‘As Meninas Exemplares’: Um livro para os pais e para os filhos
A minha edição deste clássico foi publicada em 2019 pela editora Guerra & Paz
Opinião
Pese embora se trate de um clássico, esta era uma obra que eu desconhecia. É um livro dedicado ao público juvenil, estando, por isso, fora das minhas preferências. Mas eu gosto de sair da minha zona de conforto e, por isso, atirei-me sem medos a esta história.
Como já referi eu não sabia ao que ia quando comecei a ler.
Entretanto, já percebi que se trata da continuação de outro livro da Condessa de Ségur chamado ‘Os Desastres de Sofia’.
O título veste perfeitamente esta história que decorre na segunda metade do século XIX.
A Camila e a Madalena são duas irmãs que têm um comportamento exemplar: são respeitadoras, obedientes, solidárias, altruístas. As duas meninas são criadas pela mãe com toda a firmeza e, ao mesmo tempo, carinho.
A Margarida e a mãe, a senhora Rosbourg, acabam por se juntar à família Fleurville, vivendo todas no mesmo palácio.
Mais tarde, também a pequena Sofia irá viver com elas, pois a sua madrasta viaja e deixa-a ao cuidado da senhora Fleurville.
Ao contrário de Camila e Madalena, Sofia é uma menina sofrida. A morte precoce do pai atirou-a para as garras da madrasta que a detesta e que usa a violência física e verbal para a tentar educar.
Sofia, que tem uma natureza traquina, acaba sempre por fazer disparates e, como consequência, é agredida com vergastadas e impedida de comer. A este tipo de violência juntam-se ainda as ofensas e a humilhação à frente de outras pessoas.
Quando a pequena Sofia vai viver com a família Fleurville passa por um período de adaptação que a transforma. A menina tenta fazer o bem, mas acaba por se meter em sarilhos e por ser castigada.
De todo o livro este foi o momento que mais me marcou, pois há a fase inicial da revolta, como qualquer criança que é castigada. No entanto, é o momento seguinte, o do medo, que permite entender a complexidade da vida desta menina.
Sofia sabia que tinha feito asneira e é colocada num quarto sozinha, de castigo. Quando a senhora Fleuville vai ao seu encontro, a menina encolhe-se, pois está à espera de ser agredida.
O meu coração partiu-se, pois esta é uma realidade mais comum do que se possa imaginar.
Se estivermos atentos às notícias conseguimos ter um vislumbre – ainda assim longe da total realidade – do número de crianças que são vítimas de maus-tratos. Quem não se lembra da pequena Valentina que, este ano, foi assassinada barbaramente pelo próprio pai e pela madrasta?
Embora esta obra seja direcionada aos mais novos, transmitindo-lhes a mensagem de que quando são respeitadores e obedientes, não só se transformam em adultos melhores, como têm uma infância mais feliz, este livro deveria estar também indicado para a leitura de todos os pais, pois também é uma bela lição de como educar uma criança.
As crianças são sempre um reflexo dos pais; um resultado da educação e dos valores que lhes são dados, mas também das situações que vivenciam e presenciam no seio familiar. Essa é a razão pela qual uma criança que sofre de maus-tratos terá, em adulto, uma maior facilidade em maltratar outra pessoa.
Felizmente isto não é uma ciência exata e muitas destas crianças transformam-se em adultos conscienciosos que sabem que o que sofreram não é certo e menos certo ainda será perpetuar esse sofrimento.
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☝️Pontos Positivos: a mensagem que é transmitida pela autora
👇 Pontos Negativos: a linguagem demasiado formal das crianças que têm entre 4 e 8 anos
⭐ Avaliação: 4 estrelas