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Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

‘As Meninas Exemplares’: Um livro para os pais e para os filhos

Book Stories, 13.12.20

Castanhos Quentes Citação Inspiradora Outono Pos

 

A minha edição deste clássico foi publicada em 2019 pela editora Guerra & Paz

 

Opinião

Pese embora se trate de um clássico, esta era uma obra que eu desconhecia. É um livro dedicado ao público juvenil, estando, por isso, fora das minhas preferências. Mas eu gosto de sair da minha zona de conforto e, por isso, atirei-me sem medos a esta história.

Como já referi eu não sabia ao que ia quando comecei a ler.

Entretanto, já percebi que se trata da continuação de outro livro da Condessa de Ségur chamado ‘Os Desastres de Sofia’.

O título veste perfeitamente esta história que decorre na segunda metade do século XIX.

A Camila e a Madalena são duas irmãs que têm um comportamento exemplar: são respeitadoras, obedientes, solidárias, altruístas. As duas meninas são criadas pela mãe com toda a firmeza e, ao mesmo tempo, carinho.

A Margarida e a mãe, a senhora Rosbourg, acabam por se juntar à família Fleurville, vivendo todas no mesmo palácio.

Mais tarde, também a pequena Sofia irá viver com elas, pois a sua madrasta viaja e deixa-a ao cuidado da senhora Fleurville.

Ao contrário de Camila e Madalena, Sofia é uma menina sofrida. A morte precoce do pai atirou-a para as garras da madrasta que a detesta e que usa a violência física e verbal para a tentar educar.

Sofia, que tem uma natureza traquina, acaba sempre por fazer disparates e, como consequência, é agredida com vergastadas e impedida de comer. A este tipo de violência juntam-se ainda as ofensas e a humilhação à frente de outras pessoas.

Quando a pequena Sofia vai viver com a família Fleurville passa por um período de adaptação que a transforma. A menina tenta fazer o bem, mas acaba por se meter em sarilhos e por ser castigada.

De todo o livro este foi o momento que mais me marcou, pois há a fase inicial da revolta, como qualquer criança que é castigada. No entanto, é o momento seguinte, o do medo, que permite entender a complexidade da vida desta menina.

Sofia sabia que tinha feito asneira e é colocada num quarto sozinha, de castigo. Quando a senhora Fleuville vai ao seu encontro, a menina encolhe-se, pois está à espera de ser agredida.

O meu coração partiu-se, pois esta é uma realidade mais comum do que se possa imaginar.

Se estivermos atentos às notícias conseguimos ter um vislumbre – ainda assim longe da total realidade – do número de crianças que são vítimas de maus-tratos. Quem não se lembra da pequena Valentina que, este ano, foi assassinada barbaramente pelo próprio pai e pela madrasta?

Embora esta obra seja direcionada aos mais novos, transmitindo-lhes a mensagem de que quando são respeitadores e obedientes, não só se transformam em adultos melhores, como têm uma infância mais feliz, este livro deveria estar também indicado para a leitura de todos os pais, pois também é uma bela lição de como educar uma criança.

As crianças são sempre um reflexo dos pais; um resultado da educação e dos valores que lhes são dados, mas também das situações que vivenciam e presenciam no seio familiar. Essa é a razão pela qual uma criança que sofre de maus-tratos terá, em adulto, uma maior facilidade em maltratar outra pessoa.

Felizmente isto não é uma ciência exata e muitas destas crianças transformam-se em adultos conscienciosos que sabem que o que sofreram não é certo e menos certo ainda será perpetuar esse sofrimento.

 

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☝️Pontos Positivos: a mensagem que é transmitida pela autora

👇 Pontos Negativos: a linguagem demasiado formal das crianças que têm entre 4 e 8 anos

⭐ Avaliação: 4 estrelas

Sugestões de leitura para Dezembro (não, não são livros sobre o Natal)

Book Stories, 12.12.20

coffee-2390136_1920.jpg📸 Sofia Iivarinen por Pixabay 

           

O Natal é incontornável, bem como tudo o que lhe está associado: decorações, filmes, músicas, livros, gastronomia e por aí em diante.

No entanto, é importante que seja possível 'respirar' outros temas além do Natal, pois há pessoas que se sentem sufocadas com o rondar do espírito natalício everywhere.

Este pensamento surgiu-me quando olhei para os quase 50 emails que tenho para ler e percebi que, pelo menos, 40 falam sobre o Natal. Não é demasiado? Não se sentem um pouco sufocados? E atenção, eu adoro o Natal!

Por isso, aproveitei as sugestões da Quetzal e deixo-vos algumas dicas de livros sobre temas variados e de diversos autores.

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Deste primeiro conjunto de sugestões apenas um me despertou a curiosidade: o do Agualusa. Confesso que não gosto de poesia e que não conheço o autor Bruno Vieira Amaral.

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Nunca li nada do Paul Theroux, mas tenho alguma curiosidade. E o título do José Luis Peixoto deixa-me com vontade de adicionar o livro à lista (mas não pode ser!!!)

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Já aqui não há nenhum que me chame à atenção!

E vocês, que livros gostariam de ler dos que sugeri?

 

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Livros para oferecer aos miúdos no Natal #parte 2

Book Stories, 11.12.20

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Depois de vos ter dado a conhecer a coleção Livros Que Ajudam a Crescer da Lillipu, Fábula e Booksmile, hoje é a vez de vos mostrar a coleção Livros Que Viajam Pelo Saber.

Trata-se de mais um conjunto de livros que são ótimos para oferecer aos mais novos: têm boas ilustrações e explicam assuntos complicados de maneira muito simples.

Esta coleção é da responsabilidade da Lilliput ;)

 

 

 

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'Todos os Dias São Meus': Uma caricatura que nos leva a refletir sobre a solidão

Book Stories, 10.12.20

Castanhos Quentes Citação Inspiradora Outono Pos

 

'Todos os dias são meus', de Ana Saragoça, foi publicado em 2018 pela Planeta Editora

 

Sinopse

Um thriller surpreendente e de ir às lágrimas que é também um retrato irónico da sociedade portuguesa, seus tiques e manias.
Um livro cheio de inteligência e humor que explora os tiques e as vicissitudes de personagens que todos reconhecemos do prédio, do local de trabalho ou até mesmo das nossas amizades.
É raro a literatura portuguesa apresentar uma mistura tão fina de sensibilidade e ironia. Mais ainda quando garante uma grande dose de humor.

 

Opinião

Este livro lê-se num instante, em pouco mais de uma hora. É divertido, tem humor e uma escrita que intervala entre o simples e o cuidado.

É também um retrato quase real da sociedade e das várias personalidades que a compõem. Aliás, é um retrato quase fidedigno do que é viver num prédio com poucas pessoas. Afinal, quem não tem um vizinho ou vizinha que sabe tudo acerca da vida dos outros?

Ao mesmo tempo que vamos conhecendo os moradores do prédio onde ocorre o crime, vamos conhecendo a própria vítima, descobrindo as razões que a transformaram na pessoa solitária que nos é dada a conhecer.

Mais do que uma caricatura de alguns aspetos da sociedade, este livro é também uma reflexão sobre a solidão, sobre como vivemos rodeados de pessoas e, no entanto, tão sozinhos.

Ana Saragoça apresenta-nos várias personagens – os moradores do prédio – mas nem todos ostentam uma profundidade emocional e até racional, o que também reflete a superficialidade que existe nos tempos modernos.

Hoje em dia não conhecemos os nossos vizinhos, não conversamos com o dono do talho ou da mercearia do nosso bairro, até porque raramente lá vamos, preferimos as impessoais e grandes superfícies comerciais. Estamos sempre tão fechados em nós e tão focados no ecrã do telemóvel que nos esquecemos que existe um mundo para lá daquele que vivemos.

Este livro faz-nos também pensar em como somos cruéis com os outros quando os julgamos apenas pela aparência ou pelas suas origens; transformamos as diferenças em abismos, fazendo com que muitos caiam num poço sem fundo de onde muito dificilmente conseguirão sair. E nós nem nos apercebemos disso.

 

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☝️ Pontos Positivoshumor; retrato peculiar e acertado das codrilhices de um prédio com poucos moradores

👇 Pontos Negativos: descobre-se facilmente quem é o assassino

⭐ Avaliação: 3,5 estrelas

 

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Florbela Espanca, a poetisa que se matou no dia do seu aniversário

Book Stories, 08.12.20

Castanhos Quentes Citação Inspiradora Outono Pos

 

A razão da morte da poetisa Florbela Espanca não é consensual: há quem aponte para um acidente (derivado dos medicamentos que tomava e da doença mental que tinha) e quem garanta que se tratou de suicídio.

Mas a verdade é que a tese do suicido apresenta mais sustentação, afinal, antes de morrer Florbela já tinha tentado colocar termo à vida por duas vezes.

A terceira vez foi fatal. No dia 8 de Dezembro de 1930, a poetisa foi encontrada morta na sua cama com dois frascos de Veronal – um sonorífero extremamente forte usado na época – completamente vazios.

Florbela Espanca teve uma vida pessoal marcada por vários dissabores.

Em 1912, no dia em que completou o 19.º aniversário, a poetisa casou com Alberto Moutinho de quem se viria a separar oficialmente em 1921 depois de sofrer um aborto espontâneo que deteriorou o matrimónio.

Pouco tempo depois, a poetisa voltou a casar, mas um novo aborto espontâneo voltou a colocar a relação em maus-lençóis. Florbela divorciou-se e voltou a casar em 1925 – este segundo divórcio levou a que a sua família deixasse de lhe falar durante dois anos, o que a afetou emocionalmente.

Por esta altura, a neurose de que a poetisa padecia estava já bastante avançada: Florbela sofria de instabilidade emocional (ter-se-á apaixonado por um pianista, razão pela qual tentou suicidar-se pela primeira vez) o que, naturalmente, abalara os alicerces do seu casamento.

A segunda tentativa de suicídio acontece numa fase em que a neurose progredia a olhos vistos e a poetisa fumava desalmadamente, tendo-lhe, inclusive, sido diagnosticado um edema pulmonar.

Um a dois meses depois (não se sabe com exatidão se a segunda tentativa de suicídio ocorreu em outubro ou novembro), Florbela Espanca escolheu o dia 8 de Dezembro – dia do seu nascimento e do primeiro casamento – para encontrar o descanso final e colocou termo à vida.

Para trás deixou a sua obra, sendo eternizada na memória coletiva portuguesa pela poesia que escreveu.

 

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'Alice do Outro Lado do Espelho' ou como virar os contos de fadas do avesso

Book Stories, 07.12.20

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Pedro Rodrigues é também o autor de 'Deve Ser Primavera Algures', '(A)mar' e 'Eu Hei-de Amar uma Puta'

 

E se um dia acordássemos do outro lado do espelho?

E se a maçã vermelha de Eva fosse a mesma que a Branca de Neve trincou?

Será que a Rapunzel cortou o cabelo para evitar o contacto social?

E o Lobo: porque é que é sempre ele o mau da fita?

Estaria a profecia da Bela Adormecida certa?

E a Cinderela: precisaria, ela, de ir ao baile para ser feliz?

De uma coisa devemos estar certos: o mundo pode ruir com um póquer de ases — mas voltará a erguer-se como um castelo de cartas.

Pedro Rodrigues está de regresso com uma obra singular e sem precedente, brincando com todos os contos de fadas que conheces e virando-os do avesso!

 

Impedida de ir ao baile, a Cinderela vestiu o fato de treino, abriu uma boa garrafa de vinho e bebeu-a sozinha num copo de cristal

 

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Entrevista a Raul Minh'Alma: "As pessoas têm de perder o complexo de dizer que vão ao psiquiatra"

Book Stories, 06.12.20

Houvesse uma estrada das Índias até ao reino e e

 

‘Foi Sem Querer Que Te Quis’ foi o livro mais vendido de 2019. Qual é a expetativa para o ‘Durante a Queda Aprendi a Voar’?

A expectativa é a de que corresponda às expectativas dos meus leitores mais fiéis. Àquelas que gostam do meu trabalho. Mas, acima de tudo, é que possa ajudar muita gente, nem que seja dando-lhes mais esperança. Em termos de vendas está acima de qualquer outro livro até ao momento, mas não tenho expectativas específicas.

Como é que se sentiu ao ver que o seu livro foi o mais vendido do ano passado?

Senti-me orgulhoso e honrado porque trabalhei o ano inteiro para esse objetivo e alcancei-o. Não foi com surpresa que recebi a notícia, mas foi com muita alegria.

‘Durante a Queda Aprendi a Voar’ fala de depressão, de família e de amor. Porquê escrever sobre depressão?

Já queria há algum tempo falar sobre esta temática e tinha invariavelmente de ser este ano pelo contexto atual e por, infelizmente, ser uma doença cada vez mais comum. Eu abordo sempre algum tipo de problemática nos meus livros e eu achei importante que este fosse o tema do meu livro de 2020. Espero dar esperança e força a quem ler o livro.

Como é que preparou a abordagem ao tema? (falou com profissionais, com pacientes…)

Estudei muito sobre o tema. Li, vi e ouvi muitas pessoas a falarem sobre o assunto. Entrevistei psiquiatras, visitei inclusive um hospital psiquiátrico, vi filmes etc. Contudo, não é um livro técnico, é, acima de tudo, ficção e trata-se de um romance. É, de facto, um tema central, mas o livro aborda muitas outras temáticas.

Os exercícios que vemos descritos no livro foram aconselhados por algum profissional da área da saúde mental?

Todos eles partem de exemplos reais, mas eu próprio também lhe dei o meu cunho pessoal, dando uso à liberdade que a ficção nos permite para conseguir passar a mensagem do livro, que é, acima de tudo, de esperança e de sensibilização. Não procuro curar ninguém, mas sim ser, quem sabe, um complemento a esse tratamento que deve sempre ficar a cargo dos devidos profissionais.

O Raul acompanhou alguma situação de depressão na sua vida pessoal?

Não vivi de perto essa experiência, embora conheça pessoas que passaram por ela.

Que análise faz da forma como a saúde mental é encarada pelos portugueses?

Existe claramente preconceito. Que também eu o tinha, mas quando comecei a estudar sobre o assunto tudo ficou mais claro e normalizado. Se vamos ao médico porque temos um problema em determinada parte do nosso corpo, também devemos ir ao médico quando temos um problema na cabeça. É simples. Felizmente há muitos profissionais disponíveis para nos ajudar, o que não há é à vontade para os procurar. Precisamente por causa desse preconceito. 

Considera que deve haver um investimento maior na saúde mental, não só em meios materiais e profissionais, mas também em campanhas de divulgação?

Mais em campanhas de divulgação e sensibilização. E o meu livro é mais uma forma de o fazer. Temos de publicitar isso para normalizar e quebrar esses preconceitos. As pessoas têm de perder o complexo de dizer que vão ao psiquiatra. Tal como não têm complexos de dizer que vão ao dentista. O mal é não procurarem ajuda. 

Considera que existe preconceito para com as pessoas que sofrem de doenças mentais?

Muito, como digo acima. Mas espero ter contribuído para o amenizar.

Em ‘Foi Sem Querer Que te Quis’ o senhor Nicolau dá-nos a receita para ser feliz no amor. O Raul vai dizer-nos qual é a receita para ser um sucesso de vendas?

A receita é escrever livros em que as pessoas se revejam e saibam, a priori, que vão aprender alguma coisa e que vão evoluir enquanto pessoas durante a leitura. Acho que muita gente me lê porque sabe que, de alguma forma, vai encontrar ali respostas que nem sabia que procurava.

Até ao momento li apenas o ‘Foi Sem Querer Que te Quis’ e o ‘Durante a Queda Aprendi a Voar’, mas apercebi-me de algumas semelhanças: o casal é sempre composto por um elemento mais afortunado do que o outro (monetária e sentimentalmente) e o mais afortunado em termos de dinheiro é também o que tem maiores fragilidades emocionais. Que mensagem quer passar com personagens construídas desta forma?

Por acaso nem tinha reparado nisso, pelo que não há, pelo menos conscientemente, uma intenção ou mensagem particular sobre o aspeto da classe social. Em termos emocionais sim, porque a dualidade é importante para haver uma transferência de energia e conhecimento e criar uma dinâmica da narrativa. Além de a tornar mais heterogénea.  

Outra das semelhanças diz respeito às cenas de sexo. O homem surge sempre como estando mais à-vontade e tendo mais experiência sexual do que a mulher, o que faz com que seja ele a conduzir o momento sexual. Porquê?

São apenas dois homens e duas mulheres, pelo que não acho que seja suficiente para se considerar uma regra. Tem a ver com a personalidade dos personagens, com os momentos, com a relação entre ambos, etc. Como em todas as restantes cenas da história, não só as de sexo. Certamente haverá pessoas que hão de preferir de outra forma. É consoante o gosto de cada um.

E há ainda o facto de a mulher ser a personagem principal, no sentido em que vemos, maioritariamente, a história pelo ponto de vista dela. Porquê?

Eu escolho o ponto de vista da história que eu entendo ser o mais interessante para o leitor e para a narrativa e tem acontecido serem personagens femininas. Ainda que, ao contrário dos dois livros anteriores, neste livro o narrador é externo. Portanto nesse aspeto já diferencia dos anteriores precisamente porque me interessava também abordar os pontos de vista de outros personagens. Mas isso é definido em função da história que pretendo contar.

“A minha missão é, acima de tudo, dizer. Dizer algo que valha a pena ler ou ouvir. E quando não for capaz de o fazer espero ter o discernimento necessário para me retirar”. Esta frase foi dita pelo Raul numa entrevista. Seis livros depois ainda tem muito para dizer? Ou sente que já lhe faltam as palavras? 

Eu acabo cada livro completamente esgotado e sem nada mais para dizer. Não tenho absolutamente ideias para mais livros nenhuns porque ponho tudo o que tenho em cada livro. Mas isto é assim desde o primeiro livro, praticamente. Pelos vistos ainda vou tendo o que dizer e contar.  

Como descreve o atual panorama da literatura nacional?

Há, com certeza, muitos bons escritores, contudo penso que não estejam a conseguir chegar ao público. Porque também temos muitos leitores. Eu tenho a certeza. A ponte entre o livro e o potencial-leitor é que não está a funcionar da melhor forma.

O próximo livro já está a caminho?

Não. Ainda estou de ressaca deste (que me levou ao limite) e estou demasiado concentrado na sua promoção. Haverá tempo de assentar a poeira e refletir sobre novas histórias.

Livros para oferecer aos miúdos no Natal #parte 1

Book Stories, 05.12.20

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Com a aproximação do Natal começam a surgir as dúvidas sobre o que oferecer às crianças e jovens.

O mais simples acaba quase sempre por ser oferecer-lhes brinquedos, pois não faltam anúncios publicitários a semear a vontade nos miúdos e a inevitável obrigação nos pais, avós, tios, primos, etc.

Embora possa ser mais fácil chegar a um supermercado e comprar um qualquer brinquedo ou jogo, a verdade é que um livro pode ser mais produtivo. Primeiro, porque obriga os mais novos a usarem a imaginação e, consequentemente, a estimularem a mente. Depois porque lhes incute um gosto pela leitura que, mais tarde, será necessário e simultaneamente prazeroso.

Para facilitar a vida daqueles que têm de comprar presentes para as crianças e jovens e que não querem dar-lhes (novamente) um brinquedo elaborei uma lista de livros dirigidos aos mais novos que irei publicar ao longo de vários dias.

 

Hoje começamos com a coleção 'Livros Que Ajudam a Crescer' da Lilliput 

 
... e da Booksmile e da Fábula

 

 

 

Os livros que se deve ler nos 40 anos da morte de Francisco Sá Carneiro

Book Stories, 04.12.20

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Um dos políticos mais bem-conceituados de Portugal, Francisco Sá Carneiro, tinha uma auspiciosa carreira pela frente quando perdeu a vida, a 4 de dezembro de 1980, num trágico acidente de aviação.

Tudo aconteceu na quinta-feira da última semana de campanha eleitoral para as eleições presidenciais – as segundas do novo Portugal democrático.

Francisco Sá Carneiro seguia de avião para o Porto para um jantar comício de apoio ao candidato Soares Carneiro (apoiado pelo PPD/PSD, CDS e PPM).

Com o então primeiro-ministro viajavam Snu Abecassis (a sua companheira) e Adelino Amaro da Costa (ministro da Defesa e vice-presidente do CDS) e a sua mulher, Maria Manuela Vaz Pires.

Todos morreram na queda da avioneta, deitando por terra a AD (Aliança Democrática) e dando lugar ao bloco central (PS-PSD).

A morte do então primeiro-ministro abalou Portugal e levou a uma investigação que, volvidos 40 anos, continua a dar que falar.

Um ano após o acidente, a Polícia Judiciária encerrou a investigação, apontando como causa da tragédia um acidente, pois não havia provas em contrário.

Pela mesma tese optou também o Ministério Público que encerrou o caso em 1983.

Mas entre 1982 e 2011 realizaram-se dez comissões parlamentares, das quais oito apontaram, claramente, que a queda da avioneta que matou Sá Carneiro não foi um acidente, mas sim um atentado.

Este é um episódio da história portuguesa recente que tem dado aso a muitas teorias e, consequentemente, muitos livros. Existem os defensores da tese de acidente e os que garantem que tudo aponta para que se tenha tratado de um atentado.

A panóplia de obras publicadas é grande e, abaixo, ficam algumas que se encontram atualmente com desconto.

 

Leya (livros com 30 e 50% de desconto)

 

 

Wook (livros com desconto de 20%)

 

Bertrand (livros com desconto de 10%) 

 

'O Livro do Império': A quem se deve a publicação d'Os Lusíadas'?

Book Stories, 03.12.20

Castanhos Quentes Citação Inspiradora Outono Pos

 

'O Livro do Império', de João Morgado, foi publicado pelo Clube do Autor em 2018

 

Sinopse

Século XVI. Os tempos gloriosos do império português chegam ao fim. O desejado rei D. Sebastião vive para os sonhos de glória. Cego à corrupção da nobreza que prospera aquém e além-mar, permite que a Inquisição imponha o obscurantismo, acusando e julgando as mentes mais iluminadas. Contra tudo e contra todos, um poeta-soldado caído em desgraça decide contar a história épica de um povo para o relembrar da grandeza de outrora e salientar o desvirtuamento do poder que se vive no reino. Mesmo sabendo que corre perigo de vida.

Como era a vida dos portugueses de então e como interagiam com os outros habitantes nos territórios além-mar do império? Com tantos inimigos no poder, como pôde ser publicada uma obra que era provocadora aos olhos da Corte e da Inquisição?

 

Opinião

A leitura não é fácil apenas e somente devido à linguagem utilizada, uma vez que o autor recorre àquela que se usava no século XVI e à qual eu não estou habituada. Mas uma vez habituada, a leitura corre capítulo sobre capítulo.

O que mais me impressionou nesta obra foi a capacidade de João Morgado conseguir contar a história de vida de Luís Vaz de Camões ao mesmo tempo que conta o estado em que se encontra o então império português, sendo que a ‘cereja no topo do bolo’ é o facto de o autor inserir no meio da narrativa versos do poeta.

A construção narrativa é brilhante, pois ajuda-nos a perceber que determinado momento contribuiu para a criação de determinado verso e/ou poema.

 

Luís Vaz de Camões

Eu pessoalmente nunca me debrucei sobre Camões e a sua vida e depois de ler este livro fiquei com uma visão dupla sobre o grande poeta português. Por um lado, lamento a difícil vida que teve, cheia de injustiças provocadas pela cólera de pessoas bem colocadas na sociedade de então, posição que lhes permitiu castigar Camões; por outro lado, muito do que lhe aconteceu foi resultado da sua personalidade tempestiva.

O poeta era dado a grandes paixões desmedidas, acabando por importunar, e por vezes humilhar, outras pessoas com a beleza das suas palavras e dos seus versos. E considerava-se melhor do que os outros. Quando recebia conselhos literários dos seus amigos que não iam ao encontro do que queria ouvir logo lhe fervia o sangue!

Mas Camões foi também alvo da sua inocência em acreditar numa Pátria que só ele reconhecia: grandiosa, importante, dominadora.

 

Que glória, Camões? Se este império se definha em Lisboa e se desgasta nas Índias?

 

A verdade é que o grande poeta que hoje todos celebramos teve uma vida muito difícil com várias passagens pela prisão e por diversos territórios do vasto império português.

Esta experiência de vida foi o que lhe permitiu escrever com a grandiosidade que lhe é reconhecida 'Os Lusíadas'. Mas também é verdade que a obra só foi publicada graças ao empenho dos seus amigos, pois Camões era um pobre coitado, sem dinheiro, sem trabalho e com muitos inimigos da corte resultantes dos seus versos – por vezes lascivos.

Camões morreu doente e praticamente na miséria, conseguindo sobreviver graças à ajuda dos seus amigos influentes que lhe dispensavam algumas coroas que lhe permitissem ter comida na mesa e alguma dignidade na sua sobrevivência.

 

 

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As personagens

Camões é, sem dúvida, a personagem principal, Mas não é a única. Há também a mulher de negro que aparece em vários momentos da trama, sempre acompanhando o poeta, muitas vezes sem ele se aperceber.

Entre os grandes amigos de Camões que o ajudaram a conseguir publicar a sua obra e a conseguir sobreviver contam-se Jau (um nativo asiático que conhece a bordo da nau Santa Clara, no regresso a Portugal e que se torna o seu fiel companheiro até ao dia da sua morte); Manoel de Portugal, Diogo do Couto e Cristóvão de Távora. Foram estes os grandes pilares para que a sua obra fosse publicada.

Temos também D. Sebastião sobre quem nunca li muita coisa (não é um rei que me cative) e sobre quem fiquei com a pior das impressões: fraco física e psicologicamente, orgulhoso e vaidoso demais (tanto que milhares de portugueses morreram na batalha de Alcácer-Quibir sem que para isso houvesse necessidade).

Temos também o cardeal D. Henrique – que autoriza a publicação d’Os Lusíadas porque a obra criticava a união das nações da Península Ibérica desejada por Espanha e porque era uma forma de afrontar os irmãos Câmara (aquela vingança pessoal tão típica) – dois jesuítas que tinham plena influência sobre o jovem rei.

A interação destas personagens ao longo da obra permite-nos perceber como é que o império português caiu estrondosamente; como as oportunidades que o país teve para se desenvolver ficaram cativas no interesse pessoal de cada um; como o rei, em Lisboa, rodeado pelas pessoas erradas, não fazia a menor ideia do que se passava nos seus territórios além-mar.

 

A história

O Cardeal D. Henrique concordou em publicar 'Os Lusíadas' porque eram uma crítica à união das nações da Península e porque, acima de tudo, queria evitar que Espanha tomasse Portugal como seu território. O tio-avô de D. Sebastião concorda também que a pátria precisa de se unir, vendo n’Os Lusíadas, que cantam as conquistas do povo, o mote para o regresso de Portugal à grandeza. “São certeiros no seu falar e deitam sal nas feridas que se abriram em Portugal”, diz o cardeal.

Mas antes de ser publicada, a obra foi rejeitada pela Inquisição (minada pela influência dos Câmara).

Interessante é também a visão que nos é dada dos Descobrimentos. Na escola estudamos que se trata da maior e mais bela empreitada de Portugal, mas a verdade é outra: as embarcações eram um cemitério de pessoas que morriam de fome e doenças. Os piolhos eram uma praga, tal como as ratazanas que atacavam as pessoas e as descarnavam à falta de alimento, vivendo todos juntos, durante os meses que duravam as viagens marítimas, em pequenos cubículos que tresandavam a dejetos.

Houvesse uma estrada das Índias até ao reino e estaria toda calçada de ossos de portugueses perdidos em tão arriscada viagem

 

Conclusão

‘O Livro do Império’ é uma obra brilhante escrita com base numa enorme investigação feita por João Morgado, como comprovam as quase 50 entradas na bibliografia do livro.

O autor conta-nos como Camões viveu e morreu na pobreza. Como a inveja da sociedade reinante não o deixou viver à luz do que significava a sua obra.

E a verdade é que esta é uma história do Portugal do século XVI que continua a ser atual: ao homem só é dado reconhecimento post mortem; a sociedade está cravada de interesses pessoais que colocam para último plano o interesse nacional, o interesse do povo na sua totalidade.

Basta olhar para os altos cargos públicos para percebermos que assim é: o primo, o amigo, o cunhado, o filho... uma imensidão de gente próxima de alguém influente que de nada tem de próximo ao desígnio nacional que, por sua vez, cada vez mais se afunda na imensidão da ganância, esquecendo-se as gentes que um dia tudo acaba, para cada um, e para todos.

 

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☝️ Pontos Positivosconhecer melhor a vida de Luís de Camões, bem como a sua mente e a sua personalidade

👇 Pontos Negativos: Uma escrita não muito fácil de digerir

⭐ Avaliação: 4,5 estrelas