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Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Book Stories 2.0

Porque todos os livros contam uma história

Uma 'Serpentina' que serpenteia demais

Book Stories, 30.06.20

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Fiquei fã do Mário Zambujal depois de ter lido ‘Já não se escrevem cartas de amor’ (review aqui). Logo comprei outro e uma amiga, a Sofia,  emprestou-me o ‘Serpentina’. O estilo de escrita é o mesmo: simples e fluída.

Em ‘Serpentina’ acompanhamos a vida atribulada de Bruno Bracelim, um homem criado pela madrinha Henriqueta que, por razões pouco desenvolvidas, se afasta da família. Bruno busca a mulher da cara perfeita, com traços perfeitos que lhe conquistem o coração e a alma, ao mesmo tempo que se vê envolvido numa trama de fazer lembrar os filmes de Hollywood: aluga a sua casa a um estrangeiro que se vem a saber pertencer a um gangue e que roubou uma mala cheia de dólares.

Entre percalços, alguns regressos ao passado, Bruno, sem querer, desvenda o mistério da mala ao mesmo tempo que lha roubam.

 

 

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A ausência familiar não é um tema muito desenvolvido, mas a certa altura aparece o irmão e a cunhada: a mulher das feições perfeitas. Bruno tem uma breve paixoneta que controla depois de falar com o amigo Noé Quase Padre que lhe acalma os ímpetos e lhe lembra que a bela sem senão é a sua cunhada.

Ao longo do livro, Bruno tem ‘encontros’ furtivos com a vizinha do prédio da frente. Só se veem a partir dos respetivos terraços até que ele decide falar com ela no café onde costuma tomar o pequeno-almoço: uma troca de palavras, um passeio por Lisboa e pronto, está o romance feito. Bruno dorme em casa dela e no dia seguinte vai buscar as suas coisas a casa e muda-se!

É uma história engraçada, mas não cativa. É um livro que se lê num instante (150 páginas), mas que não entra para o top dos melhores livros que já li.

A narrativa é um pouco confusa e, para mim que não gosto de fantasias, não me apraz!

E tem pormenores estranhos, como escrever estrangeirismos em português: afetercheive, bodimilque, jines, chortes, tichârte ou blêizer. Não entendi o porquê deste registo que até é engraçado, mas que emperra um pouco a leitura.

Ainda assim, continuo a ser fã do Mário 😉

📖

☝️ Pontos Positivosa trama ao estilo Hollywood, divertida e bem-humorada

👇 Pontos Negativos: diálogos por vezes sem grande nexo e de difícil compreensão sem contexto

⭐ Avaliação: 3 estrelas

 

 

#LERÉPODER Jun 2020 | Large Billboard

Uma 'Ofensa' incompreendida

Book Stories, 23.06.20

Afonso não suporta ver ninguém sofrer. Carrega c

 

Regressei aos livros sobre a Segunda Guerra Mundial.

‘A Ofensa’, escrita por Ricardo Menéndez Salmón, conta a história do jovem alfaite alemão Kurt Crüwell que, em 1939, é chamado a integrar o exército nazi.

A separação da família e da namorada judia, Rachel, é o primeiro momento de marcado sofrimento para Kurt que, como tantos milhares de jovens, se vê obrigado a integrar as fileiras de uma guerra que veio a acabar com a vida de milhões de pessoas.

Kurt acaba por ser motorista de um militar graduado, Hauptmann Löwitsch, o que poderia ser algo positivo, pois era uma função que o afastava do conflito direto. No entanto, revelou-se o maior pesadelo de Kurt que assistiu ao homicídio de dezenas de pessoas que morreram queimadas dentro de uma igreja, em França, por ordem de Löwitsch.

O choque de assistir a tal crueldade atirou Kurt para um estado difícil de explicar. O jovem alemão perdeu a capacidade de sentir. Não sentia medo, não sentia frio, não sentia felicidade, não sentia tristeza. Kurt entrou num estado de coma espiritual, se assim se pode dizer, e foi enviado para um hospital francês. Um médico, Jean-Jacques Lasalle, apieda-se do seu estado que lhe gera comoção e, ao mesmo tempo, curiosidade, pois é neurologista e jamais havia tido um paciente com o problema de Kurt.

 

 

 

Ao longo de um ano, o jovem alemão não faz qualquer progresso, mesmo com a ajuda de uma enfermeira que se apaixona por ele e que com ele foge quando a Resistência ataca o hospital. Lasalle salva Kurt que foge com a sua identidade para Londres, na companhia da enfermeira Ermelinde.

Até aqui posso dizer que gostei e li com bastante sede todas as páginas que ia folheando. Mas é então que começam os problemas para mim e que culminam com o fim do livro que eu ainda estou a digerir e para o qual me faltam as palavras.

O tempo passou, a guerra acabou, Kurt (agora conhecido como Lasalle) sabe que vai ser pai, mas segue umas pessoas, entra numa mansão e descobre o esconderijo dos nazis que não padeceram na guerra, entre eles Löwitsch, o homem que o atirou para aquele lugar onde não existem sentimentos, nem bons, nem maus.

Cai-lhe uma lágrima – parece que o choque de ver Löwitsch o tornou novamente capaz de sentir – e cai no chão.

“O alfaiate está morto”, diz Löwitsch e termina o livro.

📖

☝️ Pontos PositivosA viagem pelos sentimentos de um jovem obrigado a disputar uma guerra que não lhe diz nada, mas à qual não lhe é possível fugir.

👇 Pontos Negativos: Não me faz muito sentido a forma como Kurt abandona a mulher grávida para seguir umas pessoas estranhas

⭐ Avaliação: 3 estrelas

 

 

Young Adult 2020 | Até 50% em Cartão - Billboard1

Vozes de Chernobyl

Book Stories, 16.06.20

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“Eu mudava aquele lençolzinho todos os dias e todos os dias ao fim da tarde ele estava coberto de sangue. Levanto-o e fico com pedaços da sua pele nas mãos, colam-se-me às mãos”

Liudmila Ignatenko, mulher do falecido bombeiro Vássili Ignatenko

 

*Este é dos primeiros testemunhos que lemos no livro. Todo o livro é um conjunto de testemunhos de pessoas que viviam nas imediações de Chernobyl. Pessoas que ficaram doentes, que viram os seus maridos e filhos morrerem. Mulheres que engravidaram e deram à luz crianças com deficiências que as levaram à morte e que, por medo, não voltaram a engravidar.

 

“Os robôs não resistiam, os meios técnicos enlouqueciam. Acontecia que o sangue corria dos ouvidos e do nariz. Arranhava na garganta. Uma sensação de areia nos olhos. Mas trabalhávamos bem e tínhamos muito orgulho disso”

Artiom Bakhtiyárov, praça

 

*Os chernobylianos, são assim conhecidas as pessoas afetadas pelo acidente nuclear, viram a sua vida mudar de uma forma trágica, sem que lhes tivessem dito a verdade: os riscos que implicava viver na ‘zona’, os riscos que comportava trabalhar naquele local para conter a tragédia. Sentiam-se heróis, mas não tinham noção do que lhes iria acontecer a breve trecho.

 

“A cada meia hora é preciso espremer-lhe a urina com as mãos, a urina é excretada através de orifícios pontilhados na região da vagina”

Larissa Z., mãe

 

*Milhares de crianças nasceram com profundas deficiências, como é o caso desta menina que nasceu sem o orifício do ânus e da vagina e sem um rim. A mãe vive para cuidar dela e a menina vive nos hospitais, a ser alvo de cirurgias frequentes.

 

“O mundo está dividido: existimos nos, chernobylianos e existem vocês, todas as outras pessoas”.

Nikolai Prókhorovitch Jarkov, professor

 

*E assim permanecerá durante várias gerações, pois os efeitos da radioatividade sentir-se-ão durante muitos e muitos anos. Estas pessoas, deslocadas, retiradas das suas casas para outras cidades vão ser sempre vistas como chernobylianas, como pessoas diferentes, seja física – por razões de doença – seja psicologicamente, pelos traumas que o acidente nuclear provocou.

 

“Tenho 12 anos. As raparigas da minha turma quando souberam que tinha cancro no sangue tinham medo de se sentar ao meu lado. De me tocar. Os médicos dizem que adoeci porque o meu pai trabalhou em chernobyl e eu nasci depois. Mas eu gosto do meu papá”

Uma menina de 12 anos, doente por causa da radiação

 

 

20% a 50% IMEDIATO em TODOS os livros, exceto novidades | 16/06/2020 (Billboard)

 

 

Este é um livro muito duro, mas que todas as pessoas deveriam ler. As séries e filmes não mostram com a necessária crueza com que a autora Svetlana Alexievich o faz.

É muito triste ler como as pessoas sofreram. Como um acidente mudou para sempre milhares de vidas. Mas é mais triste ver ainda como o cidadão comum vale muito pouco para o Estado, que deveria ser o seu maior protetor. Muitos chernobylianos morreram porque o Comité Central não distribuiu máscaras de gás para… não provocar o pânico.

Homens, jovens, foram enviados para trabalhar no reator com a promessa de um bom salário. Pobres coitados. Não faziam ideia o que lhes estava a acontecer e as autoridades não lhes contavam. Ficaram sem saúde e sem as prometidas recompensas.

E aqueles que levantassem questões sobre a perigosidade da missão eram ameaçados.

A Rússia simplesmente voltou as costas aos seus cidadãos.

Uma vergonha.

Uma miséria.

📖

☝️ Pontos Positivos: Dar a conhecer as vozes de quem vive sem voz e a quem ninguém preocupa. Ter a perceção como as autoridades foram insuficientes, incapazes, incompetentes e egoístas. Preocuparam-se mais com a reputação da URSS do que com os seus habitantes, o que resultou na morte de milhares de pessoas.

👇 Pontos Negativos: Não tem

Avaliação: Não vou avaliar porque não se trata de uma obra de ficção, mais ou menos real. Trata-se de testemunhos verdadeiros, honestos e crus.

 

Retrato de uma espia

Book Stories, 11.06.20

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Sempre que leio opiniões sobre Gabriel Allon, o super-espião criado por Daniel Silva, logo encontro comparações a James Bond, a Jack Bauer e a tantos outros espiões do cinema. E isto acontece por uma razão muito simples: Daniel Silva tem o poder de nos transportar para a trama e para o desenlace de um enredo sempre imprevisível.

‘Retrato de Uma Espia’ é, novamente, um desses exemplos. Gabriel, o espião ‘auto-afastado’ dos serviços secretos israelitas, envolve-se novamente na teia do terrorismo quando procura impedir um ataque em Londres.

Quando começamos a ler o livro nunca imaginamos a volta que a história vai dar. Passamos por Londres, Cornualha, Paris, Washington, Arabia Saudita, Dubai, e é como se viajássemos com Gabriel em cada desafio que lhe é apresentado.

Desmantelar uma rede terrorista é o primeiro desafio, identificar um ‘novo Bin Laden’ o objetivo, proteger uma vida inocente que pertence ao passado de Gabriel Allon a sua grande missão.

 

 

Young Adult 2020 | Até 50% em Cartão - Large Billboard2

 

O pormenor que torna este livro delicioso é o regresso de personagens de outros livros e, no entanto, o fascinante das histórias escritas por Daniel Silva é que não temos necessariamente que ter lido os livros anteriores para perceber quem é Shamron, Uzi Navot, Adrian Carter ou como Gabriel vive ‘aprisionado’ à missão, envolvendo-a também na sua grande paixão de restaurador de arte.

Entre os ensinamentos que recebemos sobre grandes pintores e técnicas de restauração, aprendemos também muito sobre o Médio Oriente, o islão, o terrorismo jihadista, as relações da CIA com outros organismos secretos.

O final é surpreendente, como sempre... e iniciamos com um Gabriel resistente, destemido, audaz para um Gabriel reflexivo, ausente e isolado face ao desenlace da trama e da proteção à sua educada espia.

Mais uma vez termino uma missão de Allon com um fascínio pela espionagem e pelo mundo que está mesmo ao nosso lado e que fingimos que desaparece.

📖

☝️ Pontos Positivos: Como todos os livros, os esclarecimentos constantes sobre cada detalhe cultural, social e de religião do que envolve o terrorismo, tornando a leitura muito culta.

👇 Pontos Negativos: É uma trama extensa com diversos detalhes sobre a vida das personagens. Leva mais tempo a ler pela necessidade de não perder a trama.

Avaliação: 4.5 estrelas (em 5)

✍🏻 Passagem do livro: 

"Ainda não é demasiado tarde Mikhail - disse por fim - Vá lá saber-se porquê, mas ela continua apaixonada por ti. Até um parvo como tu tem obrigação de perceber isso.   

- As coisas não vão resultar connosco.  

- Porquê? (...) Porque queres viver desta maneira?   

- Olha quem fala (...) Ela pediu-te para dizeres alguma coisa?   

- Matar-me-ia se soubesse disto.   

- E o que é que ela te disse, de facto?   

- Que te portaste bastante mal (...) Uma coisa que juraste que não ias fazer.   

- Eu não a maltratei, Gabriel... Eu só...     

- Passaste por um inferno na Suiça (...) Faz-me um favor quando isto tudo terminar (...) passa algum tempo com ela. Se há alguém no mundo capaz de compreender aquilo que passaste é Sarah Bancroft. Não deixes que ela te escape por entre os dedos. Ela é especial.  

Mikhail sorriu de forma triste, como os jovens sorriem sempre para os velhos tontos."

Já não se escrevem cartas de amor

Book Stories, 07.06.20

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Mais um livro comprado graças à quarentena. Li-o em três ou quatro dias, ou melhor, em três ou quatro serões depois do jantar.

É daqueles livros que te faz querer ler mais e mais, sendo muito difícil parar porque queres sempre saber o que vai acontecer a seguir.

O narrador, que é também a personagem principal, recorda nostálgico a sua juventude passada nos anos 50.

Começamos no tempo presente, com o Duarte dos dias de hoje. A afilhada vai tratando dele, enquanto aguarda o regresso do amor da sua vida a casa.

 

 

#LERÉPODER Jun 2020 | Billboard

 

Logo viajamos até aos anos 50, a uma Lisboa de idas ao cinema e às boîtes e de “chás dançantes”; a uma Lisboa de que já há poucas memórias vivas e de que poucos livros se debruçam.

Este livro fez-me pensar que Portugal tem uma história recente tão rica e que, mesmo assim, é tão subaproveitada. Não há muitos autores que nos façam viajar ao Estado Novo de forma romanceada, mostrando-nos como era o país naquela época através de personagens fictícias com uma grande dose de realidade.

A escrita é muito simples, divertida, bem-humorada e por vezes presenteia-nos com expressões da época. A narrativa é envolvente. A história é deliciosa e a determinado momento damos por nós a pensar quem é a final o amor da vida do Duarte que, em dia de tempestade, teima em demorar no regresso a casa, deixando-o preocupado.

Passei o livro todo a tentar descobrir quem era afinal ‘A’ mulher e quando soube - nas últimas duas linhas do livro - as lágrimas nublaram-me a visão.

Como adorei este livro ♥️

☝️ Pontos positivos: A escrita é simples - apesar de usar termos próprios da década de 50 - e fluída. Tem sentimento e humor

👇 Pontos negativos: Não encontrei

Avaliação: 4,5 estrelas (em 5)

✍🏻 Passagem do livro:

"A vida não passa de um entretanto"

Todos os dias morrem deuses

Book Stories, 04.06.20

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Assim que li a sinopse do livro 'Todos os dias morrem deuses' pensei “este livro é a minha cara”: anos 50, um jornalista em pleno Estado Novo, a morte de Estaline e a ‘guerra de sucessão na Rússia’.

Como não gostar? 

Bom, não posso dizer que tenha odiado o livro ou que tenha desgostado de todo, mas soube-me a demasiado pouco.

Os capítulos são demasiado curtos e quando terminam fica aquele 'gostinho' de 'quero mais', o que até poderia ser mitigado mais à frente, mas não.

 

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Se num capítulo se fala da morte de Estaline, no seguinte fala-se da relação amorosa da personagem principal e o capítulo a seguir já é sobre como o jovem jornalista de Internacional tem de florear as suas notícias para conseguir que a Censura as deixe publicar. Só estes pormenores dava para mais meia dúzia de capítulos que nos fizesse viajar ao Estado Novo.

Este livro podia ter sido muito mais, é tudo muito à pressa. O autor não explora os acontecimentos na Rússia, como não explora a vida pessoal do jornalista, como não explora a relação dele com a mãe.

A história tinha todos os ingredientes para fazer deste livro um grande livro, mas ficou muito, diria até demasiado, aquém. 


☝️ Pontos positivos: a declaração de amor à mãe que este livro representa

👇 Pontos negativos: o não desenvolvimento das histórias dentro da história. Tudo é dado a conhecer ao leitor de uma forma muito simplista, demasiado simplista

Avaliação: 3 estrelas (em 5)

✍🏻 Passagem do livro:

"Os grandes homens têm sempre paisagens magnificentes diante de si e, por isso, sonham e rompem as amarras"

 

#LERÉPODER Jun 2020 | Large Billboard