'Durante a Queda Aprendi a Voar': Finalmente um romance que fala da saúde mental
‘Durante a Queda Aprendi a Voar’ é o terceiro romance de Raul Minh’Alma. Foi publicado em Novembro pela Manuscrito e já vai na segunda edição.
* Não podia começar esta crítica literária sem agradecer à Manuscrito pela cedência de um exemplar do livro. Muito obrigada
Sinopse
Quando Teresa recebe a notícia de que o pai tem uma depressão, está longe de imaginar que os próximos tempos serão os mais intensos e transformadores da sua vida. Determinada em ajudar o pai, Teresa começa a acompanhá-lo nas terapias de grupo numa clínica de saúde mental.
É aqui que conhece Duarte, o irmão de um paciente internado na clínica, cujo passado permanece envolto em mistério. Ela é resoluta e pragmática, ele romântico e brincalhão, mas, apesar das diferenças, o destino insiste em tentar juntá-los. Tudo se complica quando Teresa começa a ter inexplicáveis pressentimentos e visões. Será que ela é capaz de prever o futuro? E será que Duarte faz parte dele?
História
Teresa é uma jovem que está a estudar Direito para ser advogada, tal como a sua mãe. É pragmática e pouco dada a sentimentalismos. No entanto, a sua vida começa a mudar na manhã em que o pai a acorda e lhe diz que está com o início de uma depressão.
Teresa não se sente surpreendida, pois tem a sensação de que já o sabia, mesmo antes de o pai o dizer e, a partir desse momento, decide empenhar-se para o ajudar a ultrapassar a doença.
Assim, a jovem acompanha-o a uma clínica para o mesmo se consultar e participar em terapias de grupo. Nesta clínica, Teresa conhece Duarte que frequenta aquele local porque o seu irmão mais velho se encontra lá internado.
Ao longo da história vamos acompanhando a evolução do tratamento de Fernando e o peso que a terapeuta coloca na ajuda da Teresa. Ao mesmo tempo vamos conhecendo melhor a história de vida do Duarte que, apesar de ser o oposto de Teresa, vai sentir-se atraído por ela.
Personagens
A Teresa está segura da pessoa que é e da pessoa que quer ser. Só que afinal não. Teresa é uma jovem com problemas de confiança gerados por situações decorridas na sua adolescência. A pressão que a mãe lhe coloca nos ombros para que seja uma advogada de sucesso como ela começa a sufocá-la aos poucos.
Fernando é um pai zeloso que está disposto a tudo para ajudar a filha, até a mentir.
Duarte é um jovem que gosta de viver aventuras e que tem um enorme sentimento de responsabilidade para com o irmão que sofre de uma doença mental e, por isso, está internado na clínica. Ao contrário de Teresa, Duarte envolve-se facilmente com as pessoas para as ajudar e não tem problemas em assumir que gosta de alguém quando o sentimento efetivamente existe.
Guilherme é o irmão do Duarte e que sofre de uma doença mental grave. Quando descobrimos qual é ao certo a doença e o que a provocou ficamos com um aperto no peito.
Sentimento semelhante temos quando conhecemos melhor o senhor Alfredo, que é o colega de quarto do Guilherme.
Opinião
Comecei a ler este livro depois de ter lido ‘Foi Sem Querer Que Te Quis’ (review sairá em dezembro) e estava muito expectante.
Sabia perfeitamente que a história ia ter um romance entre o Duarte e a Teresa e não me enganei. Cá está o cliché. Porém, este foi dos poucos que encontrei, o que é ótimo, pois denota um desenvolvimento por parte do autor.
O que mais gostei neste livro foi o facto de tratar de um problema tão grave e tão pouco falado, que é a saúde mental. Considero que existe ainda um grande estigma na sociedade para com as questões mentais. Afinal ninguém diz que vai a um psicólogo ou a um psiquiatra com a mesma ligeireza de espírito como diz que vai ao dentista.
E porquê? Era um bom tema para outro livro do Raul, quiçá uma continuação deste (fica a dica).
O autor mostra-nos algumas formas de terapia utilizadas, não só no tratamento da depressão, como também com outros pacientes que padecem dos mais distintos transtornos mentais e dá especial destaque à importância que o seio familiar tem para estas pessoas.
A relação entre a Teresa e o pai é deliciosa pela sua cumplicidade que vai aumentando à medida que juntos passam pelo problema da depressão, uma doença que é invisível e que, por isso, muitas vezes é diagnosticada já numa fase muito avançada, o que dificulta todo o seu processo terapêutico.
O final deixou-me boquiaberta (já começo a ficar habituada às partidas que o Raul gosta de pregar no final dos livros). Não contava com o desfecho que teve, mas gostei bastante, pois foi uma forma brilhante de mostrar como um pai é capaz de fazer tudo pelo bem-estar da sua filha, mesmo sem ela o saber, e como a depressão é mesmo uma doença que ataca sem que uma pessoa se aperceba.
De referir ainda que o autor fez questão de mostrar outro tipo de dinâmica familiar que é muito prejudicial e que diz respeito à forma como muitos pais e mães projetam nos seus filhos os seus próprios sonhos, impedindo, em muitas situações, que os filhos sejam quem verdadeiramente são, o que os aprisiona numa rede de mentiras e dissimulações que pode ter efeitos nefastos a nível do desenvolvimento mental e emocional.
Houve, contudo, um pormenor que me deixou desiludida. As cenas de sexo são sempre praticamente iguais quando comparadas com a do livro 'Foi Sem Querer Que Te Quis', o que é aborrecido, pois há tanta forma diferente de vivenciar a sexualidade sem ser sempre o homem a tomar as rédeas da situação.
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☝️ Pontos Positivos: O explorar do tema da saúde mental e o final
👇 Pontos Negativos: A pouca criatividade no que toca às cenas de sexo
⭐ Avaliação: 4,5 estrelas