Quando o cinema e a literatura dão as mãos. Bom ou mau?
Um dos temas que mais se discute nos círculos literários é a relação entre a literatura e o cinema. Por outras palavras, estamos a falar das adaptações de livros para o cinema.
As opiniões não são unânimes.
Eu, por exemplo, não tenho o hábito de ver um filme baseado num livro que já tenha lido. Creio mesmo que a única exceção a esta pseudo-regra minha foi o filme de João Botelho, ‘Os Maias’ (e claro, a saga ‘Twilight’).
Como nunca fui fã de ‘Harry Potter’ ou de ‘O Senhor dos Anéis’ vi os filmes sem ter, posteriormente, querido ler os livros. Mas não foram os únicos.
Por exemplo gosto imenso do filme ‘O Diário da Nossa Paixão’ (oh Ryan Gosling!!!) e, no entanto, não sinto qualquer curiosidade em ler o livro. O facto de já saber a história fez-me ter um sentimento de tempo perdido, no sentido em que podia estar a ler algo novo e estou a ler uma história que eu já conheço.
Com ‘Os Maias’ de João Botelho a minha curiosidade foi mesmo no sentido de perceber de que forma o realizador ia dar vida cinematográfica ao meu livro preferido. Não adorei, nem detestei, mas não é um filme que vá rever!
Para escrever este texto falei com algumas pessoas e foi surpreendente (e até divertido) perceber como as opiniões divergem tanto.
Houve quem me dissesse que não tem um especial interesse nas adaptações para cinema porque em geral “são muito fracas”, pois “já não se procuram boas histórias, mas sim livros que, ao serem adaptados, vão agradar a um nicho específico de mercado” e atingir o sucesso comercial.
E eu tendo a concordar. Aliás, na minha opinião, ‘As Cinquenta Sombras de Grey’ e a saga ‘Twilight’ (que vi e li) são um exemplo disso mesmo. Não estou, com isto, a criticar quem gostou dos livros e dos filmes, mas a verdade é que espelha bem a relação interesseira (promíscua?) que o cinema – salvo outras exceções – tem para com a literatura.
E será que não podemos dizer também que existe essa mesma relação no sentido contrário? Eu acho que sim, até porque muitos livros são vendidos com as capas dos filmes!
Houve também quem me dissesse que o sucesso de uma adaptação depende muito do realizador e da sua capacidade de captar a essência do livro para a colocar no grande ecrã, até porque, das principais críticas que se faz aos filmes baseados em livros é a perda dessa mesma essência e dos pormenores que enriquecem a leitura e que alimentam os sentidos dos leitores.
Mas ao contrário de mim – que raras vezes leio o livro depois de ver o filme – há quem opte por ler o livro depois de ir ao cinema exatamente para enriquecer a sua perceção da história pois, como referi acima, o cinema não consegue ser tão rico em detalhes como a literatura.
Um livro resulta de um trabalho individual e um filme de trabalho de equipa
O tema tem sido discutido por profissionais da área. Por exemplo, o professor da Faculdade de Letras de Lisboa, Mário Jorge Torres, sublinha (num artigo do Público) que “adaptar significa perder e ganhar uma série de coisas”.
Já João de Mancelos, professor de guionismo da Universidade da Beira Interior, defende que não deve comparar dois meios tão diferentes como são a literatura e o cinema: “um livro resulta de um trabalho individual e um filme de um trabalho de equipa e a própria linguagem literária é diferente da linguagem cinematográfica”.
Expostos os vários pontos de vista parece-me que a maior vantagem existente nesta ligação próxima entre o cinema e a literatura é a complementaridade. O filme pode despertar a curiosidade em determinada pessoa que, posteriormente vai ler o livro no qual a longa-metragem se baseou. Ou então não o lê, mas ficará atento ao autor e poderá, eventualmente, ler outras obras.
Mas uma coisa é certa: o espaço de promoção e de divulgação que é dado ao cinema é enormemente maior, o que é bom para os livros nos quais os filmes se baseiam, na medida em que usufruem também dessa publicidade a que, de outra forma, não teriam acesso.
Seja qual for a opinião, o importante é que se leia e que se vá ao cinema, pois tanto uma arte como outra são merecedoras da nossa atenção, pois os profissionais das duas áreas empenham muito do seu tempo e esforço nas obras que criam e merecem a nossa atenção.
E vocês? Veem mais vantagens ou desvantagens nesta relação entre a literatura e o cinema? Contem-me tudo ;)