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Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

'O Bloco das Crianças de Auschwitz' onde as crianças (afinal) não são a personagem principal

Book Stories, 02.03.21

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‘O Bloco das Crianças de Auschwitz’ foi publicado em 2019 pela Editorial Presença

 

Opinião

Eu gosto imenso de ler livros sobre os campos de concentração nazis, os guetos da resistência judia, mas este livro foi muito difícil para mim.

Demorei praticamente um mês para o ler e não foi pelo número de páginas, mas, infelizmente, este livro não me cativou e, pior, deixou-me sem vontade ler rigorosamente nada.

‘O Bloco das Crianças de Auschwitz’ é uma obra autobiográfica escrita por um dos sobreviventes durante a sua passagem pelo campo de concentração criado pelo regime nazi.

Com este livro ficamos a conhecer melhor o bloco familiar existente dentro do enorme complexo Auschwitz-Birkenau e confesso que agora estou confusa porque quando visitei Auschwitz vi um bloco que era o das crianças e gostava de perceber se esse bloco é o que é aqui retratado – vou ter de investigar melhor.

Mas falando sobre o livro. A narrativa não é fácil, pois no início são-nos apresentadas muitas personagens de uma só vez, o que nos obriga a fazer aquele puzzle mental do ‘quem é quem’. E o balde de água fria que é quando aquela personagem que já encaixámos num determinado ‘local’ da história afinal já está morta e tudo o que estávamos a ler era passado?!

A primeira metade do livro é cansativa, porque há vários saltos entre o passado e o presente, um grande número de personagens apresentadas de uma só vez e exagerado número de descrições técnicas e logísticas – “com 396 buracos e duas valas paralelas que serviam para escoar o terreno lamacento”.

Quando finalmente se percebe quem são as personagens principais, a história começa a ficar mais interessante, até porque passamos a conhecer também o seu passado – quem eram, de onde vinham, quais eram os seus sonhos.

Este livro é também, à semelhança dos bons livros que existem sobre o tema, um grande murro no estômago que mostra a crueldade dos nazis para com os judeus, fossem pessoas doentes, idosas ou crianças.

Mas não só. Este relato feito por quem viveu aquele horror mostra também como as vítimas se tornavam elas também agressoras. A forma como Julius Abeles morreu é a prova disso mesmo.

Os campos de concentração eram uma amálgama de diferentes pessoas, com diferentes formas de estar na vida, variadas personalidades, mas com duas coisas em comum: a ausência de liberdade e a constante humilhação.

Estavam expostos ao frio, à fome, ao constante fedor da decomposição, às úlceras purulentas das suas feridas e ao fumo agridoce que emanava das oferendas imoladas pelo fogo e que se enrolava em grinaldas sobre a paisagem

Estas pessoas eram despojadas dos seus bens, das suas roupas, sendo obrigadas a permanecer nuas à frente de quem quer que fosse; estas pessoas eram humilhadas diretamente quando as tatuavam com números e lhes raspavam os cabelos e os pelos púbicos sem pudor; e indiretamente quando as obrigavam a negócios paralelos em que muitas vezes, em especial as mulheres, se prostituíam para terem o que comer e para terem o que dar de comer aos filhos que estavam com elas nos campos.

A fome, a contínua fome, era também ela uma forma de humilhação. Como se sentiriam as pessoas que toda a vida tiveram sempre comida à mesa, ainda que não fosse abundante era o suficiente para saciar a fome e agora viam a sua alimentação reduzida a um pão rijo e uma sopa de beterraba que mais parecia água suja?

No bloco das crianças a vida não era tão má como nos restantes blocos do enorme campo de concentração. A maioria das pessoas que ali vivia também ali trabalhava, mas as funções eram mais leves do que as dos restantes prisioneiros, pois não implicavam esforço físico exagerado.

O mais importante deste livro, na minha ótica, é ter uma pequena noção de como as crianças passavam os seus dias: com que se entretinham, o que comiam, com que brincavam, como confraternizavam umas com as outras.

Ainda não tinha lido nenhum livro que pormenorizasse a vida das crianças num campo nazi e que mostrasse como elas tinham a capacidade de se fazer abstrair do que se passava à sua volta, havendo também aqueles mais velhos que se revoltavam e se tornavam ‘moços de recados’ dos kapos (comandantes) dos campos.

No entanto, pese embora o livro se chame ‘O Bloco das Crianças de Auschwitz’, o foco não são as crianças, mas sim os seus ‘professores’. Faltou explorar a visão infantil daquele lugar horrível.

 

📖

☝️Pontos Positivos: Dar a conhecer o bloco onde (sobre)viviam as crianças em Auschwitz

👇 Pontos Negativos: O foco da trama não são as crianças; a narrativa inicial é confusa e desmotivante

⭐ Avaliação: 3,5 estrelas

 

 

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