Esta foi a minha primeira aventura na literatura brasileira. ‘Dom Casmurro’, de Machado de Assis, foi publicado pela primeira vez em 1899 e é um dos grandes clássicos da literatura escrito em português do Brasil.
Como foi a primeira vez que li um livro de um autor natural do Brasil não sei se é prática comum, ou não, estar escrito em português das Terras de Vera Cruz. Ao início incomodou-me um pouco, mas depois o meu cérebro habitou-se e já nem dava pela diferença.
A história é mesmo muito interessante. É mais do que a promessa que a mãe de Bentinho fez de que seria padre; é mais do que os planos de Bentinho para deixar o seminário.
É uma história que acompanha o nascimento de um grande amor, mas também de uma grande insegurança que acaba por destruir três vidas.
A escrita de Machado de Assis é deliciosa; consegue ser leve e profunda logo na frase a seguir; consegue descrever cenas banais, como uma troca de olhares, para de seguida fazer reflexões profundas sobre o ser humano.
O discurso humano é composto por partes excessivas e partes diminutas que se compensam ajustando-se
O livro está tão bem conseguido que eu terminei a leitura sem ter a certeza absoluta de que a conclusão de Bentinho – e que lhe alterou toda a vida – aconteceu de facto ou não.
Os ciúmes conseguem mesmo moldar o discernimento de uma pessoa. Terá sido mesmo traído ou a sua insegurança era tanta que os seus olhos começaram a ver o que não existia?
É uma pergunta à qual não obtemos resposta, o que não deixa de ser um dos maiores pontos de charme desta história.
Ponto positivo também para o facto de esta obra, pelo menos a edição que tenho, que é da Guerra e Paz, ainda não ter sido censurada, podendo ler-se frases como “manda-se lá um preto dizer que o senhor janta aqui” que são um retrato fiel da sociedade do final do século XIX – porque um livro também é isso: um retrato da época em que é escrito!
✅ toda a história: os detalhes da linguagem e do pensamento
❌ até um determinado momento a história é lenta e depois acelera bastante
⭐ 4