A magia das mais belas bibliotecas de Portugal
Quem é fã de ler e de livros não tem como não adorar bibliotecas.
Como não gostar daquele cheiro a livros antigos que nos transporta para outros tempos?
Eu adoro bibliotecas, mas as antigas. As modernas são, a meu ver, apenas um espaço com quatro paredes com livros enfiados em estantes. Não há história. Não há cheiro a livros antigos. Não há… magia.
Sim, magia. Porque é esse o poder dos livros: de forma mágica transportam-nos para os mais distantes locais, colocam-nos lado a lado com as mais diversas personagens.
Quando os livros são efetivamente bons é como se estivéssemos sentados numa esplanada a beber com café com determinada personagem que nos conta a sua história; é como se caminhássemos por ruas de cidades às quais nunca fomos, mas que, ainda assim, visualizamos a cor dos edifícios e o aroma das flores dos jardins.
É por causa desta magia que adoro bibliotecas antigas. São verdadeiras obras arquitetónicas que escondem uma máquina do tempo que nos leva aonde quisermos ir.
Por tudo isto decidi falar-vos das cinco bibliotecas antigas portuguesas que eu considero as mais bonitas, as mais mágicas (inclui a Torre do Tombo neste top 5 pela sua importância documental).
Será que vão concordar comigo?
Biblioteca Joanina, Universidade de Coimbra
Edificada durante o reinado de D. João V, a Casa da Livraria passou a denominar-se Biblioteca Joanina em homenagem ao rei, seu patrono.
Situada no pátio da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, a sua construção remonta ao século XVIII e apresenta um acentuado estilo rococó, o que a torna numa das mais bonitas e originais bibliotecas barrocas de toda a Europa.
A construção arrancou em 1717 e só foi terminada em 1728, tendo sido financiada pelas riquezas do então império português, especialmente pelo ouro oriundo do Brasil. Já a decoração pintada só foi realizada anos mais tarde, pouco antes da Reforma Pombalina.
A Biblioteca Joanina alberga mais de 200 mil volumes, 40 mil dos quais no andar nobre, o único, dos três pisos do edifício, aberto ao público. Aí se conservam os principais fundos de Livro Antigo (documentos até 1800).
Durante a noite, e este pormenor é delicioso, soltam-se morcegos no interior da biblioteca. Estes pequenos animais têm a missão de comer traças, moscas e outras pragas que destroem os livros. Por outras palavras, os morcegos são os grandes responsáveis por os livros se encontrarem intactos.
Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra
A construção desta biblioteca, que reúne uma coleção de mais de 40 mil livros com encadernações em couro gravas a ouro remonta também ao reinado de D. João V.
A biblioteca tem 88 metros de comprimento e uma planta em cruz e alberga volumes sobre tudo um pouco, desde medicina a filosofia, passando por direito, dicionários e gramáticas, entre muitos outros temas.
Entre os exemplares que são verdadeiras raridades contam-se uma primeira edição d’Os Lusíadas e do Alcorão de 1543 e até de uma Bíblia poliglota de 1514.
Tal como na Biblioteca Joanina, também aqui uma colónia de morcegos tem liberdade para andar pelo local durante a noite, comendo todos os insetos que destroem os livros.
Biblioteca da Academia de Ciências de Lisboa
Esta é uma das mais importantes bibliotecas do país, uma vez que ao próprio espólio junta-se o conjunto de obras oriundo da Livraria do Convento Franciscano de Jesus que foi entregue pelo Estado à Academia depois de terem sido extintas as Ordens Religiosas, em 1834.
A biblioteca reúne um valioso conjunto de obras científicas de importantes personalidades como Newton, Buffon e Kepler, entre outros.
Aqui encontram-se também as mais diversas obras de filosofia, literatura, arte e teologia, tal como importante documentação portuguesa.
Uma das peças mais antigas desta biblioteca é um pergaminho do início do séc. XII com uma doação da rainha D. Teresa e seu filho, D. Afonso Henriques, havendo também outras peças dos séculos XIV, XV e XVI.
Biblioteca da Cruz Vermelha Portuguesa, Lisboa
Esta é uma novidade para mim, uma vez que não tinha conhecimento da sua existência. O melhor de escrever estes textos é que também eu aprendo e descubro diversas coisas.
Bom, voltando ao que interessa: esta biblioteca foi inaugurada em 1935 no Palácio da Rocha do Conde de Óbidos (onde é atualmente a sede da Cruz Vermelha), sendo que se trata de uma réplica do Salão Nobre da Academia de Ciências de Lisboa.
No tecto encontramos pinturas alegóricas às Artes Liberais e um painel onde figuram a rainha Santa Isabel, o rei D. Dinis e o príncipe D. Afonso. Destaque ainda para o grande lustre de cristal que se pode ver ao centro da biblioteca e que foi produzido pela famosíssima Fábrica da Marinha Grande.
No que respeita aos livros são mais de 20 mil os que desfilam nas estantes, sendo os temas dominantes as obras sobre o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e o Direito Internacional Humanitário.
Torre do Tombo, Lisboa
Esta é uma biblioteca diferente das restantes, pois é o arquivo central do Estado Português onde estão albergados os mais importantes documentos históricos portugueses.
Muitos manuscritos e documentos perderam-se ao longo dos tempos devido ao terramoto de 1755, à mudança da corte para o Brasil, ao domínio filipino e às invasões francesas.
Entre 1378 e 1755, este importantíssimo arquivo da história de Portugal esteve albergado numa torre do Castelo de São Jorge, mas devido ao terramoto que a danificou, os documentos foram transferidos para o então Mosteiro de São Bento (onde é atualmente a Assembleia da República) onde se mantiveram até 1990 quando foi construído o moderno edifício na Cidade Universitária de Lisboa.
A Torre do Tombo ocupa uma área de 54.900 metros quadrados, tem cerca de 100 quilómetros de prateleiras e atua em três áreas distintas: arquivo e investigação, atividades culturais e serviços administrativos.