Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

A boa surpresa que é 'Tudo o Que Sempre Quis'

Book Stories, 30.11.20

Castanhos Quentes Citação Inspiradora Outono Pos

‘Tudo o Que Sempre Quis’, da Ana Rita Correia, foi publicado em 2018 pela Euedito.

Sinopse

Salvador. Lucas. Helena. Sara e Martim. Cinco jovens que se perderam algures na estrada da vida. Todos eles têm assuntos pendentes, cicatrizes e fantasmas que insistem em persegui-los onde quer que vão. Até mesmo quando, um por um, por um motivo ou por outro, se refugiam numa pequena Vila à beira-mar sem saberem até que ponto os seus destinos estão traçados. Uma história de amor, de amizade, de dor, perdão e segundas oportunidades. Mas acima de tudo, lealdade. Ninguém é forte o suficiente ao ponto que não precise de outro alguém. O que faria com uma noite que mudou tudo? Até onde iria em nome do amor?

 

As personagens

Temos o Salvador, o nosso primeiro cliché. Surfista, giríssimo, educado, gentil e com um corpo desenhado pela mão dos deuses. Salvador é uma ótima pessoa, mas há momentos em que passa a ser o ‘diabo feito em gente’, como diz a minha avó. Ponto para a Ana Rita que conseguiu construir uma personagem boazinha que tem também um lado perigoso.

O amigo do Salvador é outro cliché: o miúdo mau, prestes a seguir um caminho nada auspicioso, mas que acaba por entrar na linha.

A Helena, a irmã do Salvador, é uma personagem fraca quando, na verdade, tinha tudo para ser um dos principais pilares desta história.

A Sara também podia ter um desenvolvimento maior, pois a sua história de vida dava ‘pano para mangas’.

O Lucas, irmão do Salvador, é uma perfeita desilusão. Eu nem percebi muito bem como é que ele ficou ferido.

Hugo é o vilão. É capaz de qualquer coisa para vingar o irmão e, no entanto, muda de ideias com alguma facilidade.

 

Opinião

Ultimamente tenho-me dedicado à leitura de novos autores portugueses e não estou nada arrependida. Este livro foi uma boa surpresa, pois achei que seria apenas mais um romance, uma história de amor que tem tudo para correr mal e depois acaba por correr bem.

Enganei-me um pouco. Sim, é um romance, sim é uma história de amor que tem tudo para correr mal e acaba por correr bem, mas é também uma história bem construída, mas pouco desenvolvida, o que se desculpa pela inexperiência da jovem autora.

As personagens são, na sua maioria, passíveis de serem complexas, mas infelizmente pouco exploradas. Quase todas as personagens têm um grande potencial, mas faltou coragem - ou know how - à autora para lhes dar profundidade. Talvez tivesse receio de atrasar a história ou não tenha conseguido delinear uma storyline em que pudesse fazer jus a todo o potencial das suas personagens.

O evento que marca toda a narrativa – o subtítulo do livro é “bastou uma noite para mudar de tudo” – deveria ter tido mais atenção da autora. É um momento traumático que marca várias personagens, mas pouco explorado. Como foram os dias após o sucedido? Como é que o Lucas ficou ferido? Como é que a Helena ultrapassou? Como e por que razão o Hugo é preso? Ficam algumas questões por responder.

Apesar disso há aspetos positivos. Primeiro o facto de em alguns momentos a mesma cena ser vista pelo ponto de vista de duas personagens diferentes. Não acontece sempre, apenas em algumas cenas mais marcantes, o que torna aqueles momentos mais especiais.

Depois, o facto de a história estar dividida em duas partes, o que me aguçou muito a curiosidade e me fez continuar a ler por várias horas.

Num romance banal a primeira parte teria sido o fim do livro, mas a Ana Rita teve a inteligência de não resolver tudo em meia dúzia de páginas, obrigando-nos a imaginar o que é que poderia acontecer ainda mais.

Houve ainda duas mensagens que retirei desta leitura: ninguém é totalmente bom ou totalmente mau e todos nós temos assuntos do passado que ficaram por resolver e que, de alguma forma, nos vão perseguir até que os resolvamos ou até ao fim dos nossos dias.

Em suma, é um livro muito interessante de uma jovem autora que poderá ter um bom futuro enquanto escritora. A experiência ensiná-la-á a corrigir algumas imperfeições narrativas, a corrigir alguns erros ortográficos e a aprofundar a história e as personagens.

 

📖

☝️ Pontos Positivos: A história e a divisão do livro em duas partes

👇 Pontos Negativos: Os erros ortográficos, o não aprofundar da história e das personagens e a linguagem muito surfista das personagens

⭐ Avaliação: 3,8 estrelas

 

classicos-billboard

Escritora Lídia Jorge em destaque... no México

Book Stories, 29.11.20

Castanhos Quentes Citação Inspiradora Outono Pos

Por ocasião da entrega do Prémio FIL de Literatura a Lídia Jorge, a Feira Internacional do Livro de Guadalajara, no México, o maior festival literário do mundo, que este ano se realiza online, de 28 de Novembro a 6 de Dezembro, irá dedicar uma boa parte da sua programação à vida e à obra da escritora portuguesa.

No sábado, 28 de Novembro, às 18h00, a cerimónia de inauguração do Festival incluiu a entrega a Lídia Jorge do 'Premio FIL de Literatura em Línguas Românicas 2020' e contou com a participação da também escritora catalã Anna Caballé.

Na segunda-feira, 30 de Novembro, às 19h00, realiza-se a sessão 'Mil jóvenes con Lídia Jorge', com a presença de Lídia Jorge e do escritor mexicano Benito Taibo.

Na sexta-feira, 4 de Dezembro, às 20h00, a autora de 'Os Memoráveis' participa  no Encuentro Internacional de Cuentistas, ao lado do escritor Guatemalteco Eduardo Halfon.

Todas estas sessões podem ser acompanhadas em direto no site oficial do festival

'Torto Arado' soma e segue. Depois do Prémio Leya, o Prémio Jabuti

Book Stories, 28.11.20

Torto Arado[8433].jpg

Continuam as boas notícias em torno de 'Torto Arado', romance do escritor brasileiro Itamar Vieira Junior, que depois de ter vencido o Prémio LeYa, em 2018, e de esta semana ter sido incluído entre os cinco finalistas do Prémio Oceanos, acaba agora de ser anunciado vencedor do Prémio Jabuti, o mais importante prémio literário do Brasil, superando livros de autores como Chico Buarque, Adriana Lisboa ou Paulo Scott.

Uma distinção sobre a qual já se pronunciou Manuel Alegre, presidente do júri do Prémio LeYa, satisfeito por ver que o prémio está a cumprir um dos seus objectivos.

“É com satisfação que constato que a atribuição do Prémio LeYa contribuiu para revelar e consagrar um jovem escritor brasileiro não só em Portugal como no Brasil. E este é um dos objectivos do Prémio – revelar novos talentos da literatura em língua portuguesa. Estão de parabéns Itamar Vieira Junior e o Prémio LeYa"

Depois do Prémio LeYa e, agora, do Prémio Jabuti, ficamos ansiosamente à espera do desfecho do Prémio Oceanos – em que Torto Arado é um dos dez finalistas.

Itamar Vieira Junior nasceu em Salvador da Bahia, Brasil. É geógrafo e doutor em Estudos Étnicos e Africanos, com pesquisa sobre a formação de comunidades quilombolas no interior do Nordeste brasileiro.

Publicou a coletânea de contos 'A Oração do Carrasco' (2017), finalista do Prémio Jabuti de Literatura. Tem contos traduzidos e publicados em revistas especializadas em França e nos EUA. 

Comprar livros em segunda mão: reciclar ou poupar?

Book Stories, 27.11.20

books-2597193_1920.jpg

📸 StockSnap por Pixabay

Desde que entrei para a comunidade bookstagram que me apercebi que existe uma grande quantidade de contas nesta rede social que se dedicam à venda de livros em segunda mão.

Como tudo na vida, esta atividade tem os seus prós e os seus contras.

 

As vendas no Instagram e nas Feiras 

Na minha ótica, a grande vantagem desta prática é conseguirmos comprar livros com preços muito mais acessíveis. Todos nós sabemos que os livros em Portugal são bastante caros o que, eu considero, é uma das razões pelas quais se lê tão pouco. Por outro lado, também sei que as editoras e os autores precisam de ganhar dinheiro pois, tal como nós, também têm contas para pagar ao final do mês.

Ainda assim, confesso que há uma grande quantidade de livros que compro em segunda mão, seja online, seja em feiras.

Embora admita que desta forma as editoras e os autores perdem dinheiro, eu acredito que a perda não é total, pois já me aconteceu comprar um livro numa feira e/ou em plataformas online e depois ter gostado tanto que acabei por comprar mais obras daquele autor através dos canais oficiais. Se eu não tivesse comprado aquele livro em segunda mão seria pouco provável que viesse a arriscar gastar 17 euros num livro que não tinha a certeza se iria gostar ou não.

 

Quem vende os livros em segunda mão?

Do ponto de vista de quem os vende é mais difícil fazer uma leitura tão completa, até porque há, pelo menos, duas variantes: os que vendem os livros que têm em casa e os que vendem livros que não faço ideia onde é que os vão conseguir.

No primeiro caso eu própria já pensei em vender alguns livros que tenho aqui por casa e que, ou já li e não gostei e, por isso, não faço questão de os ter nas prateleiras, ou então foram livros que me foram oferecidos, mas pelos quais não nutro qualquer curiosidade.

Ainda não pus mãos à obra nesse sentido por duas razões: preguiça (confesso) e porque quando penso em fazê-lo lembro-me sempre que podia doar os livros (mas, por preguiça, também ainda não pesquisei por nenhuma instituição que esteja à procura de livros, por isso se souberem de alguma digam-me).

Quanto aos livros que são vendidos nas feiras – locais onde compro bastantes, admito – sempre me questionei onde é que aquelas pessoas os vão buscar. Já reparei, aliás, que os livros estão acomodados em caixas de cartão com os logótipos das editoras – alguém sabe como é que se processa este tipo de venda? Serão as editoras a ceder os livros a preços irrisórios para os conseguirem vender?

 

E o que preferem os leitores?

A somar a todas estas questões há ainda outra particularidade: e os leitores?

Há pessoas - como eu eu - que não se importam rigorosamente nada que um livro já tenha tido outro dono, desde, claro, que se encontre em bom estado, pois ninguém gosta de ter livros danificados.

Mas também há 'livrólicos' que preferem ser os primeiros a folhear as páginas para sentir aquele cheiro tão característico a páginas novas de livros.

Preferem livros novos ou não se importam de ter livros em segunda mão ou livros que não se sabe bem se são novos ou se já tiveram outros donos?

Qual é a vossa opinião sobre este tema?

 

classicos-billboard

'Mulheres Sem Medo': A história do feminismo

Book Stories, 26.11.20

"No século XIX, as mulheres e os homens tinham vidas muito diferentes"


Este é o ponto de partida para 'Mulheres sem Medo', o novo livro da ensaísta e jornalista Marta Breen e da ilustradora Jenny Jordahl. Uma novela  gráfica sobre os 150 anos do feminismo, as suas principais figuras e as causas que defende que está nas livrarias desde o dia 20 de novembro.

O artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos do Homem começa por dizer o seguinte: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
dignidade e em direitos". Mulheres sem medo_capa.jpg

Mas será que sempre foi assim? Será que, atualmente, é isso que acontece? 

Neste livro, Marta Breen e Jenny Jordahl abordam, com sentido de humor e poder de síntese, 150 anos de coragem, garra e visão de quem lutou e ainda luta pelos direitos das mulheres à volta do globo. Quinze décadas de ativismo pelo direito ao voto, ao aborto e à contraceção, de reinvidicações por algo tão simples como a liberdade e a igualdade, a educação e o direito ao próprio rendimento – sem esquecer a defesa do casamento gay e o movimento #metoo.

A história do movimento das mulheres é um importante ponto de viragem na História da Humanidade, desde tempos em que a mulher estava sujeita primeiro ao pai e depois ao marido – sem acesso à educação, sem poder possuir terras e sem ter direito a participar em reuniões políticas –, até aos dias de hoje, em que as mulheres são livres de tomar as suas decisões e, apesar de o caminho ainda não estar terminado, o mundo é melhor para elas e para todos do que há 150 anos.

Mulheres sem Medo é uma novela gráfica de grande qualidade, por dois talentos noruegueses, que relata alguns dos principais acontecimentos desta luta, rompendo com o pensamento de que "as mulheres devem ficar em casa com a família e não maçar a sua cabecinha com outras coisas".

 

classicos-billboard

Sabias da existência d'O Essencial da História do Mundo'?

Book Stories, 25.11.20

Capa_O Essencial da Hist�ria do Mundo.jpg

 

Sabia que… em 1900, 23% da população mundial se concentrava na Europa? Que a Guerra dos Cem Anos durou, na realidade, 116 anos? Ou que a Bíblia foi o primeiro livro impresso, em 1455? 

Já está disponível no Círculo de Leitores 'O Essencial da História do Mundo', o segundo volume da coleção 'O Essencial', também constituída pelos títulos 'O Essencial da Medicina' e 'O Essencial da Ciência'.

Esta nova coleção oferece um panorama completo, cativante e rigoroso sobre estas matérias. Um manancial de informação concisa e acessível, contendo os saberes essenciais – o que temos mesmo de saber, e não só – sobre o tema de fundo de cada volume. Mas como o saber não ocupa lugar, a informação contida nestes volumes vai além dos saberes basilares, tornando-se também uma fonte de conhecimento para quem quiser aprofundar um pouco mais.

Num mundo cada vez mais interconectado, em que os impactos positivos e negativos de regiões distantes se fazem sentir em todo o planeta, o conhecimento da história mundial é um saber ainda mais essencial.

E para testar esse saber, seríamos capazes de responder a estas questões?:

Que países designa o acrónimo BRICS?

Qual é o ato fundador da Europa?

No século XXI, que país é o primeiro produtor mundial de ópio?

Quem são os mogóis?

Quais as origens dos nomes dos estados norte-americanos?

Que potências se defrontaram na Guerra dos Sete Anos?

Quando foram traçadas as fronteiras de África?

Qual a data de fundação do Estado Islâmico?

Que acontecimento trágico desencadeou o genocídio ruandês?

Desde quando é independente a Grécia?


O 'Essencial da História do Mundo' esclarece todas estas perguntas, e muitas outras. Dos grandes impérios da Antiguidade à queda da URSS, da Europa de Carlos Magno à China do século XIX, passando pela fundação dos Estados Unidos e pelo longo caminho para as independências africanas, convida-nos para uma viagem pelos séculos afora, analisa a evolução das grandes civilizações, a crescente importância da Índia, do Irão, da Rússia e do Brasil, e decifra a nova ordem do mundo que hoje se desenha

 

Black Friday 2020 | 27 de novembro | Billboard V2

'Durante a Queda Aprendi a Voar': Finalmente um romance que fala da saúde mental

Book Stories, 24.11.20

Castanhos Quentes Citação Inspiradora Outono Pos

‘Durante a Queda Aprendi a Voar’ é o terceiro romance de Raul Minh’Alma. Foi publicado em Novembro pela Manuscrito e já vai na segunda edição. 

* Não podia começar esta crítica literária sem agradecer à Manuscrito pela cedência de um exemplar do livro. Muito obrigada

 

Sinopse

Quando Teresa recebe a notícia de que o pai tem uma depressão, está longe de imaginar que os próximos tempos serão os mais intensos e transformadores da sua vida. Determinada em ajudar o pai, Teresa começa a acompanhá-lo nas terapias de grupo numa clínica de saúde mental.

É aqui que conhece Duarte, o irmão de um paciente internado na clínica, cujo passado permanece envolto em mistério. Ela é resoluta e pragmática, ele romântico e brincalhão, mas, apesar das diferenças, o destino insiste em tentar juntá-los. Tudo se complica quando Teresa começa a ter inexplicáveis pressentimentos e visões. Será que ela é capaz de prever o futuro? E será que Duarte faz parte dele?

 

História          

Teresa é uma jovem que está a estudar Direito para ser advogada, tal como a sua mãe. É pragmática e pouco dada a sentimentalismos. No entanto, a sua vida começa a mudar na manhã em que o pai a acorda e lhe diz que está com o início de uma depressão.

Teresa não se sente surpreendida, pois tem a sensação de que já o sabia, mesmo antes de o pai o dizer e, a partir desse momento, decide empenhar-se para o ajudar a ultrapassar a doença.

Assim, a jovem acompanha-o a uma clínica para o mesmo se consultar e participar em terapias de grupo. Nesta clínica, Teresa conhece Duarte que frequenta aquele local porque o seu irmão mais velho se encontra lá internado.

Ao longo da história vamos acompanhando a evolução do tratamento de Fernando e o peso que a terapeuta coloca na ajuda da Teresa. Ao mesmo tempo vamos conhecendo melhor a história de vida do Duarte que, apesar de ser o oposto de Teresa, vai sentir-se atraído por ela.

 

Personagens

A Teresa está segura da pessoa que é e da pessoa que quer ser. Só que afinal não. Teresa é uma jovem com problemas de confiança gerados por situações decorridas na sua adolescência. A pressão que a mãe lhe coloca nos ombros para que seja uma advogada de sucesso como ela começa a sufocá-la aos poucos.

Fernando é um pai zeloso que está disposto a tudo para ajudar a filha, até a mentir.

Duarte é um jovem que gosta de viver aventuras e que tem um enorme sentimento de responsabilidade para com o irmão que sofre de uma doença mental e, por isso, está internado na clínica. Ao contrário de Teresa, Duarte envolve-se facilmente com as pessoas para as ajudar e não tem problemas em assumir que gosta de alguém quando o sentimento efetivamente existe.

Guilherme é o irmão do Duarte e que sofre de uma doença mental grave. Quando descobrimos qual é ao certo a doença e o que a provocou ficamos com um aperto no peito.

Sentimento semelhante temos quando conhecemos melhor o senhor Alfredo, que é o colega de quarto do Guilherme.

 

 

classicos-billboard

 

Opinião

Comecei a ler este livro depois de ter lido ‘Foi Sem Querer Que Te Quis’ (review sairá em dezembro) e estava muito expectante.

Sabia perfeitamente que a história ia ter um romance entre o Duarte e a Teresa e não me enganei. Cá está o cliché. Porém, este foi dos poucos que encontrei, o que é ótimo, pois denota um desenvolvimento por parte do autor.

O que mais gostei neste livro foi o facto de tratar de um problema tão grave e tão pouco falado, que é a saúde mental. Considero que existe ainda um grande estigma na sociedade para com as questões mentais. Afinal ninguém diz que vai a um psicólogo ou a um psiquiatra com a mesma ligeireza de espírito como diz que vai ao dentista.

E porquê? Era um bom tema para outro livro do Raul, quiçá uma continuação deste (fica a dica).

O autor mostra-nos algumas formas de terapia utilizadas, não só no tratamento da depressão, como também com outros pacientes que padecem dos mais distintos transtornos mentais e dá especial destaque à importância que o seio familiar tem para estas pessoas.

A relação entre a Teresa e o pai é deliciosa pela sua cumplicidade que vai aumentando à medida que juntos passam pelo problema da depressão, uma doença que é invisível e que, por isso, muitas vezes é diagnosticada já numa fase muito avançada, o que dificulta todo o seu processo terapêutico.

O final deixou-me boquiaberta (já começo a ficar habituada às partidas que o Raul gosta de pregar no final dos livros). Não contava com o desfecho que teve, mas gostei bastante, pois foi uma forma brilhante de mostrar como um pai é capaz de fazer tudo pelo bem-estar da sua filha, mesmo sem ela o saber, e como a depressão é mesmo uma doença que ataca sem que uma pessoa se aperceba.

De referir ainda que o autor fez questão de mostrar outro tipo de dinâmica familiar que é muito prejudicial e que diz respeito à forma como muitos pais e mães projetam nos seus filhos os seus próprios sonhos, impedindo, em muitas situações, que os filhos sejam quem verdadeiramente são, o que os aprisiona numa rede de mentiras e dissimulações que pode ter efeitos nefastos a nível do desenvolvimento mental e emocional.

Houve, contudo, um pormenor que me deixou desiludida. As cenas de sexo são sempre praticamente iguais quando comparadas com a do livro 'Foi Sem Querer Que Te Quis', o que é aborrecido, pois há tanta forma diferente de vivenciar a sexualidade sem ser sempre o homem a tomar as rédeas da situação.

 

📖

☝️ Pontos PositivosO explorar do tema da saúde mental e o final

👇 Pontos Negativos: A pouca criatividade no que toca às cenas de sexo

⭐ Avaliação: 4,5 estrelas

O que têm em comum Luísa Castel-Branco, motos e receitas?

Book Stories, 21.11.20

Laranja Ilustrado halloween Post Facebook.jpg

 

 

O tempo da infância é diferente de todos os outros. É repleto de magia, de risos e lágrimas, de medos e desafios. Durante a infância, temos a certeza de que tudo vai ser possível e não sabemos que nunca mais voltaremos a sentir-nos assim. Sob a forma de emoções, e alimentando pensamentos, ficam memórias construídas com as coisas mais estranhas, como se de um edifício se tratasse ou um jardim desenhado com cuidado e desvelo. 

Quando eu era pequenina.jpg

O livro 'Quando Eu era Pequenina – Pensamentos e Emoções Sobre a Infância e a Memória', de Luísa Castel-Branco, que marca a entrada da autora para o catálogo da Contraponto, é o primeiro de uma trilogia dedicada à infância e às memórias, ao amor e aos filhos e ao envelhecimento e à morte com a autora a levar o leitor pela mão até à ruralidade dos arredores da Lisboa dos anos 50 e 60, uma realidade povoada de grandes árvores bravias, de gado pachorrento, de personagens estranhas, de bailaricos apaixonantes ou de mistérios familiares.

E à memória tanto nos vem o cheiro da terra molhada de quando íamos para a escola e o outono começava a aparecer devagarinho, como o toque daquele vestido de que tanto  gostávamos e que nos fazia sentir tão crescidas. Verdadeiro e corajoso, delicado e afetuoso, arrancado do fundo da alma, 'Quando Eu Era Pequenina', de Luísa Castel-Branco é uma obra preciosa, à qual nenhum coração sensível poderá ficar indiferente.

Com este livro de memórias, Luísa Castel-Branco e a Contraponto inauguram uma trilogia de cariz íntimo e pessoal dedicada à infância e às memórias, ao amor e aos filhos, e ao envelhecimento e à morte. 

Para os próximos dois anos, ficam prometidos O Amor é uma Invenção dos Pobres – Pensamentos e Emoções Sobre o Amor e os Filhos e Agora Que Falta Tão Pouco – Pensamentos e Emoções sobre o Envelhecimento e a Morte. 

 

 

Há sons inconfundíveis, que se distinguem com precisão, mesmo à distância. Assim são os motores das motorizadas portuguesas de cinquenta centímetros cúbicos, 50cc, que não existem sem a nostalgia de uma viagem ao passado. Ao delicioso arranque e roncar contínuo, umas vezes mais agudo, outras com o tom grave que a solenidade exige, alia-se o design único e singular das motos que marcam a época em que o país rural se industrializou. 

As motos da nossa vida.jpg

'As Motos da Nossa Vida', com assinatura de Pedro Pinto, é a promessa dessa viagem alucinante a parte significativa da nossa História do século XX. Chega hoje às livrarias.

Com capa dura, um belíssimo papel Magno Satin de 150 gramas e inúmeras fotos e ilustrações, este livro resulta da paixão de uma vida dedicada às motorizadas em Portugal. Página a página, faz a história da idade de ouro das 50cc fabricadas em Portugal, desde os primeiros velocípedes a motor até à «moda da motorizada» e às corridas de velocidade.

À boleia de meninas como as V5 (SIS-Sachs), as Famel Zündapp (ah, as Famel-77!) e as Alma («o motor com menos oficina»), sem esquecer as memoráveis Pachancho Himalaia, Casal Carina, Dori Gó Gó, Fundador Fera, Vilar Cucciolo, Famel Foguete, as XF-17, a Macal Cross ou a Casal Boss, 'As Motos da Nossa Vida' revisita as pequenas e grandes fábricas que, um pouco por todo o país, inventaram e desenharam modelos, criando riqueza e emprego, exportando milhares de exemplares, antes de desaparecerem para nossa tristeza.

Com as rotações a disparar, esta é uma viagem sentimental a um tempo maravilhoso e cheio de velocidade.

"Fogo, a moto é linda!" – lembra-se disto? Pois agora mude ligeiramente a frase: "Fogo, o livro é lindo!" E é, seus aceleras.

 

 

A via para um mundo melhor e mais sustentável passa, em boa parte, por aquilo que comemos. Hoje em dia, a alimentação – ou a falta dela – levanta grandes dificuldades às pessoas e ao ambiente. A indústria alimentar é responsável por uma parte considerável da influência humana sobre o ambiente: da desflorestação à emissão de carbono e à produção de plástico. 

Capa_Receitas para um mundo melhor (1).jpg

O livro que a Arteplural publicou ontem mostra que é possível mudar o estado do mundo… um prato de cada vez.

"Se conseguirmos mudar as nossas práticas de produção alimentar e os nossos hábitos de consumo, a comida pode tornar-se a solução para um planeta saudável com pessoas saudáveis".

'Receitas para um Mundo Melhor', de Johan Rockström – com Victoria Bignet, Malin Landqvist e Gunhild Stordalen –, está repleto de dicas e receitas para uma alimentação saudável, sustentável e amiga do planeta. Os alimentos que colocamos no nosso prato são a decisão mais importante que podemos tomar em prol da nossa saúde e da saúde do nosso planeta.

Para os autores do livro, a diferença pode ser feita se todos adotarmos três simples medidas: comer mais alimentos de origem vegetal – não tem de se tornar vegetariano, basta reduzir o consumo de carne e optar por carne produzida localmente e em pastos; comer comida feita em casa – as refeições pré-feitas devoram energia, são embaladas excessivamente em plástico e costumam ter gordura, sal e açúcar em excesso; comer com moderação e não deitar comida fora – o facto de o mundo desperdiçar o equivalente a um terço de todos os alimentos que compra não é sustentável em termos morais, ambientais ou climáticos.

'A Peste' em tempos de pandemia… má opção

Book Stories, 20.11.20

Castanhos Quentes Citação Inspiradora Outono Pos

           'A Peste', de Albert Camus, foi publicada pela primeira vez em 1947. Esta edição, a que eu tenho, é da Livros do Brasil e chegou às livrarias em julho deste ano.

 

Sinopse

Na manhã de um dia 16 de abril dos anos de 1940, o doutor Bernard Rieux sai do seu consultório e tropeça num rato morto. Este é o primeiro sinal de uma epidemia de peste que em breve toma conta de toda a cidade de Orão, na Argélia. Sujeita a quarentena, esta torna-se um território irrespirável e os seus habitantes são conduzidos até estados de sofrimento, de loucura, mas também de compaixão de proporções desmedidas.

Uma história arrebatadora sobre o horror, a sobrevivência e a resiliência do ser humano, A Peste é uma parábola de ressonância intemporal, um romance magistralmente construído, que, publicado originalmente em 1947, consagrou em definitivo Albert Camus como um dos autores fundamentais da literatura moderna.

 

Opinião:

Não sabia muito bem ao que ia quando comecei a ler este livro. Aliás, mesmo quando o comprei também não sabia bem qual era a história, mas sabia que o autor era daqueles clássicos que se deve ler e como estava com uma ótima promoção na Feira do Livro, aproveitei.

A verdade é que foi um tormento ler este livro, mas creio que a dificuldade se deveu ao facto de estarmos em fase de pandemia e ‘A Peste’ conta a história de uma cidade que se fecha devido… a uma pandemia.

Tudo começa quando surgem meia dúzia de ratos mortos nas ruas, algo que em pouco tempo toma proporções gigantescas. Fez-me lembrar o início do ano quando a COVID-19 ainda era algo muito pouco conhecido que tinha feito ‘algumas’ vítimas mortais num sítio longínquo. Aliás, a própria diretora da DGS disse que era pouco provável que chegasse a Portugal 🤷

E foi com este sentimento que também os cidadãos de Orão, cidade onde se desenrola a história, encararam os primeiros ratos mortos. “Devem ser os gatos”, pensaram eles.

A verdade é que eles, como nós, foram apanhados desprevenidos e impreparados para o que se seguiu: pessoas a adoecerem, pessoas a morrerem, o comércio a fechar, a cidade a fechar as suas fronteiras; ninguém entrava, nem saía de Orão e com a agravante, quando comparado connosco, que naquela época – anos 40 – não havia telemóveis, nem internet.

Aquelas pessoas viveram uma pandemia sem saberem dos seus entes queridos que estavam fora da cidade.

E Orão é-nos apresentada como uma cidade “feia” e “comum, que não passa de uma prefeitura francesa na costa argelina” na qual os seus cidadãos apenas se interessam pelo comércio para “enriquecerem” - que visão mais cinzenta de uma cidade e dos seus habitantes. Como se uma pandemia não fosse já um cenário negro, a descrição de Orão e dos seus cidadãos torna o conjunto ainda mais deprimente.

 

Personagens

A primeira personagem a cruzar-se com um rato morto é o médico Rieux que é, também, a minha personagem preferida. Ajudou todos os doentes que pôde, sofreu com o sofrimento dos pacientes e das suas famílias, colocando de parte o seu próprio sofrimento, uma vez que a mulher tinha problemas de saúde que foi tratar fora da cidade.

Há também o jornalista Rambert que é, para mim, a personagem mais reveladora daquilo que de melhor tem o ser humano: a sua capacidade de sofrer com o sofrimento dos outros, tornando-o uma pessoa altruísta. Rambert não era natural de Orão, apenas visitou a cidade para fazer uma reportagem, mas teve o azar de estar no sítio errado, no momento errado e, por isso, viu-se obrigado a ficar confinado numa terra que não é a sua, com pessoas que não conhece e, para piorar, deixando o seu grande amor na sua terra Natal. Tentou, por isso, fugir da cidade com a ajuda de alguns elementos que conseguiam 'furar' a fronteira que era vigiada por guardas 24 horas por dia. E o seu altruísmo chega quando tem, finalmente, a oportunidade de regressar a casa.

 

 

classicos-billboard

 

E uma personagem que não compreendi bem foi Grand, o funcionário municipal: um homem de poucas palavras, de poucos amigos e com uma grande dor provocada por um amor que lhe partiu irremediavelmente o coração. A sensação com que fico desta personagem é a de que ela encarna um dos grandes defeitos da humanidade: o querer fazer, o ter muitos planos delineados para colocar em prática mas, por inércia, não fazer nada.

Há mais personagens que têm um papel importante na trama, como o autarca que desvaloriza a situação (onde é que eu já vi isto!!!), o restante pessoal médico que trabalha horas a fio, o investigador que luta para encontrar uma cura e até pessoas que aproveitam a desgraça para, no mercado negro, ganharem dinheiro seja a vender produtos de primeira necessidade que logo esgotaram nas prateleiras dos supermercados, seja a cobrar dinheiro a pessoas que tentam furar a fronteira para fugir de Orão.

 

Paralelo histórico

Fui investigar um pouco e percebi que ‘A Peste’ é uma espécie de metáfora da II Guerra Mundial. Fiz esta investigação depois de ler o livro – não gosto de fazer esta pesquisa antes de ler para não ser influenciada e absorver das obras aquilo que sou capaz por mim mesma, pelo meu raciocínio.

Confesso que não descortinei esta crítica nas entrelinhas à Segunda Guerra Mundial e creio que tal não aconteceu por estar constantemente a fazer uma comparação com os tempos que vivemos.

Mas depois de saber o intuito da obra consegui ler as entrelinhas: a prisão em que as pessoas viveram reclusas nas suas próprias casas; os corpos das vítimas mortais a aumentarem a cada dia ao ponto de as autoridades municipais optarem pela incineração das mesmas; o mercado paralelo (tal como li n’O Tatuador de Auschwitz’) entre outros aspetos.

Uma das coisas que também li sobre o livro é que o mesmo se insere numa espécie de corrente filosófica chamada Absurdismo que, por sua vez, deriva do Existencialismo.

Eu não sou entendida em filosofia e portanto não vou debruçar-me sobre isto, mas, vivendo a época que vivemos, nada do que li me pareceu absurdo, antes pelo contrário, bastante realista.

 

📖

☝️ Pontos PositivosA escrita inteligente e bem preparada

👇 Pontos Negativos: O desgaste de algumas descrições referentes à doença (era como se estivesse constantemente a ler sobre a COVID)

⭐ Avaliação: 3 estrelas (talvez se o tivesse lido antes da pandemia tivesse saboreado melhor o livro)

 

 

Sabiam que Tolstoi fugiu de casa e morreu de frio aos 82 anos?

Book Stories, 19.11.20

Castanhos Quentes Citação Inspiradora Outono Pos

 

Lev Tolstoi é um dos maiores nomes da literatura russa do século XIX e um dos mais reconhecidos escritores de todos os tempos.

Quando preparava a publicação de hoje no blogue descobri um pormenor tão interessante sobre a vida do autor que não resisti em fazer este breve texto para partilhar convosco.

Lev Tolstoi nasceu em 1828 em Yasnaya Polyana, na Rússia. Aos 34 anos casou com Sofia, de apenas 16, com quem teve 13 filhos – o 14º filho de Tolstoi tinha como progenitora uma antiga empregada do escritor.

Segundo os dados que são conhecidos, na noite de núpcias do casal, Tolstoi entregou o seu diário a Sofia para que ela o lesse e ficasse a conhecer as suas aventuras sexuais com outras mulheres.

Em determinada fase da sua vida, Tolstoi cortou relações com a Igreja Ortodoxa Russa. O escritor acreditava nas palavras de Jesus Cristo, mas acusava a Igreja de ter corrompido os ensinamentos de Jesus e acabou por ser excomungado.

Na senda deste percurso espiritual, Tolstoi desapegou-se dos bens materiais e, inclusivamente, abdicou da herança a que tinha direito – tendo-se transformado também em vegetariano, pois acreditava que o consumo da carne moldava a o espírito e a consciência do ser humano.

Face a esta nova postura do marido, Sofia – com 13 filhos para criar – viu-se obrigada a tomar as rédeas da situação familiar e, por isso, escrutinava todas as ações e decisões que o marido tomava no que dizia respeito às finanças.

Cansado de ser controlado pela mulher, Tolstoi, com 82 anos, fugiu de casa a meio da noite, tendo sido encontrado numa estação de comboios em Astapovo (Rússia) gelado e com febre, morrendo poucas horas depois no chão do escritório do chefe da estação.

Pág. 1/3