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Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

'O Tatuador de Auschwitz': Uma história de um amor nascido numa tragédia

Book Stories, 28.09.20

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‘O Tatuador de Auschwitz’, escrito por Heather Morris, foi publicado pela Editorial Presença em 2018.

 

Sinopse:

Esta é a história assombrosa do tatuador de Auschwitz e da mulher que conquistou o seu coração - um dos episódios mais extraordinários e inesquecíveis do Holocausto.

Um romance baseado em entrevistas que Heather Morris fez ao longo de diversos anos a Ludwig (Lale) Sokolov, vítima do Holocausto e tatuador em Auschwitz-Birkenau. Uma história de amor e sobrevivência no meio dos horrores de um campo de concentração, que agradará a um vasto universo de leitores, em especial aos que leram A Lista de Schindler e O Rapaz do Pijama às Riscas, e que nos mostra de forma pungente e emocionante como o melhor da natureza humana se revela por vezes nas mais terríveis circunstâncias.

 

Opinião

Já tinha lido várias coisas sobre Auschwitz, tal como já tinha visto os mais diversos filmes a este respeito.

No ano passado visitei o complexo Auschwitz-Birkenau e o choque foi tão grande que durante quase um ano não voltei a ler nada sobre o tema.

Aproveitei as férias para regressar aquele inferno. A primeira viagem foi através de ‘O Tatuador de Auschwitz’, da autoria de Heather Morris.

Esta não é apenas uma história de uma tragédia, nem uma história de amor: é uma história de amor nascida no meio de uma tragédia; é uma história de perseverança e solidariedade; é uma história que mostra como determinado contexto pode trazer ao de cima o pior de cada ser humano, mas ainda assim, também o melhor de cada um de nós.

Lale é um judeu que é enviado para Auschwitz onde se torna tatuador. O seu trabalho era tatuar números nos braços dos prisioneiros. Dito assim não parece nada de extraordinário, mas a verdade é que aqueles números resumiam aquelas pessoas. Os prisioneiros deixavam de ser pessoas e, para os alemães, eram apenas números.

E foi no decorrer das suas funções que conheceu Gita, o amor da sua vida, por quem fez tudo o que pôde e o que não pôde para melhorar a sua estadia no terrível campo de concentração, de trabalhos forçados, de prostituição forçada e de morte, de muita morte.

Mas não só. Lale arriscou também a sua vida para ajudar amigos que fez dentro do campo.

Por isso é que escrevi que esta é uma história de amor e de amizade, de solidariedade no sofrimento. É uma história de horror e uma história real, infelizmente.

Conclusão:

A análise a esta obra não é fácil. O tema merece cinco estrelas, naturalmente. Mas o estilo de escrita está longe de ser brilhante. A linguagem é simples e demasiado direta e, por vezes, falta algum nexo aos diálogos. Em determinados momentos senti que estava a ler a correr porque a ação passava demasiado depressa, o que faz com que a narrativa perca pormenores e todos sabemos como este tema é rico em detalhes, bons e maus.

Creio que se deve ao facto de ser o primeiro livro que a autora escreve, sendo também justificável com o facto de, inicialmente, esta história ter sido escrita, numa primeira versão, como argumento para um filme.

Ainda assim vale a pena a leitura para conhecermos Lale, Gita e Cilka. 

📖

☝️ Pontos Positivosa história ser quase um diário de Lale, uma vez que a autora conversou com o ex-prisioneiro que, ao longo de três anos, lhe contou o inferno que viveu

👇 Pontos Negativos: A pobreza da escrita

⭐ Avaliação: 3 estrelas (só mesmo por causa da escrita da autora)

 

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Uma ode à velhice com as 'Memórias das Minhas Putas Tristes'

Book Stories, 17.09.20

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Gabriel García Márquez escreveu, em 2004, as 'Memórias das minhas putas tristes'. O livro foi publicado ainda nesse ano nos países de língua espanhola e, um ano depois, foi publicada em Portugal pela Círculo de Leitores (edição na imagem)

Sinopse:

'Memórias das Minhas Putas Tristes' conta a história de um velho jornalista de noventa anos que deseja festejar a sua longa existência de prostitutas, livros e crónicas com uma noite de amor com uma jovem virgem. Inspirado no romance 'A Casa das Belas Adormecidas' do Nobel japonês Yasunari Kawabata, o consagrado escritor colombiano submerge-nos, num texto pleno de metáforas, nos amores e desamores de um solitário e sonhador ancião que nunca se deitou com uma mulher sem lhe pagar e nunca imaginou que encontraria assim o verdadeiro amor. Rosa Cabarcas, a dona de um prostíbulo, conduzi-lo-á à adolescente com quem aprenderá que para o amor não há tempo nem idade e que um velho pode morrer de amor em vez de velhice. A escrita incomparável de Gabriel García Márquez num romance que é ao mesmo tempo uma reflexão sobre a velhice e a celebração das alegrias da paixão.

 

 

Regresso às Aulas com a Bertrand - Large Billboard

 

Opinião:

Mais do que uma história, este livro é uma reflexão sobre a vida, sobre as escolhas que fazemos ao longo da nossa permanência na Terra e, sobretudo, sobre o envelhecer.

Quando um velho jornalista solitário, cuja vida se resume às crónicas que escreve para o jornal local e às relações que manteve com diversas prostitutas ao longo da vida, celebra o seu 90.º aniversário decide festejá-lo de uma forma, chamemos-lhe, interessante.

Interessante porque, no alto dos seus 90 anos, o velho jornalista decide que quer fazer amor com uma jovem linda e virgem.

Será essa jovem que o vai fazer vivenciar experiências que jamais viveu, fazendo brotar sentimentos que jamais sentiu.

É muito interessante porque este velho jornalista vai mostrar-nos o que é ser velho e sozinho, como é viver sem o apoio próximo de alguém, como é viver das suas memórias. E, pese embora o reconhecimento que lhe seja dado por colegas, tal não é suficiente para abafar a solidão que se apodera do seu ser - algo que, do alto da sua prepotência sentimental, sempre achou que não o afetaria.

Os momentos em que convive com a jovem começam por ser engraçados – até constrangedores – mas acabam por se tornar em algo muito mais profundo e bonito.

Gabriel García Márquez conta-nos, neste livro, uma história de amor – quem disse que os seniores não são capazes de amar verdadeiramente, integralmente e puramente?

 

📖

☝️ Pontos Positivosa reflexão sobre o envelhecimento, sobre o que é ser idoso

👇 Pontos Negativos: tem uma escrita tão corrida que, ao princípio, atrapalha um pouco a leitura

⭐ Avaliação: 4 estrelas

 

 

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Entrevista a Andreia Ramos, autora de 'A Defensora do Oculto'

Book Stories, 16.09.20

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Hoje é dia de estrear uma nova rubrica no blogue. Achei que era importante, não apenas divulgar os livros, mas também os autores.

Eu, enquanto leitora, tenho imensa curiosidade em conhecer um pouco melhor as pessoas que me fazem passar horas a fio agarrada a um livro e, por isso, decidi começar a entrevistar os autores.

Assim, esta aventura arranca hoje com a entrevista a Andreia Ramos, a responsável pelo sucesso que dá pelo nome de 'A Defensora do Oculto' e que acaba de lançar o segundo livro da saga!

 

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Quem é a Andreia Ramos? 

Nasci no Barreiro há 25 anos e vivo na Moita. Na secundária segui Línguas e Humanidades para fugir às físicas e químicas da vida, e acabei por me licenciar em Relações Públicas e Comunicação Empresarial, em 2016. Como sempre gostei de escrever, no meu quinto semestre aproveitei para fazer uma cadeira extracurricular de escrita criativa que acabei por adorar. Trabalho há já 4 anos enquanto Assessora de Comunicação e já trabalhei marcas conhecidas, desde a Huawei, Momondo, Quinta do Lago, até outras mais desconhecidas.

Como e quando decidiu escrever livros?

Lembro-me que foi algures no meu 8º ano, no meio da febre do Twilight (pela qual, por acaso, nunca passei) e uma amiga minha mostrou-me que estava a escrever uma fanfic. Foi nessa altura que pensei “espera lá, eu podia fazer isto”. E foi então que comecei também por fanfics, penso que fiz três até passar a escrever originais e publicá-los no blog que tinha na altura e que, entretanto, já apaguei.

Em quê e em quem se inspirou?

Como comecei por escrever fanfics, fui buscar inspiração às séries de que gostava e via na altura, como Charmed e Sobrenatural. Quando passei essa fase, acho que acabei por me inspirar em situações do dia a dia e mesmo imaginar o que gostava que acontecesse.

Porquê escrever sobre o género fantasia? É o seu preferido?

Sempre fui fascinada pelo oculto, magias, etc., e sempre procurei consumir conteúdos ligados a esse tema e, sinceramente, nem sei explicar o porquê desse fascínio. Na altura pareceu-me natural criar mundos repletos de magia onde tudo pudesse acontecer e ainda hoje sou bastante fã do género – sim, porque A Defensora do Oculto foi escrita algures no meu 10º/11º ano, o rascunho pelo menos.

Quantos livros terá saga de 'A Defensora do Oculto'?

Inicialmente estava pensada para ser uma série de quatro livros, que acabei algures durante a faculdade. Entretanto, há cerca de ano e meio, tive a ideia para um 5º e não lhe resisti, tive de a pôr em papel. A verdade é que não estava pronta para dizer adeus àquelas personagens e acredito que com o 5º consigo dar-lhes o final que merecem. Assim, vai ser uma série de 5 livros!

Tem planos para quando encerrar a história de Chelsea? 

O que não me faltam são ideias, mas vou focar-me numa delas e escrever o meu primeiro romance que terá como protagonista uma enfermeira.

Como está a vivenciar o reconhecimento do público?

Nunca pensei encontrar nesta comunidade tanto apoio como aquele que tenho recebido e, por isso, só tenho de agradecer. Até agora, a situação mais engraçada que me aconteceu foi estar a falar com uma rapariga durante algum tempo sobre um livro que ambas tínhamos lido e então ela vira-se e diz “espera lá, tu és a autora da Defensora do Oculto”. Não sei se posso enquadrar isso em “reconhecimento do público”, mas não pude deixar de me sentir orgulhosa. A aceitação do meu livro, e mesmo de mim enquanto escritora, não podia estar a ser melhor!

Quantos livros vendeu? Superou a sua expectativa e a da editora?

Quando decidimos editar, ainda para mais em vanity, há sempre um receio por não sabermos se conseguiremos sequer recuperar o nosso investimento. Não sei quais as expectativas da editora, mas as vendas do primeiro volume da Defensora do Oculto, cerca de 300, superaram bastante as minhas – temi ficar com as caixas cheias de livros em casa e a verdade é que em pouco mais de 3 meses já os tinha vendido todos. 'A Defensora do Oculto II' superou ainda mais! Durante o mês da pré-venda e a primeira semana de venda já tenho 102 exemplares vendidos e/ou reservados – é bom saber que quem leu o primeiro quer continuar a acompanhar a história.

Quais são as grandes diferenças entre os dois livros?

Considero o primeiro um pouco como a introdução a esta aventura, que segue a vida da Chelsea. É o primeiro de cinco e a verdade é que a ação em si, as verdadeiras provas, dificuldades e dores de crescimento ocorrem a partir deste segundo. A história em si, começa agora, e isso faz com que haja também uma alteração a nível da forma de ser das próprias personagens.

A Chelsea teve tempo para amadurecer os métodos de combate e a sua própria personalidade?

Sem dúvida. No fim do primeiro livro (spoiler free) a Chelsea teve um choque. E com esse choque veio a noção do que é na realidade a sua missão e, por isso, embora preguiçosa e desastrada, vemos uma Chelsea mais consciente e esforçada. É uma personagem que ao longo dos cinco livros cresce imenso – quem ler o primeiro e chegar ao fim da série, com o quinto, não terá dúvidas disso.

É possível viver apenas da escrita?

Acredito que é possível viver através da criação de conteúdos – sejam eles livros, artigos, content marketing, redes sociais, etc. Neste momento, em Portugal, um escritor viver apenas dos seus livros é complicado.

Como descreve o estado da literatura nacional.

Acho que a literatura em Portugal é muito elitista – não por parte dos leitores, que felizmente estão cada vez mais abertos à ideia de ler novos escritores nacionais dos mais variados géneros literários, mas sim de quem está à frente de editoras e mesmo de concursos.

O que mudaria no panorama literário nacional?

Gostava que entendessem que tudo tem a sua época. 'Os Maias' foram ótimos, na altura deles; Saramago foi um génio, sem dúvida, mas já não está cá. Com isto quero dizer que o nosso país tem imenso talento ao qual não é dado o devido valor por não se enquadrar no tipo de obras já descontextualizadas da nossa realidade. Gostava que, por exemplo, os livros que os jovens são obrigados a ler nas escolas os deixassem apaixonados pela leitura e não o oposto.

Qual é o grande sonho da Andreia?

Não posso dizer que seja o grande sonho, mas gostava de ser rica o suficiente para poder fazer dos meus hobbies, a minha vida, e ao mesmo tempo criar algo que também ajudasse os outros – o quê? Não sei.

 

 

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A magia das mais belas bibliotecas de Portugal

Book Stories, 11.09.20

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Quem é fã de ler e de livros não tem como não adorar bibliotecas.

Como não gostar daquele cheiro a livros antigos que nos transporta para outros tempos?

Eu adoro bibliotecas, mas as antigas. As modernas são, a meu ver, apenas um espaço com quatro paredes com livros enfiados em estantes. Não há história. Não há cheiro a livros antigos. Não há… magia.

Sim, magia. Porque é esse o poder dos livros: de forma mágica transportam-nos para os mais distantes locais, colocam-nos lado a lado com as mais diversas personagens.

Quando os livros são efetivamente bons é como se estivéssemos sentados numa esplanada a beber com café com determinada personagem que nos conta a sua história; é como se caminhássemos por ruas de cidades às quais nunca fomos, mas que, ainda assim, visualizamos a cor dos edifícios e o aroma das flores dos jardins.

É por causa desta magia que adoro bibliotecas antigas. São verdadeiras obras arquitetónicas que escondem uma máquina do tempo que nos leva aonde quisermos ir.

Por tudo isto decidi falar-vos das cinco bibliotecas antigas portuguesas que eu considero as mais bonitas, as mais mágicas (inclui a Torre do Tombo neste top 5 pela sua importância documental).

Será que vão concordar comigo?

 

Biblioteca Joanina, Universidade de Coimbra

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Edificada durante o reinado de D. João V, a Casa da Livraria passou a denominar-se Biblioteca Joanina em homenagem ao rei, seu patrono.

Situada no pátio da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, a sua construção remonta ao século XVIII e apresenta um acentuado estilo rococó, o que a torna numa das mais bonitas e originais bibliotecas barrocas de toda a Europa.

A construção arrancou em 1717 e só foi terminada em 1728, tendo sido financiada pelas riquezas do então império português, especialmente pelo ouro oriundo do Brasil. Já a decoração pintada só foi realizada anos mais tarde, pouco antes da Reforma Pombalina.

A Biblioteca Joanina alberga mais de 200 mil volumes, 40 mil dos quais no andar nobre, o único, dos três pisos do edifício, aberto ao público. Aí se conservam os principais fundos de Livro Antigo (documentos até 1800).

Durante a noite, e este pormenor é delicioso, soltam-se morcegos no interior da biblioteca. Estes pequenos animais têm a missão de comer traças, moscas e outras pragas que destroem os livros. Por outras palavras, os morcegos são os grandes responsáveis por os livros se encontrarem intactos.

 

Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra

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A construção desta biblioteca, que reúne uma coleção de mais de 40 mil livros com encadernações em couro gravas a ouro remonta também ao reinado de D. João V.

A biblioteca tem 88 metros de comprimento e uma planta em cruz e alberga volumes sobre tudo um pouco, desde medicina a filosofia, passando por direito, dicionários e gramáticas, entre muitos outros temas.

Entre os exemplares que são verdadeiras raridades contam-se uma primeira edição d’Os Lusíadas e do Alcorão de 1543 e até de uma Bíblia poliglota de 1514.

Tal como na Biblioteca Joanina, também aqui uma colónia de morcegos tem liberdade para andar pelo local durante a noite, comendo todos os insetos que destroem os livros.

 

Biblioteca da Academia de Ciências de Lisboa

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Esta é uma das mais importantes bibliotecas do país, uma vez que ao próprio espólio junta-se o conjunto de obras oriundo da Livraria do Convento Franciscano de Jesus que foi entregue pelo Estado à Academia depois de terem sido extintas as Ordens Religiosas, em 1834.

A biblioteca reúne um valioso conjunto de obras científicas de importantes personalidades como Newton, Buffon e Kepler, entre outros.

Aqui encontram-se também as mais diversas obras de filosofia, literatura, arte e teologia, tal como importante documentação portuguesa.

Uma das peças mais antigas desta biblioteca é um pergaminho do início do séc. XII com uma doação da rainha D. Teresa e seu filho, D. Afonso Henriques, havendo também outras peças dos séculos XIV, XV e XVI.

 

Biblioteca da Cruz Vermelha Portuguesa, Lisboa

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Esta é uma novidade para mim, uma vez que não tinha conhecimento da sua existência. O melhor de escrever estes textos é que também eu aprendo e descubro diversas coisas.

Bom, voltando ao que interessa: esta biblioteca foi inaugurada em 1935 no Palácio da Rocha do Conde de Óbidos (onde é atualmente a sede da Cruz Vermelha), sendo que se trata de uma réplica do Salão Nobre da Academia de Ciências de Lisboa.

No tecto encontramos pinturas alegóricas às Artes Liberais e um painel onde figuram a rainha Santa Isabel, o rei D. Dinis e o príncipe D. Afonso. Destaque ainda para o grande lustre de cristal que se pode ver ao centro da biblioteca e que foi produzido pela famosíssima Fábrica da Marinha Grande.

No que respeita aos livros são mais de 20 mil os que desfilam nas estantes, sendo os temas dominantes as obras sobre o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e o Direito Internacional Humanitário.

 

Torre do Tombo, Lisboa

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Esta é uma biblioteca diferente das restantes, pois é o arquivo central do Estado Português onde estão albergados os mais importantes documentos históricos portugueses.

Muitos manuscritos e documentos perderam-se ao longo dos tempos devido ao terramoto de 1755, à mudança da corte para o Brasil, ao domínio filipino e às invasões francesas.

Entre 1378 e 1755, este importantíssimo arquivo da história de Portugal esteve albergado numa torre do Castelo de São Jorge, mas devido ao terramoto que a danificou, os documentos foram transferidos para o então Mosteiro de São Bento (onde é atualmente a Assembleia da República) onde se mantiveram até 1990 quando foi construído o moderno edifício na Cidade Universitária de Lisboa.

A Torre do Tombo ocupa uma área de 54.900 metros quadrados, tem cerca de 100 quilómetros de prateleiras e atua em três áreas distintas: arquivo e investigação, atividades culturais e serviços administrativos.

 

 

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Pura diversão com 'A Defensora do Oculto'

Book Stories, 09.09.20

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'A Defensora do Oculto' é o primeiro livro publicado por Andreia Ramos, uma jovem portuguesa de 24 anos. A obra, da Chiado Books, foi publicada em julho do ano passado e está à venda por, sensivelmente, 16 euros. O segundo volume da saga é publicado este mês.

 

Sinopse:

Chelsea Burke aparentava ter uma vida completamente normal: a sua aselhice e a capacidade inata de nunca chegar a horas a nada faziam parte do seu charme natural. Mas, no momento em que encontrou aquele pingente roxo abandonado no chão, tudo mudou para sempre.

Agora, a bela ruiva de caracóis longos terá de aprender a lutar e saber mais sobre a história da Luz e da Escuridão para poder sobreviver, abraçar o seu destino e recuperar a glória e a memória de outros tempos.

Entre um amor escondido e seres assustadores, a questão que se coloca é: como irá esta rapariga desastrada e assustadiça assumir o seu papel enquanto Guerreira Defensora contra o Oculto... ao mesmo tempo que evita chumbar a Inglês?

 

Opinião:

Comecei a ler este livro com algumas reservas, pois não é um género literário que me atraia.

No entanto, não posso dizer que me tenha desiludido. Antes pelo contrário: divertiu-me imenso.

Com as primeiras páginas fiz logo uma ligação à saga 'Crepúsculo': a miúda desajeitada que conhece um rapaz lindo na escola. O facto de a casa da Chelsea ser à beira de um bosque também me fez recuar uns bons anos no tempo para regressar a Forks e à casa da Bella.

Mas logo a saga de Stephenie Meyer ficou para trás. Assim que li a primeira transformação da Chelsea na Defensora do Oculto a minha mente transportou-me para… 'As Navegantes da Lua'. A cereja no topo do meu bolo era se Chelsea tivesse uma frase-chave, como tinha a Bani, algo do género “em nome do oculto, vou castigar-te”.

E isto não foi tudo. Tal como n’As Navegantes da Lua', aqui também há um Mascarado que aparece sempre para salvar a indefesa heroína.

O que me diverti com esta leitura.

À parte das semelhanças com a série infantil que foi transmitida em Portugal nos anos 90 (e creio que repetida posteriormente), o livro está bem escrito. Nota-se que é a primeira obra publicada da autora, pois existe uma utilização de ‘muletas literárias’ que só a experiência ajuda a contorná-las.

A escrita é simples, tanto que me pareceu um livro dirigido ao público juvenil, pese embora o género fantasia não seja um exclusivo deste tipo de público. Mas este aspeto não é necessariamente mau, nem bom. É o que é.

A história, também ela simples, envolve, especialmente nas páginas mais finais em que acontece um embate cujo final é, por um lado esperado, porque a Chelsea é a heroína da história e, por isso, não poderia terminar de outra forma, por outro lado é desafiante para a própria autora, na medida em que me deixou a pensar como será a continuação desta história.

Não é o melhor livro que eu já li, nem a história mais interessante que já me passou pelos olhos. No entanto, é um livro escrito com convicção e – arrisco dizer – com o coração.

Mais importante do que a construção e a capacidade de escrita da Andreia é a mensagem subjacente nesta história: a coragem, o sacrifício, o preconceito.

 

Ela sabia que não prestava para ser a Defensora do Oculto.  Qualquer pessoa seria melhor do que ela para esse feito. E, por isso, Chelsea não percebia por que razão o pingente a tinha escolhido

 

Tendemos, enquanto seres humanos, a não (querer) ver o sacrifício das pessoas para serem o que são, para fazerem o que fazem. Tendemos a acreditar que 'aquela' pessoa, por ser o que é e por ter o que tem, 'nasceu com os olhos virados para a lua', como se tudo fosse obra do simples mero acaso.

Mas não. As pessoas (a larga maioria) esforçam-se diariamente para serem melhores, para agradar à comunidade que nem imagina o esforço que existe por trás da pessoa que veem, da pessoa que ouvem.

Em suma, 'A Defensora do Oculto' é um livro que se lê rapidamente porque a escrita não dificulta e a narrativa flui.

Com isto resta-me dizer que lerei a continuação desta saga com a esperança de que haja um update na forma de escrever da autora para subirmos ao próximo nível.

 

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☝️ Pontos Positivosescrita simples, história fácil, bom para desanuviar a mente, mensagem bonita

👇 Pontos Negativos: escrita demasiado simples, o que torna a obra um pouco simplista.

⭐ Avaliação: 3 estrelas

 

 

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O 'Azul Instantâneo' é um livro sem regras que se lê como se quiser

Book Stories, 03.09.20

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Este é um livro completamente diferente do que estou habituada a ler. Não só porque não tem um género literário específico, como graficamente é também ele distinto das restantes obras.

É interessante sair da nossa zona de conforto e foi isso que fiz quando o autor, Pedro Vale, gentilmente, me enviou o livro para que eu o pudesse ler e analisar.

 

Como um figo e atiro a chave ao poço mórbido

 

Por se tratar de um livro diferente decidi não seguir o padrão das minhas reviews, até porque não seria fácil fazê-lo pois o ‘Azul Instantâneo’ não conta uma história, nem tem personagens.

Mas isto à primeira vista.

 

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Porque quando paramos para pensar nos poemas e textos soltos que estamos a ler percebemos que as personagens somos nós e que a história é a nossa (se assim o quisermos entender).

Sim, porque trata-se de um livro composto por reflexões do autor que acabam por nos fazer refletir também.

 

Liberto a palavra e solto o pulso

 

Estas reflexões, como o próprio Pedro Vale explica, foram escritas e publicadas na sua página de Facebook entre 2016 e 2017.

Posteriormente, o autor decidiu organizá-las e dar-lhes uma nova cara ao uni-las num livro, numa obra em tudo diferente que não respeita os cânones literários reconhecidos.

 

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Não me entendam mal, pois não estou com isto a utilizar um tom pejorativo. Estou antes a dizer que este livro é uma evolução a nível gráfico, uma espécie de modernidade do livro moderno, uma espécie de Livro 2.0.

 

O rio não corre, só o pensamento

 

E a leitura destes excertos corre de forma rápida, fluída e até divertida. Mas se quisermos refletir sobre o que estamos a ler e, pior ainda, se quisermos (tentar) entrar na mente do autor, então o caminho torna-se bastante sinuoso, pois – pelo menos eu – na maioria dos desabafos não consegui alcançar a mensagem subjacente.

 

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'A Oficina dos Livros Proibidos' e mais apetecidos

Book Stories, 01.09.20

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'A Oficina dos Livros Proibidos', de Eduardo Roca, foi publicada em Portugal pela Marcador em 2013.

 

Sinopse:

Colónia, alvores do século XV. Ares de reforma e de mudança assolam uma Europa governada ainda pelas superstições e velhas crenças. A difusão do saber está em poder de uns poucos. No entanto, um pequeno grupo de sábios e eruditos que se reúne na mais absoluta clandestinidade está ligado por uma ambição comum: a transmissão cultural ao povo. Como? Através dos livros. Antes, porém, terão de se esquivar das reticências da Igreja - que não deseja que obras «perigosas» como os Evangelhos cheguem ao povo - e das dos nobres - que não querem perder os seus privilégios. Só um homem, um modesto ourives chamado Lorenz, ajudado pela filha, será capaz de aceitar o desafio. Mesmo que o preço que poderia pagar por semelhante ousadia seja o mais caro: a sua vida e a de todos aqueles que o rodeiam.

 

Opinião:

A sinopse do livro encantou-me, especialmente pelo tema, mas o mesmo não pode ser dito da obra em si.

A premissa principal da história é a divulgação cultural e literária no século XV praticamente inexistente, uma vez que a cópia de livros era uma função quase exclusiva do clero. Os interesses instalados há séculos queriam manter este cargo como apenas seu, uma vez que o saber é uma forma de libertação e não lhes convinha que as classes mais baixas da sociedade tivessem acesso a informação, pois tal implicaria uma inevitável revolta no saber e nos costumes.

Aliás, o livro que a Igreja mais temia que fosse copiado em larga escala era, precisamente, os Evangelhos, pois eles perderiam o poder de moldar a interpretação dos crentes à sua medida.

 

As personagens

Assim, Eduardo Roca apresenta-nos Lorenz, um jovem viúvo que vive com a filha Erika e que trabalha numa oficina de ourivesaria. Antes de se ter tornado aprendiz de ourives, Lorenz tentou a sua sorte candidatando-se a um cargo de copista, mas por uma razão que não vou revelar não pôde seguir o seu sonho.

Nikolas, por sua vez, é um homem misterioso, conceituado e respeitado entre a alta sociedade de Colónia. É o dono de uma oficina de copistas e o escolhido pelos nobres da cidade para a cópia de grandes obras. Mas Nikolas é também o dono de uma outra oficina, esta ilegal, e é também protagonista de uma história que só é dada a conhecer na segunda metade do livro.

Há ainda o jovem Alonso, surdo, que crescerá ao longo da história enquanto personagem e enquanto homem.

Existe um enorme número de personagens que apenas faz aumentar o número de páginas do livro, contribuindo para uma certa confusão – confesso que, pela primeira vez, tive de fazer apontamentos para saber quem era quem!

Mas há também personagens interessantes que, pelas suas vivências e diferenças sociais, tornam a história cativante, como é o caso de Helmuth, que trabalha para Nikolas e cuja história me começou a interessar para depois ter um fim que me desiludiu (odeio quando começo a gostar das personagens em vão); existe também a dona de uma hospedagem (que personifica o quão dura era a vida de uma mulher viúva naqueles tempos), os vizinhos de Lorenz e de Érika e o padre Martin, aquele que nos faz ter alguma esperança nos membros do clero. No entanto, há também o arcebispo Von Morse que é o ‘diabo feito em gente’ e que apenas lhe interessa o seu prestígio e poder (lá se vai a esperança na instituição Igreja).

 

A história

Os primeiros capítulos permitem-nos conhecer Lorenz, o seu trabalho, a sua história e a sua filha. O seu gosto pela leitura vai levá-lo a conhecer um grupo de homens intelectuais que têm como objetivo partilhar informação, para que esta não morra entre as mãos do clero, da nobreza e da realeza.

Este gosto vai levá-lo a criar uma máquina perigosa: perigosa para a sua vida, para a vida dos que o rodeiam e para a sociedade tal como é conhecida e o leitor consegue acompanhar com grande deleite as várias fases deste processo.

O autor preocupou-se em contar-nos a história de praticamente cada uma das personagens, o que arrasta um pouco a leitura.

Aliás, a narrativa é lenta ao longo das 559 páginas, acelerando à medida que nos aproximamos do fim. Além de lenta torna-se cansativa porque existem demasiadas personagens, sem importância de maior para a história a quem são dadas honras de capítulos próprios, como é o caso do burgomestre Heller, dos piratas e de um pobre mercante caído em desgraça para que Heller safasse a sua honra política.

Durante as quase 600 páginas que tem o livro acompanhamos não só a história e a façanha de Lorenz, como nos apercebemos dos jogos de interesses existentes entre o arcebispo e vários nobres, bem como as chantagens existentes entre homens de poder, ou seja, o pior da sociedade humana.

É interesssante como a Erika vai crescendo, enquanto mulher e personagem, e nós nem nos damos conta. Só quando nos aproximamos do fim é que percebemos que, afinal, ela sempre foi importante, sempre esteve lá.

 

De nada serve a sabedoria se não juntarmos um coração nobre

 

 

Conclusão

O final da história foi um pouco repentino e até romanceado demais, tendo em conta a crueza de toda a narrativa. Mas quando filtramos o livro das personagens desnecessárias e dos diálogos infrutíferos, o que fica é um bom livro com uma premissa muito importante: o poder do conhecimento.

Eduardo Roca consegue, com esta obra, fazer-nos refletir sobre como era a vida antes da revolução da imprensa e mostrar-nos quão constrangidas de conhecimento viviam as classes baixas naquela época.

Sem dinheiro, sem recursos, a viver na miséria e sem saber ler. Era assim que o clero os queria, pois era isso que lhes permitia manter o poder que lhes havia sido confiado. Tal como a nobreza e grande burguesia.

 

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☝️ Pontos Positivos: a reflexão sobre a sociedade do século XV e como a evolução foi positiva para o mundo; a importância da difusão do conhecimento.

👇 Pontos Negativos: Demasiadas personagens, muitas sem grande importância para a trama, que atrasa a leitura e confunde o leitor.

Avaliação: 3,5 estrelas

 

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