A obscena dança de morte de Camilo José Cela
A cadência de 'Mazurca para Dois Mortos', o romance grotesco do não menos truculento Camilo José Cela, escreve-se ao ritmo da dança polaca que lhe dá nome, com um compasso ditado pelo acordeonista da casa de putas, o cego Gaudêncio.
Um ritmo tão trágico quanto cruel, uma história de Espanha e uma galeria de personagens que nunca mais vamos esquecer. Isso explica por que razão o autor foi premiado com o Nobel.
O cego Gaudêncio só tocou duas vezes a mazurca 'Ma Petite Marianne': em novembro de 1936, quando mataram Baldomero Afoito, e em janeiro de 1940, quando mataram Fabián Minguela. Depois nunca mais quis voltar a tocá-la. Eram os tempos turvos e vingativos da Guerra Civil de Espanha.
'Mazurca para Dois Mortos' constitui uma impressionante rememoração do ambiente quase mítico da guerra, da Galiza rural e da violência humana. Um retábulo de vidas dominadas pela violência, pelo sexo e pela superstição atávica.
Uma das melhores obras de um dos mais importantes escritores espanhóis contemporâneos, 'Mazurca para Dois Mortos' alcançou em Espanha 18 edições em três anos e está traduzida para várias línguas europeias. É um genuíno tour de force quanto ao tratamento da forma narrativa.
Estamos perante a obra de um dos mais altos expoentes da literatura espanhola, cujo perfeito domínio da ambiguidade e cuja capacidade para a criação de ambientes requintadamente insólitos só são superados pelo manejo excecional das formas literárias.