas ficamos aterrorizados com a facilidade que os terroristas tinham em matar e ferir; ficamos perplexos com o facto de o então Presidente da República, Ramalho Eanes, ter condecorado Otelo Saraiva de Carvalho quando já se suspeitava – e o Presidente sabia das suspeitas – que o herói do 25 de Abril se tinha transformado num terrorista assassino; ficamos a perceber o que correu mal no julgamento dos terroristas; ficamos a saber como os terroristas seguiram a sua vida tranquilamente, enquanto magistrados - um, pelo menos - teve de viver escondido e com escolta policial por medo de represálias dos bandidos.
Este livro é de leitura obrigatória para quem gosta de história, para quem gosta de estar informado e para quem não gosta de ser tomado por parvo. Porque, em bom rigor, é assim que a sociedade portuguesa tem sido tratada ao longo de quarenta anos de branqueamento da história.
Porquê? Porque todos tiveram medo que julgar um bando de terroristas criminosos seria julgar o 25 de Abril. Não podiam estar mais errados: branquear a história dos anos 80 é que coloca a revolução em causa, afinal, naquela madrugada de 25 de Abril lutou-se (alguns lutaram) para que Portugal vivesse numa democracia plural, com liberdade de expressão, de pensamento e de imprensa.
Fazer de conta que as FP-25 não existiram é colocar uma enorme mancha sobre a Revolução dos Cravos.
✅ o trabalho de investigação do autor é soberbo
❌ nada a apontar (para quem não gosta de história detalhada pode ser um pouco maçador)
⭐ 5